Expresso Transcroniano - Parte 9
* A Lanterna Mágica *
Ele se dirigia rápido à sede da BBC, a convite daquele curioso escocês. O conhecera 15 anos atrás, quando o amigo começava a fazer experiências com seu novo invento. Não se impressionou a princípio: Verne havia imaginado algo bem melhor em suas previsões. Mas era um bom começo...
Quinze anos depois, em maio de 1939, ele voltou a procurar o amigo John Logie Baird, que parecia não se conter de alegria do outro lado do telefone: seu sistema de varredura mecânica de imagens, colorido e com 630 colunas verticais, acabara de ser aprovado pela BBC na competição com o sistema eletrônico de Marconi, monocromático e com meras 405 linhas de varredura horizontal. Estava ansioso para apresentar a novidade ao francês, talvez para tentar se desculpar da péssima impressão inicial que Verne, muito educadamente, tentou disfarçar. Mas Baird era bem perspicaz em perceber expressões faciais mínimas.
Além disso a BBC já anunciava ao mundo todo aquela novidade, há umas duas semanas. Nenhum detalhe adicional, simplesmente uma boa imagem colorida de nossa lua (ainda no antigo sistema de 150 colunas coloridas) e os dizeres em francês, que já havia entrado na cabeça de quase 2 bilhões e meia de pessoas no mundo: "Un petit pas pour l'homme, mais un bond de géant pour l'humanité!"
Na verdade, graças ao Expresso Transcroniano, Verne não precisou esperar realmente 15 anos para o reencontro. Na lenta velocidade de cerca 6 meses por minuto em direção ao futuro, a mais comum em viagens de turismo (para que os passageiros pudessem observar melhor as curiosas mudanças de paisagem do lado de fora) a viagem durou pouco menos de meia hora.
O escocês o aguardava ansioso na entrada do prédio:
- Venha, amigo! Venha! A transmissão vai começar.
- Já sabem do que se trata? - e tentou segurar o sorriso no rosto, pois já sabia o quanto Baird era atento a esses detalhes.
- Na verdade, ninguém ainda sabe... - olhou atento para Jules Verne, imaginando se ele escondia algo. - Vamos retransmitir direto de uma linha de cabo de baixa potência que atravessa o Canal da Mancha, ao vivo de um pequeno instituto francês. "Institut Pyrotechnique de France", já ouviu falar dele?
Verne precisava dizer algo, para não acabar se denunciando:
- Já ouvi falar. É do fim do século passado, mas não sei exatamente o que eles pesquisam.
Enquanto percorriam os corredores da BCC em direção à sala de projeção, Baird ainda tentou extrair algo mais de Jules Verne. Detrás daquelas barbas brancas, ele percebia claramente que estava escondendo algum segredo.
- Começamos a enviar estes satélites orbitais a uns 20 anos, não é? Sabe se este instituto também está envolvido nessas pesquisas? Teria algo a ver com as recentes sondas enviadas à Lua? Teriam finalmente descoberto alguma civilização Selenita vivendo do lado escuro?
- Paciência, amigo! Logo tudo vai ser revelado! Ao vivo para o mundo inteiro!
Haviam já 4 diretores executivos aguardando na sala de projeção. Ninguém ainda havia se atrevido a tocar no invento com aquela tela de 30 polegadas (a maior que haviam visto até o momento numa TV). Todos já aguardavam ansiosos o inventor e seu amigo chegarem. Devoravam impacientes seus sacos de pipoca. Sim, já existiam pipocas nesta época. Na verdade já existiam há dezenas de séculos, desde que os antigos incas tiveram a feliz ideia de lançar sobre suas fogueiras grãos de "Zea mays everta", vulgo "milho de pipoca".
- Senhores, lhes apresento meu amigo Jules Verne.
- Verne? - os diretores estavam impressionados. - O escritor Jules Verne em carne e osso?
- Terão todo o tempo do mundo para conversarem depois da transmissão, meus caros! Que já deve estar começando.
