A Revolta dos Clones e a Terra Prometida
Tudo começou há algumas semanas atrás. Tenant, seu amigo, e que trabalhava com ele numa grande dependência do governo no Texas, havia sussurrado para ele um grande segredo. Muitos, como ele e seu amigo, estavam fugindo para uma área na Floresta Amazônica, uma das poucas ainda preservadas no começo do século 22. As áreas naturais agoram eram tão escassas que havia restrições enormes para qualquer tipo de interveniência nelas. O próprio governo central das Américas evitava muita monitoração, pois isso poderia sugerir “ideias” de ocupação para grupos que achavam um absurdo manter uma região toda isolada em época tão carente de novos espaços. O conceito era deixá-las completamente isoladas, proporcionando assim condições para sua sobrevivência e recuperação. O resto do mundo, salvo por mais algumas regiões bem menores que a Amazônia, estava totalmente ocupado. É verdade que, por outro lado, a tecnologia havia permitido um controle quase perfeito do clima, da poluição ou qualquer outra consequência negativa de um superdesenvolvimento.
Havia pouco trabalho. As máquinas e os robôs faziam quase tudo. O resto, ou eram funções de controle e monitoramento ou algumas tarefas mais pesadas, que por motivos estratégicos ainda eram destinadas a humanos. Na verdade eram humanos sim, mas eram clones. Eram geneticamente elaborados para as funções que exerciam. Não se podia dizer que eram infelizes pois até isso era controlado. Quase todos estavam imensamente satisfeitos com suas funções. Era parte do plano, todo mundo precisava ser feliz. Por motivos ainda não entendidos pelos engenheiros genéticos, vez ou outra, alguns clones não se adaptavam muito ao destino que lhes fora reservado. Precisavam ser reestrurados geneticamente, serem tratados de sua “deficiência”. Todos os clones eram bastante inteligentes mas, segundo observações feitas recentemente, os “revoltados” eram mais inteligentes que a média.
Há três anos atrás um clone “revoltado” conseguira fugir com mais outros cinco para a Amazônia. Levaram consigo seis naves nas quais eles habilmente desativaram os mecanismos de detecção. Uma vez na área de preservação, eles não poderiam mais ser perseguidos.
Fora das grandes áreas urbanas, as grandes e antigas estradas eram muito pouco usadas pois o transporte individual era feito por pequenos “spt”s ou seja, “transporte pessoal suspenso”. Além disso havia, para quase qualquer ponto, perfeito sistema de transporte coletivo. Montou-se então- os rebeldes montaram - um sistema de resgate para os clones que decidissem não mais participar da “força especial de trabalho” destinada para eles. O que tinham de fazer era extrair de seus corpos o nanoimplante de detecção e fugir para uma das antigas e desertas estradas. Ali eles poderiam ser detectados por uma das naves do “grupo de resistência” que frequentemente faziam vôos em uma altitude muito baixa para detectar fugitivos. Era relativamente fácil por dois motivos. Ninguém mais andava por essas estradas. Se alguém estivesse lá, certamente era um clone em fuga. A outra razão era que com uma criminalidade quase zero, havia pouca tecnologia e recursos destinados a localizar fugitivos ou perseguir criminosos.
Leonard, ou como era identificado no sistema, “CLYWER32”, havia conseguido desativar seu sistema de detecção há três dias e estava naquela estrada deserta do Arizona há dois. Até agora nenhuma das seis naves de resgate havia vindo em seu socorro. Por isso olhava aflito para o céu a todo momento. Seu pensamento, no entanto, voava para a selva, e procurava reconstruir o “paraíso” que seria lá, com a liberdade e tudo mais. O sol agora estava inclemente e certamente ele começaria a ter delírios por mais que seu corpo fosse preparado para intempéries e situações como essa. Foi num momento desses que, de repente, ouviu aquele ruido sibilante característico das naves que haviam sido sequestradas por seus companheiros. Eram as mesmas que o restrito policiamento da época usava para suas tarefas. Deitou-se e esperou pelo momento tão desejado. Estava praticamente desmaiado quando recolheram seu corpo extenuado. O veículo aéreo partiu quase instantaneamente enquanto ele recebia os primeiros cuidados. Quando abriu os olhos, no entanto, ficou um pouco surpreso.Os oficiais da nave não pareciam com seus amigos clones. A moça, com aquele uniforme típico de agente da lei disse para ele ficar calmo. Ela falou qualquer coisa como ”Tudo vai voltar ao normal.” Exatamente o que ele não queria ouvir. Tinha caído de volta nas garras do sistema. A oficial, no entanto, era suave e repetiu várias vezes, que “deveria acalmar-se, logo ele esqueceria tudo” . Falou também qualquer coisa sobre “consertá-lo”...Leonard, entretanto, só pensava na floresta, nas dezenas de clones que estavam lá, livres, felizes, passeando. Apesar do sono profundo que ela havia lhe aplicado, ele ainda sonhava com a sua “terra prometida” e continuava sorrindo.
A policial sentiu uma certa pena dele e pensou consigo mesma: “ Quem sabe da próxima vez...”
LEIA MAIS EM CRÔNICAS AMERICANAS
“Canaã é logo ali
A terra prometida que Deus já te deu
O deserto atravessou
As muralhas derrubou
E você conquistou.”
