Os Homens Retalho.

A psicologia tecnológica paralela, marginal, já oferecia soluções interessantes para doenças emocionais e incapacidades sociais; no entanto, os exoprocessamentos das memórias por inteligência artificial pura ainda eram muito dispendiosos, e os algoritmos de apaziguamento interior, tão comuns neste mercado ofereciam contra indicações, e efeitos colaterais atraente somente aos totalmente desesperançados.

No entanto, haviam os “HOMENS RETALHO”, e as pequenas e obscuras companhias de transferência interpessoal de produtos mentais insalubres que, após o devido registro de acordo de serviço, e um pagamento prévio pelos mesmos, se prestavam a decantar e reprocessar, através de seus “profissionais”, os pontos de vista do contratante num sistema de filtragem, e reinterpretação emocional-sentimental.

Havia a garantia de sigilo em cada transação, e os momentos chave, as impressões negativas, e todas características do processo passavam por um codificador de identidade, e, segundo as compatibilidades os dados eram introjetados num “Retalho” pertinente, onde eram depurados de seus conceitos danosos e seguidamente preenchidos por características de auto-estima, indiferença, frieza.

O sentimento maturava até se tornar parte convincente do receptor (o que se realizava através do uso de psicotrópicos, privações, sugestões, emulações induzidas, etc. Todas suportadas pela empresa), e, quando já não havia distinção entre o "doente" e a mente contratada a mágica da panacéia de todas dores sentimentais se dissipavam no corpo alugado!

Mais um cliente os deixava, cabeça rarefeita de alegria e conta bancária agressivamente saqueada:

“-Aos que vivem o pior de sua vida deve-se pagar muito bem!”- Eram quase as letras miúdas sob as quais firmou o contrato; e ele tinha noção, que a vida útil de quem era legião era muito curta...

Deveriam acrescentar ao documento:

“-Bons manicômios não são baratos!"

Anderson Dias Cardoso.

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