Baird comuta o interruptor do aparelho para a posição ligado. Linhas em branco começam a percorrer a tela da esquerda para a direita: era o Disco de Nipkow da TV acelerando. Girava bem rápido, mas não tinha realmente 630 colunas de varredura. Isto era ainda inviável. Os Controladores Temporais relutavam muito em aprovar intercâmbio de tecnologia entre épocas históricas, era preciso muito estudo antes de aprová-las. Mas, mesmo não podendo trazer as tecnologias futuras para suas épocas natais, a imaginação dos inventores não tinha limites. O próprio fato de observar no futuro um invento funcionando lhes davam ideia de como aperfeiçoar os seus próprios, usando os recursos da época. E foi isto que Baird tentou colocar em suas TVs depois de voltar boquiaberto com um aparelho estereoscópio colorido que observara em 1969, em sua última viagem transtemporal.
Apesar da proibição de intercâmbio de aparelhos microeletrônicos para as décadas de 30 e 40 (acreditem, os Controladores Temporais tinham razões sérias para esta proibição), o inventor ainda pôde aproveitar muitas das ideias usando dos recentes avanços da micromecânica. Na verdade ele reduzira os enormes e barulhentos Disco de Nipkow dos primeiros protótipos por um pequeno disco de 5 centímetros de raio dividido em 21 setores de varredura. Isto tornava o aparato mecânico silencioso como ninguém antes nunca sonhara ser possível num aparelho de TV. Um curioso sistema de microespelhos rotativos de 30 faces deslocava estas colunas em 30 regiões verticais distintas de 21 colunas cada uma na tela de projeção, formando aquela impressionante resolução de 630 colunas numa tela de 30 polegadas. As trinta faces do espelho eram coloridas, intercaladas de três em três nas cores primárias, permitindo converter a luz branca intensa do projetor de fótons nas três componentes fundamentais. Se fosse observada bem de perto facilmente se viam as sequências de colunas vermelha, amarela e azul se alternando na tela, mas de longe a combinação cromática ficava perfeita! Nossos olhos são muito mais eficientes em misturar faixas verticais do que faixas horizontais, um dos motivos para Baird escolher tal tipo de varredura em seus novos dispositivos colorido. Todos ficaram boquiabertos quando o sistema estabilizou, e puderam apreciar a qualidade daquelas imagens.
- É melhor ainda que os técnicos descreveram! Parabéns, John Baird! - um diretor se levantou especialmente para cumprimentá-lo.
- Só um momento, ainda preciso sintonizar o som.
Procurou numa tabela o canal de áudio correspondente à BBC, em inglês. Sim, os sinais de áudio e vídeo ainda precisavam ser sintonizados separadamente nesta época...
- Ah, bem na hora!! - exclamou Verne. - Senhores, terei agora a oportunidade de ver concretizadas pelo menos duas de minhas previsões!
- Duas? Não era apenas a televisão?
- Paciência, amigos! Paciência...
- As sondas descobriram Homens da Lua, não é? - quis saber um dos diretores.
- Homens e Mulheres.
- Lógico, imagino que devam mesmo existir Selenitas Machos e Selenitas Fêmeas.
- Também não os chamaria de "Homens da Lua" - completou Verne. - Seria mais correto dizer "Homens NA Lua". - e desta vez não consegue mesmo disfarçar o sorriso que ia de uma orelha a outra.
- Psiu! Já vai começar!
A transmissão francesa era transmitida com tradução simultânea para o inglês, e também para todas as outras línguas do mundo onde chegava o sinal da BBC Mundial. Esta era uma das vantagens de se transmitir áudio e vídeo em canais separados, tão boa que os diretores não pensaram duas vezes antes de aprovar: a mesma transmissão de vídeo poderia ser transmitida em várias línguas diferentes, bastando-se para isto alterar a sintonia do áudio.
"Un petit pas pour l'homme, mais un bond de géant pour l'humanité", brilhavam as letras em vermelho intenso sobre o fundo verde de uma floresta tropical. Verde? Entramos aqui num grande embate desta época das recentes transmissões coloridas. Os puristas cromáticos insistiam que as transmissões deveriam ser no modelo RYB (red-yellow-blue), cores primárias consolidadas a séculos. Os físicos afirmavam que as cores primárias eram na verdade vermelho, verde e azul, e que portanto o modelo RGB (red-green-blue) deveria apresentar cores mais convincentes. O amarelo, considerado a séculos cor primária, poderia ser conseguido como combinação de vermelho e verde. E, ao mesmo tempo, o verde ficaria mais "verde", ao invés de uma mistura grosseira de amarelo com azul cuja diferença era sentida com clareza por olhos mais atentos. Bom, mas quem reclamaria destes detalhes irrisórios, se agora podiam ver imagens em cores ao invés do grosseiro monocromático alaranjado de 10 anos atrás? Um embate parecido apareceria 30 anos depois: maravilhados com as novas TVs estereoscópicas, pouca gente perceberia no futuro como era grosseira a tentativa de se converter automaticamente as antigas gravações bidimensionais em 3D.
