As Crias de Vesta Draconis - Um conto de ficção científica

O traçado fulgurante dos torpedos de fóton riscavam aquele céu negro, pontilhado de estrelas, espantosamente brilhante e com um belo planeta verde avermelhado, repleto de fabricas e vida, como pano de fundo. A emboscada foi perfeita, nenhuma das muitas horas de cálculo haviam sido desperdiçadas. Todas as naves foram transportadas sem falhas para o sistema Plena XI e o alvo estava no lugar estimado, em tempo de cálculo de transporte, parados, graças aos vários espiões do Sefirot do Conglomerado Mainard além das fronteiras do Qlifot do Principado da Estrela da Manhã.

Como deveria ser todos estavam confiantes e assim que os motores de hiperpropulsão emitiram seus estampidos característicos da desaceleração, a uniformidade da esquadra foi verificada, a contagem e sinalização pós salto foi acionada e as comportas de torpedos e silos balísticos foram abertos. De imediato os milhares de raios de ondas coloriram o espaço com sua claridade magnificamente cegante, quase inutilizando os sistemas primários dos dez grandes transportadores de tropas que eles atingiram. Alvos grandes, lentos e fáceis, mas não menos perigosos.

Os campos eletromagnéticos que circundavam as naves de transporte se incendiavam com o choque dos raios e geravam um grandioso espetáculo bélico. Nem mesmo as auroras de Beta Antaris eram tão fascinantes, embora aquele visual era etéreo e rapidamente se desfazia, em radiação e centelhas incandescentes, apenas para preparar o terreno para receber o voleio de cargas explosivas em seus cascos enfraquecidos.

As explosões fotônicas não poderiam ser jamais descarregadas em atmosfera planetária, não de acordo com os regulamentos assinados entre os senhores dos setores mas ali naquele espaço cósmico, geravam interferências em todos os instrumentos não mecânicos, isso tornava impraticável os saltos e impossível as comunicações convencionais entre as naves das duas frotas.

Quando os cascos dos dois primeiros transportadores racharam, expondo suas entranhas de metal, elas expeliram para o vácuo gelado e radioativo os milhares de combatentes que eles carregavam.

Muitos dos corpos daqueles homens e mulheres eram vaporizados instantaneamente quando os raios de ondas rasgavam o espaço, desintegrando as estruturas menos densas e queimando como uma fornalha radioativa contra os resquícios dos campos gerados pelas naves.

Era esplendoroso, o auge da tática, o início de uma vitória naquela batalha.

A gravidade do enorme planeta “abaixo” compunha as notas finais naquela sinfonia de luzes e explosões, atraindo para si as carcaças das enormes aves de metal e porcelana abatidos em combate.

Trinta de nossas naves da classe Leviatã não haviam sofrido qualquer tipo de avaria nos primeiros minutos do ataque. Nas naves da classe Beemote e Ziz as baixas eram mínimas, não mais do que dez naves secundárias e vinte e três terciárias.

A resposta de fogo do Qlifot veio inconstante e debilitado, com raios de ondas supra moduladas e ortogonais múltiplas, que tiveram a sorte de atravessarem sem interferência alguns dos campos eletromagnéticos de seis Leviatãs. As tripulações foram abatidas imediatamente, cozidas pelas microondas. Os heroicos tripulantes não sofreram ao padecer, pois sabiam dos riscos de sua missão. As Leviatãs afetadas remodularam mecanicamente seus campos e não tiveram seu interior aberto ao espaço, mesmo quando os torpedos do inimigo acertavam seus cascos. A tecnologia inferior do Qlifot não era páreo para nossos armamentos e defesas.

Durante aquele embate os matemáticos práticos haviam repassado as informações de posicionamento, gravidade e todas as variáveis cabíveis e importantes para o controle de armamentos. As coordenadas para os mísseis de plasma estavam calculadas e o trabalho manual dos marinheiros era extremamente coordenado. Os mísseis saíram de seus silos a velocidades enormes, mas ainda sub luz. Quando suas cargas mortais engolfaram as naves inimigas, novos sóis surgiam por vários segundos. A maior parte dos escudos deles aguentaram aquele castigo, entretanto houve o derretimento incontinênti de dois outros transportadores.

