Espaço Profundo
“Conferindo fornecimento de oxigênio. Feito. Despressurizando cabine. Feito. Saindo do módulo lunar.”
Era uma paisagem desoladora, em mil tons de cinza, e o negrume do espaço profundo no céu, interrompido apenas pelas numerosas estrelas. Não há atmosfera na Lua, então dá pra ver mais estrelas aqui do que na Terra. Mas não vim pra cá pra fazer turismo. Não mesmo.
“Astronauta Marcos, destaque o veículo lunar do módulo, pegue os equipamentos na caixa vermelha e vá para o ponto X da missão.”
Perfeito. Essa missão é tão importante que eles não contaram nada para mim, e me darão as instruções do que eu devo fazer. Não tenho companheiros, foi construído um módulo para um tripulante apenas. Eles não querem que algum segredo se espalhe. Mas como farão quando eu souber do que se trata?
Bem, separei o veículo lunar do módulo. Parece um carro sem lataria. Mas quem precisa de lataria aqui na Lua? Agora tenho de pegar a caixa vermelha e cumprir a missão.
Estou no Mar da Calmaria. É uma grande planície, no meio de tantas crateras, mas tão grande que parece um mar. E porque está tão lisa, que foi chamada de Mar da Calmaria, um local perfeito para as alunissagens. Tenho de ir até um certo ponto e usar as ferramentas que encontrar na caixa vermelha, para fazer, o quê?
“Astronauta Marcos, use o GPS e vá para as coordenadas X 545548319 Y 12478661.”
Certo. É aqui mesmo, no Mar da Calmaria, mas a meia hora de distância, dirigindo a 40 quilômetros por hora. Não posso ir muito rápido. Um montinho funcionaria como uma rampa, fazendo meu veículo voar devido à baixa gravidade. E ele não foi projetado para isso, e poderia quebrar a suspensão quando chegasse ao chão. Bom, não tem problema, tenho todo o tempo do mundo. Ou da Lua, no caso.
O que é isso? Estou vendo algo, uma coisa escura, enfiada no solo da Lua. Contorno a coisa, para olhá-la pelo lado do Sol. A não ser que eu esteja muito enganado, esse é o objetivo da missão. Confiro as coordenadas no GPS. São as passadas por Houston. Uma nave. Alienígena. Bem perto de onde aterrissei com o meu módulo.
“Astronauta Marcos, abra sua caixa e use a perfuratriz para fazer um buraco de cinco metros de profundidade ao lado da nave. Depois, você deve montar os explosivos, colocá-los dentro do buraco feito, e então, detonar os explosivos.”
Santo Deus! Eles querem mandar a nave alienígena para o espaço! Não querem que saibam que podemos não ser a única espécie inteligente na galáxia! Não há como saber de onde isso veio. Bem, só me resta fazer o serviço.
Pego a perfuratriz e faço um buraco de três centímetros, mas com cinco metros de profundidade. Armo a bomba. Coloco-a no buraco. Estendo o fio de detonação e me afasto da nave. Sem atmosfera, a explosão será fortíssima. Deve ser por isso que o carro dispõe de garras. Vou detonar os explosivos.
“Marquinhos! É o grande dia!”
Hã? Minha irmã mais nova? Abro meus olhos. Estou no meu quarto. Foguetes no teto. Ah, sim. É meu aniversário de doze anos. Coloco minha camisa da NASA e desço para o mundo.