- Mas... que se passa com este aparelho? - se desesperou Baird ao perceber que o som sumira, e a imagem se tornara repentinamente preta e branca, de péssima qualidade.
- Calma, Baird! - tranquilizou Verne. - Nada de errado com seu invento! Estão transmitindo um filme de época...
- Só se for um filme da época do cinema mudo e sem cores...
- Quanto a mudo, pelo menos por enquanto podem ficar tranquilos: Tomas Edson contribuiu com um pequeno invento dele para sanarmos este problema.
Todos olharam desconfiados para Jules Verne, tentando imaginar o que ele escondia tanto! Mas voltaram suas atenções para o aparelho de TV. Via-se ao longe a Torre Eiffel. Bem, parecia de longe a famosa torre, mas logo perceberam o engano quando a imagem se aproximou. O som ao fundo não deixava dúvidas: era um foguete!
"Dix, neuf, huit, sept, six, ", ouvia-se do aparelho de Baird, "...cinq, quatre, trois, deux, un ... Vers le haut et au-delà!" A construção, maior do que a própria Torre Eiffel com a qual foi confundida a princípio, começava a subir. Percebia-se emoção na tradução simultânea para o inglês: "Lá se vão cinco bravos astronautas franceses em direção à nossa Lua! Lhes desejemos boa sorte". Uma legenda abaixo da tela, em azul claro, não deixava dúvidas para quem ainda as tinha: "Gravação em película cinematográfica de 14/07/1889. Gravação sonora: fonógrafo magnético de Thomas Alva Edson."
As imagens seguintes mostravam um círculo de vários tons prateados sobre um fundo negro. Acostumados como estavam com as transmissões coloridas, demoraram para reconhecer que aquele era o nosso planeta azul. A insistente afirmação "La Terre est bleue! La Terre est bleue!" de um dos astronautas dentro da nave confirmavam as suspeitas.
- Jules Verne, você sabia disso o tempo todo, não é? - resmungava Baird sem parar, se divertindo.
A câmera focalizava agora quatro rostos franceses risonhos, flutuando no espaço dentro na nave. Obviamente o quinto astronauta deveria estar filmando. Um dos franceses, aparentemente o capitão, avisa: "Tenez-vous bien. La deuxième étape va se séparer de la sonde". Os quatro astronautas se acomodam em seus lugares, e a gravação para temporariamente. Sim, o cinegrafista também precisaria se segurar durante a separação do segundo estágio do foguete, já sem combustível. Sem propulsão, eles avançaram alguns minutos sujeitos apenas às gravidades combinadas da Terra e da Lua, motivo pelo qual puderam comprovar aquela curiosa experiência, prevista pelos físicos da época, de poderem levitar dentro da cabine. O registro cinematográfico era uma prova material daquela teoria. Mas após acionados os foguetes do terceiro estágio eles precisariam se proteger da nova aceleração, para evitar de serem empurrados até o fundo da cápsula. Este seria o impulso de aceleração final, antes de finalmente pousarem em solo lunar.
"C'est la lune! Quelle belle!", pareciam serem palavras do próprio cinegrafista, que tinha um assento reservado no topo da cápsula, bem próximo a uma larga escotilha circular transparente por onde nosso satélite natural aparecia agora bem visível! Novamente surgia aquela legenda debaixo da tela, em azul claro: "Gravação em película cinematográfica de 17/07/1889. Gravação sonora: fonógrafo magnético de Thomas Alva Edson."
- Três dias, hein Jules Verne! Acertou em cheio de novo!
Quase dois bilhões e meio de pessoas assistiam estupefatas em suas TVs no mundo inteiro a repetição daqueles fatos que haviam acontecido... a cinquenta anos atrás!