O fascínio que aquele espetáculo gerava em nossos marinheiros deve ter sido superado apenas pelo medo no coração dos atingidos pelo fogo.

E foi assim, que durante toda a primeira parte daquela emboscada que não houve reação útil contra a armada e então naquele momento, centenas de milhares de minas de quantum foram despejadas no espaço, no weltraum. Era uma tática arriscada, que havia sido prevista por nossos matemáticos com chance de acontecimento de menos de um porcento. Minas de quantum são armas incontroláveis e não tendiam a obedecer seus senhores, todavia aquelas aberrações, de alguma maneira demoníaca pareciam seguir ordens bem estruturadas. Com a atração magnética elas seguiram para a frota Sefirot

As implosões de quantum arrancavam enormes quantidades dos cascos das Leviatãs e Beemotes e praticamente engoliam as naves da classe Ziz. Nos sensores que ainda funcionavam notávamos muitos capitães desaparecerem da existência durante aquele ataque.

As armas de ondas foram recalibradas com rapidez e competência para atingirem as minas, enquanto os torpedos de fóton e mísseis de plasma, o suprassumo do armamento do Sefirot continuavam a castigar a armada Qlifot.

A almirante Vesta, que até aquele momento mostrava-se completamente confiante no desenrolar dos planos conforme traçados, fez o primeiro movimento fora da precisão matemática que era sugerida pelos estratégicos até o momento. Seus comandos fizeram jus ao nome que carregava, sua genialidade era conhecida por todos os pontos da galáxia, de todos os lados das guerras que eram travadas nesse período histórico da humanidade.

Através da comunicação mecânica as primeiras ordens foram difundidas. Os feixes de raios de todas as naves do Sefirot cessaram simultaneamente. Toda energia foi transferida para os geradores de campos. A interferência eletromagnética foi cortada e as ordens completas passadas diretamente a 10 naves Beemote e 20 naves Ziz, além de um dos enormes Leviatã.

Não houve hesitação quando as ordens foram recebidas. A comunicação entre os capitães e seus subordinados ocorreu sem demora e mais que prontamente as naves de colocaram em movimento. Em cada uma das embarcações a canção dos heróis foi cantada e seus escudos ampliados ao máximo de suas potências.

As outras naves reiniciaram o disparar incessante de raios, de torpedos e mísseis. Já os responsáveis pelo movimento fizeram um bloqueio, chamando para si todas as minas de quantum possíveis. As implosões pareciam não ter fim. Em menos de dez minutos os capitães e suas naves foram dizimados. Não havia mais minas de quantum nas proximidades. O ataque da armada do Sefirot então não teve mais limites. Não seria mais possível exterminar todos os transportadores, mas nem todos sairiam ilesos.

Um a um os gigantescos transportadores eram abatidos.

Então uma enorme boia de bolha de salto foi ativada e duas das naves do Qlifot conseguiram saltar e fugir. Era o fim da batalha.

A cena que se seguiu mostrava a força, a capacidade e a extensão do poder do Sefirot do Conglomerado Mainard. As naves entravam em formação mais uma vez e a sinalização feita para que os cargueiros de salvamento e limpeza, da classe Carniceira, viessem resgatar todo o metal e corpos das embarcações abatidas. Tudo o que não havia sido consumido pelo fogo matemático ou pela gravidade do planeta, deveria ser reutilizado ou levado para os serviços religiosos oficiais. Nossos homens e mulheres que morreram em serviço seriam velados como heróis.

Segundo estimativas mais de três milhões de soldados do Qlifot do Principado da Estrela da Manhã foi morta e não menos do que quinhentos mil membros do Sefirot perderam sua vida naquela batalha.

Em nossa nau capitânia a sagrada bandeira do Conglomerado Mainard foi hasteada, o hino do Conglomerado foi entoado alto e claro, reforçando a confiança que tínhamos na fé do Sefirot. Ainda éramos conhecidos como os temidos Crias de Vesta Draconis, o melhor batalhão de todo o weltraum e que nossos inimigos tremam quando ouvirem nosso nome.

Cárdu Remo, jornalista oficial do sagrado Sefirot do Conglomerado Mainard.