Diário de bordo da nave sem nome

Fui pego de surpresa, por um movimento rápido do inimigo, e agora me encontro aprisionado nesse estranho cubículo que me arremete aos áureos tempos em que o planeta Terra ainda existia, esse complexo armado por meus rivais é de tal grandiosidade que todos os aspectos físicos do ambiente terrestre foram implantados, não consigo ver razão em tal construção, ainda mais para que um prisioneiro desfrute de tamanha nostalgia.

Ouço o som de crianças correndo na rua da frente, o vento na janela o qual eu também sinto em minha pele, a temperatura do ambiente também varia de acordo com o horário, pois meus captores também me disponibilizaram um relógio antiquado no lugar que representa a cozinha, a variação de luz também é notável, apesar de esse ser meu primeiro dia, então não posso ter certezas sobre o que a “noite” me reserva.

Apesar de minhas buscas incansáveis por uma saída, não obtive êxito, agora tento me distrair com um amontoado de livros, veja bem, livros com folhas e tintas, e não aqueles digitalizados e holográficos, livros palpáveis os quais foram muito bem conservados, obras raríssimas. Ainda não consigo me decidir se isso tudo é um prêmio ou um castigo. Comida não me foi negada, e a peculiaridade é que esta também arremete a minha infância na terra, hoje fui agraciado pelo sabor de uma lasanha. Você consegue imaginar a magnitude desse sabor após décadas de abstinência? Bebi refrigerante, armazenado em um garrafa pet! Pode parecer piada, mas até da garrafa eu sentia falta, nesse ambiente inóspito ao qual a humanidade ainda aprende a sobreviver nos nega muitos dos pequenos sabores da vida, o plástico foi banido.. enfim, todos sabemos o que aconteceu.

As vezes ouço barulhos, esses não são humanos, barulhos de animais passando sobre o telhado de minha imitação de residência. O insano é que até acho que o barulho é causado por um animal real, vivo! Mas isso seria impossível, afinal de contas salvamos apenas aqueles que poderiam nos trazer algum benefício, e gatos não faziam parte desse grupo.

Se algum dia esse texto for lido por outro humano, não me julgue, não me calunie, toda essa experiência “terrestre” é muito intensa para alguém de minha idade, e é impossível não devanear sobre minha infância perdida, naquele planeta perdido. Sinto que a hora de algum acontecimento grandioso está chegando, então irei parar por aqui, se eu sobreviver a mais um dia nesse cativeiro, prometo que voltarei a escrever, caso contrario, se contentem com o adeus de um cativo que começa a perder a razão.

Capitão Roger Flitz

Rimoli
Enviado por Rimoli em 19/07/2012
Código do texto: T3786696
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