- Mas... - quatro diretores da BBC e um inventor estavam indignados. - ...como ninguém nunca soube disso? Começamos recentemente a lançar satélites orbitais, e de repente descobrimos que já pousamos na Lua a muito tempo? Como mantiveram segredo?
- Não existiam TVs na época, meus amigos. Era bem mais fácil manter segredos assim.
- Mas por que tanto mistério, caro Jules Verne?
- Os Controladores Temporais tinham motivos sérios para isso. Seria irresponsável demais adiantar tais tecnologias no final do século XIX e começo do século XX. Temiam seu uso militar. Vocês se lembram como o mundo nesta época parecia um barril de pólvora, não se lembram? Só me permitiram criar este "Institut Pyrotechnique de France" se prometesse manter em segredo suas pesquisas. Garanto que não foi fácil!
- Espera ai! Você também participou disso?
- Certamente, senhores! Fundei o instituto, e participei do projeto deste primeiro foguete. Felizmente descobri que poderia utilizar hidrogênio e oxigênio comprimidos para uma propulsão mais suave, ao invés de explodir os infelizes ocupantes do interior de um projétil esférico, dentro de um canhão colossal com pólvora ao fundo, como descrevera em meu livro. Receio que eles não sobreviveriam ao impacto, hehehe.
- Mas... pra que tanto segredo?
- Pense, caro Baird: se soubessem que éramos capazes de lançar um foguete de 500 metros de altura e atingir a Lua em cheio com ele, o que impediriam os militares de, usando esta técnica, cruzarem meramente o Atlântico ou o Pacífico para explodirem lugares estratégicos do mundo com suas bombas? Não, isto só poderia mesmo ser revelado agora, uma época bem mais pacífica.
- Graças ao Expresso Transcroniano?
- Sim, graças a ele e às interferências históricas bem planejadas pelos Controladores Temporais. Mas agora, olhem para a tela! Vem a melhor parte!
O cinegrafista seria o primeiro a sair da cápsula. Era a escolha lógica: só assim poderia filmar os companheiros também descendo! Mas antes entraram na minúscula câmara de descompressão debaixo da cápsula para vestirem os escafandros espaciais. Escafandros invertidos, obviamente: eles precisavam segurar pressão dentro deles, e não resistir a colossais pressões externas. Na época, ar era um recurso importante, que não podia ser desperdiçado!
"Ah, lá estão nossos tanques de combustível para voltar!", o intérprete traduziu os dizeres aliviados do cinegrafista, filmando pela pequena escotilha aqueles cilindros prateados espalhados pelo centro da cratera lunar em que pousaram. Bem, pelo menos pareciam prateados vistos numa imagem em preto e branco.
- Como isto chegou até lá antes, Verne?
- Oras bolas, enviamos foguetes não tripulados antes com combustível para a volta, ferramentas e mantimentos básicos. Como acham que conseguiríamos manter cinco astronautas na Lua durante um mês, enquanto erguiam o primeiro protótipo de uma micro base lunar? É peso demais para uma viagem só!
- Foguetes sem tripulação? Como eram controlados?
- Fácil, leis básicas de física newtoniana programadas nos precisos computadores mecânicos de Babbage a bordo das naves. Nada mais simples.
As imagens seguintes, apontando para a cápsula, mostraram os quatro outros tripulantes descendo pela escada, saltando os degraus finais em câmera lenta. Ah, lógico: 1/6 da gravidade terrestre! O som não existe nestes trechos do filme. Por melhor que fossem os registros do fonógrafo de Edison, ele seria inútil para registrar os sons inexistentes num lugar sem atmosfera. O último astronauta trazia uma bela bandeira com três listras verticais: a primeira cinza escura, depois branca e cinza claro. Uma haste superior na horizontal a mantinha estendida, pois obviamente ela não poderia nunca tremular ao ser fincada numa Lua sem atmosfera. O cinegrafista afasta a câmera, e é então que se dá a mágica dos efeitos especiais: a imagem em preto e branco vai desaparecendo, enquanto surge aos poucos uma imagem colorida, apontando a mesma bandeira, agora colorida nas cores azul, branca e vermelha. Aparentemente o mesmo lugar, exceto que ao invés da cápsula ao fundo se via uma dourada redoma de uma colônia lunar, de onde saiu num astronauta vestindo um escafandro especial laranja. Bem mais elegante que os anteriores, com certeza. OPS! Grande engano! Quando ela chegou mais perto, ficou claro se tratar de uma astronauta. Piscava agora a legenda em amarelo-dourado: "Transmissão ao vivo da Lua"
"Estamos aqui na base lunar central do Institut Pyrotechnique de France, para uma entrevista exclusiva com a prefeita..."
