O Senhor da nave

Era só mais um dia normal que começava ensolarado. O orvalho da manhã dava-lhe aquela sensação típica desses momentos, era só mais um dia normal, Mas o que é um dia normal? O que o difere um dia normal de um dia de sonhos? O orvalho da manhã e o orvalho da tarde são igualmente frios, nada dá para diferenciá-los. Paulo Gurgel se acordava naquele instante. Era exatamente seis horas em ponto, para quem iria pegar o ônibus do trabalho pontualmente as seis e quinze ele deveria se apressar, e muito. E foi o que ele fez ainda atordoado pelo sono e pela pressa, diga-se de passagem, foi ao banheiro tomar banho, mas antes de entrar esbarrou na quina da parede, resultado disso, ombro dolorido. Ele toma banho e se escova, corre para o quarto para colocar uma roupa limpa. O tempo era contra Paulo e Paulo agora era contra o tempo, Paulo toma um copo de água e come um pão, esse seria o seu café da manhã. Se é que um copo de água e um pão possam erguer um homem durante toda a manhã ate o almoço, mas não vou adentrar nessa matéria, pois não sou especialista em anatomia e nem sou grã mestre em gastronomia, nem nada do gênero. Paulo Sai de casa apressado fechando às portas, colocando a chave na fechadura e dá duas voltas com a chave como precaução. E quando se vira para ir para o ponto de ônibus sente que algo esta errado. Era a maldita consciência duvidosa das ações! pensou se devia confiar nela ou não, mas acabou por dar meia volta e lá vai ele entrar novamente dentro de casa, vai ao banheiro e pela segunda vez esbarra na parede, só para acentuar a sua dor, ele entra no banheiro e fecha a torneira que havia deixado aberta, maldita consciência! acabou por pensar. Paulo volta apressadamente para o mesmo sistema de segurança fecha a porta e dá duas volta na fechadura. Engraçado analisarmos o tempo decorrido, pois em outra situação o tempo já teria se extinguido, mas na pressa o tempo das duas uma, ou ele para ou ele é lento. E nessa ocasião ele estava lento, muito lento, pois deu para fazer tudo isso e ir ao ponto de ônibus correndo, e chegando lá Paulo encontrou o ônibus quase partindo, mas correu e conseguiu alcançá-lo, entrou e lá estava, ali no mesmo canto que ele deixou no dia anterior, lá estava seu trono. Aos olhos dos outros parecia apenas mais um banco de ônibus qualquer, mas para Paulo ali era o seu trono, ninguém a não ser ele podia sentar-se ali, ele gentilmente se acomoda na cadeira do lado direito do ônibus, ficando assim no lado da janela. Ele olha o céu e vê os pássaros nas suas migrações pitorescas, de repente as copas das arvores tomam conta dos céus e já não se pode ver nada nem os pássaros e nem a imensidão azul, olhando atentamente não sei em qual segundo aconteceu ou em qual milésimo de segundo pode ter lhe acometido isso, frações fora da realidade, tudo se distorcendo a seu favor, mas agora já não estava no ônibus rotineiro, bastou ele piscar os olhos duas vezes que agora estava em sua aeronave. Guiada pelo capitão Nilson, tendo como copiloto preto véi e fazendo a navegação estava lá um negrinho sentado diante de um painel, o Senhor Juruma. Logo atrás estava à primeira classe com os mais importantes empresários, dando-se destaque para o senhor Galego, sempre sorridente. Era o mais honorável deles, diretor-geral da lubrificação e Cia, importante empresa na cachoolina do sul. E logo depois da primeira classe vinha-se à ala administrativa da aeronave, com doze tripulantes, dando-se destaque para duas mulheres e dois homens, senhora Egida, senhora Begonha, senhor Biltes e o Imediato senhor Marques, esse último gozava do privilégio de ter feito varias viagens, de longe era o mais capaz e experiente de toda a tripulação. Depois dessa vinha à ala dos operários da manutenção, dezessete homens dormiam em pé no avião, e sempre com uma chave de fenda na mão, pois a qualquer sinal de problemas, lá estavam eles preparados para enfrentá-lo, sempre esperando as ordens do chefe, o mecânico geral senhor Barão. Depois vinha à ala econômica onde Paulo se encontrava, com mais de trinta e sete pessoas nessa ala. De lá Paulo podia ver todos, pois ele era o senhor da nave. No fundo da aeronave vinha a mais ralé das alas, os chamados “peões de deck”, vinte pessoas espremidas num só quarto, com tubulações passando pra lá e pra cá, vapor saindo e o calor ia aumentando a cada hora naquela seção, ate que uma tubulação de vapor estourou e...

Nessa hora houve um balançar e Paulo acordou, era chegada a hora de trabalhar. Desceu do ônibus bocejando e foi bateu o cartão, foi caminhando para a sua seção e ficou pensando como iriam consertar a tubulação de vapor, ele que as avarias poderiam ser graves, será que precisariam aterrissar antes do destino, acabou por pensar Paulo, Mas de certo os operários já tinham resolvido tudo, o mecânico geral Barão já tinha enfrentado varias situações iguais a essa, ele saberia o que fazer. Paulo passa debaixo de uma arvore antes de entrar em sua sala, estava andando e balançando a cabeça afirmativamente, pensava na hora do fim do expediente. Ficou ansioso para ver à noite chegar logo, para ele poder subir na sua aeronave e pedir um relatório de tudo ao senhor Marques. De certo o senhor Marques havia cuidado de tudo ate a sua volta.

Carlos Henrique de Azevedo
Enviado por Carlos Henrique de Azevedo em 03/08/2012
Reeditado em 03/02/2013
Código do texto: T3811293
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