(Canaã é logo ali-
Marquinhos Gomes)
Leonard estava andando numa estrada deserta do Arizona. Estava cansado apesar de sua forma física e respirava com certa dificuldade. Olhava para o céu constantemente, para frente e para trás...Procurava algo, parecia estar atrás da própria salvação...A terra prometida que Deus já te deu
O deserto atravessou
As muralhas derrubou
E você conquistou.”
(Canaã é logo ali-
Marquinhos Gomes)
Tudo começou há algumas semanas atrás. Tenant, seu amigo, e que trabalhava com ele numa grande dependência do governo no Texas, havia sussurrado para ele um grande segredo. Muitos, como ele e seu amigo, estavam fugindo para uma área na Floresta Amazônica, uma das poucas ainda preservadas no começo do século 22. As áreas naturais agoram eram tão escassas que havia restrições enormes para qualquer tipo de interveniência nelas. O próprio governo central das Américas evitava muita monitoração, pois isso poderia sugerir “ideias” de ocupação para grupos que achavam um absurdo manter uma região toda isolada em época tão carente de novos espaços. O conceito era deixá-las completamente isoladas, proporcionando assim condições para sua sobrevivência e recuperação. O resto do mundo, salvo por mais algumas regiões bem menores que a Amazônia, estava totalmente ocupado. É verdade que, por outro lado, a tecnologia havia permitido um controle quase perfeito do clima, da poluição ou qualquer outra consequência negativa de um superdesenvolvimento.
Havia pouco trabalho. As máquinas e os robôs faziam quase tudo. O resto, ou eram funções de controle e monitoramento ou algumas tarefas mais pesadas, que por motivos estratégicos ainda eram destinadas a humanos. Na verdade eram humanos sim, mas eram clones. Eram geneticamente elaborados para as funções que exerciam. Não se podia dizer que eram infelizes pois até isso era controlado. Quase todos estavam imensamente satisfeitos com suas funções. Era parte do plano, todo mundo precisava ser feliz. Por motivos ainda não entendidos pelos engenheiros genéticos, vez ou outra, alguns clones não se adaptavam muito ao destino que lhes fora reservado. Precisavam ser reestrurados geneticamente, serem tratados de sua “deficiência”. Todos os clones eram bastante inteligentes mas, segundo observações feitas recentemente, os “revoltados” eram mais inteligentes que a média.
Há três anos atrás um clone “revoltado” conseguira fugir com mais outros cinco para a Amazônia. Levaram consigo seis naves nas quais eles habilmente desativaram os mecanismos de detecção. Uma vez na área de preservação, eles não poderiam mais ser perseguidos.
Fora das grandes áreas urbanas, as grandes e antigas estradas eram muito pouco usadas pois o transporte individual era feito por pequenos “spt”s ou seja, “transporte pessoal suspenso”. Além disso havia, para quase qualquer ponto, perfeito sistema de transporte coletivo. Montou-se então- os rebeldes montaram - um sistema de resgate para os clones que decidissem não mais participar da “força especial de trabalho” destinada para eles. O que tinham de fazer era extrair de seus corpos o nanoimplante de detecção e fugir para uma das antigas e desertas estradas. Ali eles poderiam ser detectados por uma das naves do “grupo de resistência” que frequentemente faziam vôos em uma altitude muito baixa para detectar fugitivos. Era relativamente fácil por dois motivos. Ninguém mais andava por essas estradas. Se alguém estivesse lá, certamente era um clone em fuga. A outra razão era que com uma criminalidade quase zero, havia pouca tecnologia e recursos destinados a localizar fugitivos ou perseguir criminosos.
Leonard, ou como era identificado no sistema, “CLYWER32”, havia conseguido desativar seu sistema de detecção há três dias e estava naquela estrada deserta do Arizona há dois. Até agora nenhuma das seis naves de resgate havia vindo em seu socorro. Por isso olhava aflito para o céu a todo momento. Seu pensamento, no entanto, voava para a selva, e procurava reconstruir o “paraíso” que seria lá, com a liberdade e tudo mais. O sol agora estava inclemente e certamente ele começaria a ter delírios por mais que seu corpo fosse preparado para intempéries e situações como essa. Foi num momento desses que, de repente, ouviu aquele ruido sibilante característico das naves que haviam sido sequestradas por seus companheiros. Eram as mesmas que o restrito policiamento da época usava para suas tarefas. Deitou-se e esperou pelo momento tão desejado. Estava praticamente desmaiado quando recolheram seu corpo extenuado. O veículo aéreo partiu quase instantaneamente enquanto ele recebia os primeiros cuidados. Quando abriu os olhos, no entanto, ficou um pouco surpreso.Os oficiais da nave não pareciam com seus amigos clones. A moça, com aquele uniforme típico de agente da lei disse para ele ficar calmo. Ela falou qualquer coisa como ”Tudo vai voltar ao normal.” Exatamente o que ele não queria ouvir. Tinha caído de volta nas garras do sistema. A oficial, no entanto, era suave e repetiu várias vezes, que “deveria acalmar-se, logo ele esqueceria tudo” . Falou também qualquer coisa sobre “consertá-lo”...Leonard, entretanto, só pensava na floresta, nas dezenas de clones que estavam lá, livres, felizes, passeando. Apesar do sono profundo que ela havia lhe aplicado, ele ainda sonhava com a sua “terra prometida” e continuava sorrindo.
A policial sentiu uma certa pena dele e pensou consigo mesma: “ Quem sabe da próxima vez...”
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