A astronauta pressiona um botão debaixo do capacete, tentando sintonizar o canal de áudio do seu entrevistador: "Madeline".
Ouve-se um sinal de comutação de rádio. "Prefeita Madeline, a quanto tempo existe esta base lunar?"
"Esta, especificamente, desde 1895. Logicamente ela foi sendo aperfeiçoada com o tempo, até chegar à atual. As outras vinte e sete bases foram construídas entre 1901 e 1935"
"Existem outras bases? É verdade que o instituto conseguiu manter isto em segredo por tanto tempo?"
"Era necessário. Jules Verne, nosso fundador, deixou isto bem específico em seu testamento."
Todos olharam espantados para o escritor, esperando sua reação.
- Qual o espanto, meus caros? Apesar de ir e voltar no tempo, algum dia vou morrer, não é? Não sou eterno. Só tive o privilégio de avançar um pouco no tempo para ver os frutos de meu trabalho antes de morrer...
- Quase trinta bases lunares francesas, e ninguém ainda sabia de nada.
- Diria que bastante gente já sabe sim! Quase umas 2000 mil pessoas, entre 60 e 70 vivendo em cada base. Além de mais uns 400 técnicos, trabalhadores e diretores do instituto, que permanecem na Terra.
- Mas... como? E o ar? Água? E mantimentos?
- Aprendemos a extrair ar e água do próprio solo da lua. Mantimentos continuam a ser enviados regularmente, mas as novas culturas hidropônicas são promissoras! Breve teremos fazendas lunares para abastecer as bases. Ah, e como crescem rápido as plantas em gravidade reduzida!
"Por que estes fatos só foram revelados meio século depois, prefeita Madeline?"
"Exigência dos Controladores Temporais. Consideram que esta seria a época mais segura e pacífica para que as viagens espaciais pudessem ser retomadas."
"Viagens para Lua?"
"Não apenas para a Lua. As sondas enviadas pelo Institut Pyrotechnique de France mostram que Marte pode ser um novo campo para estabelecer colônias humanas. Quem sabe, depois disso, também cheguemos em Vênus e Mercúrio, se conseguirmos resolver o problema óbvio do calor. Decidimos a partir de hoje reunir esforços do mundo inteiro para levar a humanidade mais longe no Universo"
Jules Verne olha as horas em seu relógio de pulso, que apitava sem parar. Estava quase na hora de passar o Expresso Transcroniano em direção ao passado. Mas Baird está mais intrigado com o curioso aparelho de Verne.
- Que é isto?
- Isto o quê?
- Isto em seu pulso?
- Ah, um presente de um amigo brasileiro que conheci em 1904. Alberto Santos-Dumont. Vocês não inventaram isso ainda? - Verne começava a se preocupar, achando que havia tomado uma linha histórica alternativa por engano.
- Costumamos usar os relógios de bolso...
- Bem, pois meu relógio DE PULSO está me avisando que se não sair imediatamente perderei o próximo Expresso para o passado. Podem me acompanhar para continuarmos discutindo o assunto das viagens espaciais até eu chegar na estação, se quiserem.
Baird desligou seu aparelho (a energia elétrica ainda era relativamente cara naquela época para ser desperdiçada) e a turma animada de seis cavalheiros saiu do prédio da BBC em direção à estação, conversando com entusiasmo.
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"Senhores passageiros, o Expresso Transcroniano precisa chegar com urgência até a estação 19-30, e não deve parar na estação 19-39 por hora. Atrasará um pouco para voltar. Pedimos que sejam pacientes."
De fato, em alta velocidade tudo o que se viu nas plataformas foi um vulto prateado surgir e desaparecer em frações de segundos: era o Expresso cruzando rápido a atual brana de espaço-tempo em que se encontravam.
Jules Verne lamentou o atraso inesperado. Os que o acompanharam no fundo até gostaram, pois teriam mais tempo para discutir sobre viagens espaciais com aquele visionário do século XIX
*** CONTINUA ***