Voz de pato - Parte 4
A comida nas cidades subaquáticas eram mesmo bem temperadas! As de Aqualung-15 eram mundialmente recohecidas. Tinham que ser! O hélio concentrado interferia muito no sabor, e uma comida com tempero normal, em termos de habitante da superfície, teria gosto de nada para um habitante subabissal...
Meu café da manhã foi de algas salgadas de várias cores e texturas. Seria ingênuo se esperasse algo diferente disso...
- Coma bem, primo! O dia hoje vai ser agitado!!
Trouxera inocentemente comida da superfície. Besteira completa! Eram completamente insípidas naquele ambiente de hélio concentrado! Foram todas parar no lixo...
- Esses... Homo Aquaticus... como são?
- Mudança genética provocada, primo! Grande parte hoje na verdade herdou a vontade dos pais, idealistas, verdadeiros criadores da espécie nova...
- Mas... que eles são mesmo?
- Ah, difícil descrever! Você precisa ver com seus próprios olhos...
Comi aquele pão de algas com patê. Normalmente apimentados, salgados e doces ao extremo, eram perfeitos naquele ambiente saturado de hélio. Satisfeito, me levantei resoluto...
- Vamos logo ver o tal Homo Aquaticus!!!
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O Homo Aquaticus me pareceu pouco expressivo a princípio. Logo mudaria esta primeira impressão, mas foi a que a princípio me pareceu.
Depois pensei, com mais clareza: "Óbvio que eles não poderiam de forma alguma serem falantes! Vivendo a maior parte de suas vidas debaixo dágua, logicamente sua maior expressividade deveria estar mesmo (como logo comprovei) na língua muda dos gestos!"
O Homo Aquaticus se ergueu da piscina de acesso. Um aparato cobria suas orelhas, desciam pelo pescoço, e terminava numa bolsa nas costas. Um óculos cheio dágua cobria seus olhos. Estava claro que ele não ficava confortável com a atmosfera seca.
Meu primo baixou seu capacete, e instruiu eu mais dois amigos a fazer o mesmo,
- Vamos descer!
O representante dos Homus Aquaticus tomou a dianteira. Debaixo dágua, tirou o aparato artificial que lhe cobria orelha e pescoço. Tentei me comunicar com meu primo debaixo dágua, na linguagem de sinais com a qual ainda nao tinha muita fluência:
- Ele sem ár! Buraco no pescoço! Que é isso?
- Fendas branquiais, primo! - respondeu ele, mais familiarizado com o idioma. - o Homo Aquaticus é na verdade uma espécie artificial, induzida, mas que se aproveita de um estágio natural de nossa morfogênese!
Minha cara de interrogação dispensava qualquer sinal, ele continuou explicando:
- Todo mamífero, durante um estágio de sua gestação, possui brânquias! Lembrança de sua herança evolutiva! Antes de nascermos, todos nós nos desenvolvemos mergulhados em água salgada, lembra?
Já havia ouvido falar sobre isso. Mas, confesso, nunca tinha visto na prática!
- Normalmente a brânquia original se fecha no pescoço, forma a Trompa de Eustáquio. Os Homo Aquáticos aprenderam a reverter o processo...
- Eles... - relutei em perguntar, com medo de parecer um "caipira burro" da superfície. Mas a curiosidade era maior... - respiram pelas brânquias?
- Na verdade não, primo! Mas o fato de nascerem com o canal exposto facilita a operação... Com o tempo, ela vai acabar sendo desnecessária. Mas é idiotice tentar acelerar a evolução, das espécies, né? Pra quê a pressa? Se adapta por enquanto, que a coisa evolui aos poucos...
O Homo Aquaticus avançava em direção a um geiser submarino. Parou a um certo ponto e cruzou os braços em frente ao peito: era o símbolo universal de "VENENO".
- Fonte termal rica em enxofre! - tentou se expressar meu primo tentando ser o mais claro possível, sabendo que eu não dominava muito esta língua subaquática de gestos... - Venenosso para nós, Melhor observarmos de longe! - e me dá um binóculo submarico, com lentes de refrigência adaptada à água salgada sob alta pressão...
A riqueza de vida que lá existia era impressionante! Vida baseada em enxofre e em seus óxidos e dióxidos! De existência inimaginável nos padrôes terrenos "comuns", acostumados com cida oxigenada... Vivendo num ambiente absolutamente alienígena, embora acontecesse no próprio planeta Terra.
O Homo Aquaticus se desfez totalmente dos aparatos artificiais, exceto das brânquias sintéticas ainda indispensáveis.
- Ele pode nos ouvir? - perguntei em gestos ao meu primo.
- Ouvir? Ouvir o quê? - ele perguntou irônico... - Suas brânquias são nossos canais auditivos... O preço justo que tiveram de pagar pela adaptação mas, de qualquer forma, você consegue falar aqui? Debaixo dágua suas cordas vocais têm função? - se expressou em sinais universais...
O Homo Aquaticus se aproximou de mim. Foi quando perfebi surpreso: não era exatamente um Homo Aquaticus! Na verdade, era... como direi? Uma Femme Aquaticus!
- Primo, esse, essa... - estava confuso! - Está dando em cima de mim?
Ele riu baixinho.
- Sortudo, hein! - fez uma pausa. - Está sim,primo!
A "Femme Aquaticus" se aproximou de novo, nadou numa dança doida, estimulante, tentando me falar com seus expressivos olhos mudos. Meu primo genticulou:
- Uma "sereia" acaba de se apaixonar por você, primo! Cara de sorte!
*** CONTINUA ***