A Verdadeira Máquina do Tempo - parte 3

– Não creio que esteja longe de alcançar o meu objetivo. A cada nova experiência consigo dominar mais e melhor minha capacidade mental. O medo é mesmo o meu maior inimigo. Tenho, aos poucos, conseguido dominá-lo e quando isto acontece integralmente, a comunicação torna-se bem mais fácil e nítida.

Estas palavras, Peter dirigia à esposa uma semana após o incidente. Não permitira que o abalo o desviasse do rumo. Encontrava-se agora em outra fase da experiência; sentia-se mais seguro e controlado e a comunicação tornara-se mais clara e proveitosa. Andava às voltas ultimamente com novos estudos e novas teorias. Uma delas, complicada e obscura era a teoria do hiperespaço, na qual admitia a existência de dez dimensões. Reconhecia, é claro, que somos incapazes de enxergar as seis dimensões extras. Nosso cérebro não consegue detectá-las. Seria como explicar o que são cores para um cego de nascença. Mesmo assim, convencia-se Peter de que esta teoria não só é verdadeira como pode ser a solução para os mistérios da física.

A gravidade é um exemplo de como hoje o hiperespaço simplifica tudo: não há elo entre o Sol e a Terra e mesmo assim um atrai o outro. Da mesma maneira é difícil entender como a luz, que é onda, pode se propagar no vácuo onde não há nada ondulando. Dentre todas as fases do seu estudo, esta sobre a teoria do hiperespaço era a que vinha causando em Peter as maiores doses de entusiasmo, porque foi a partir dela que viu a possibilidade de se empreender as viagens no tempo. A teoria do hiperespaço torna isto teoricamente possível ao projetar a existência de atalhos pela quinta dimensão; eles seriam a estrada que conduziria aos outros lugares do tempo e do espaço. Essa teoria sugere que poderíamos usar outras dimensões para viajar tanto para trás quanto para frente, rumo ao futuro.

Tal já era o avanço de Peter em suas pesquisas e tão vastos os seus conhecimentos sobre todos os ramos da física que não havia mais, no âmbito das ciências humanas, o que pudesse representar novidade para ele. Todo o seu estudo passou a ter então conotação futurista; os cálculos e as fórmulas que desenvolvia visavam alvos inimagináveis pelo comum das pesquisas científicas. Como adquirira convicção de ser a quinta dimensão uma realidade, tencionava tornar esta realidade um fato concreto; para isto precisava, não apenas vivenciá-lo como bem o fizera, mas mostrar a todos por meios práticos e palpáveis a sua veracidade. Conseguiu por fim, convencer um seleto grupo de cientistas com os quais costumava se reunir; fê-lo por meio de cálculos. Estes tomaram-lhe dias de inteira concentração até que conseguisse encontrar a fórmula que procurava. Quando apresentou-a aos amigos estes não puderam conter o espanto.

– Tudo que agora preciso é demonstrar de uma forma prática o que já foi provado teoricamente – disse Peter em uma das reuniões.

– E como pretende fazê-lo? – perguntou um dos amigos.

– É o que venho tentando realizar. Tenho os meus meios. Não posso, todavia, divulgá-los agora. Saberão no momento certo. O que posso adiantar é que esta dimensão é um fato, para mim, comprovado, pois já estive nela. Analisem os meus conhecimentos e constatarão que não provém de uma fonte comum.

Quanto a isto não havia sombra de dúvida. Peter estava revolucionando o meio científico e seu nome já atravessava fronteiras, ganhando fama e respeito.

– Se quer ser prático, poderia começar por nos revelar como conheceu esta que diz ser a quinta dimensão; – se já esteve nela, como acabou de afirmar, deve tê-lo feito por alguma forma empírica e misteriosa. Sabemos que não utilizou nenhum veículo ou máquina especial.

– Certamente que não. Pelo que tenho concluído em minhas pesquisas, não será através de máquinas que empreenderemos viagens extra dimensionais. A teoria do hiperespaço torna possíveis as viagens no tempo através de atalhos pela quinta dimensão. Nossa ciência tem denominado de buracos negros ou buracos de minhoca estes atalhos. É do conhecimento dos senhores o que tem sido propalado a partir da descoberta, pelo menos em tese, de dez dimensões a preencher o Universo, ou Universos, como queiram.

– Sim. Mas sabemos que isto não passa de uma simples hipótese. Mesmo que elas existam, como poderia nosso cérebro reconhecê-las ou detectá-las?

– Não será através do cérebro que iremos detectar as dimensões extras. Estive, por vezes, propenso a revelar o que me levou de fato à convicção da tese que tenho tentado provar. Confesso que o que me impedia era a falta de confiança de que ela fosse aceita e, muito pior, o receio de que esta revelação pudesse abalar minha carreira e tirar de mim o único meio de sustentação. Mas isto foi há mais de cinco anos. Hoje penso diferente e o respeito e a admiração que conquistei são a minha maior garantia.

Os amigos se entreolharam e a sensação que se tinha no salão onde se reuniam era da mais pura expectativa. O silêncio dominou por um longo tempo e, pressentindo o clima, Peter retomou a palavra.

– Não é, na verdade, a minha descoberta, nada de sobrenatural. Diria que o sobrenatural está contido exclusivamente dentro da nossa concepção atrasada a respeito dos fenômenos transcendentais. É isto mesmo: transcendentais. Admirei-me, ao dar continuidade as minhas experiências, do quão pouco sabemos de nós mesmos. Falo do poder da mente presente em todos os seres humanos. Só que não damos a devida importância a esta enorme capacidade que possuímos. Falamos constantemente do cérebro, do poder do cérebro e deixamos de lado, o verdadeiro poder. Saibam os senhores que o que dá valor ao cérebro é a mente. Mas, como a ciência se baseia em fatos concretos e só estuda o que é visível, abriu o nosso cérebro, dissecou-o e ficou abismada com a sua complexidade. Ela não atentou, porém, para um fato de crucial importância: O que dá complexidade ao cérebro é a mente. Há milênios a capacidade e inteligência do homem não chegavam a uma fração do que é hoje e se estudássemos naquela época o cérebro constataríamos a sua simplicidade. O que é esta diferença senão o resultado do esforço do próprio homem em desenvolver sua inteligência, usando para isso a própria mente? Com este exemplo poderão entender a relação entre mente e cérebro e que a primeira é a criadora de tudo. Nela se originam todas as coisas.

– Tenho analisado cuidadosamente as fórmulas que nos forneceu. Elas são insofismáveis – disse outro participante.

– Não os faria perder tempo se não tivesse inteira convicção de que essas dimensões constituem uma realidade.

– Sim, sabemos disso. Mas, mostre-nos enfim, de forma concreta, a origem desta convicção. Fale de suas experiências práticas.

– Se entenderem a minha explanação a respeito das possibilidades da mente hão de entender que foi através dela que descobri o que a ciência vem postulando.

Seguiu-se a partir daí uma longa e detalhada explicação do processo utilizado por Peter: as viagens fora do corpo. Deu ao discurso um embasamento científico, embora tenha deixado claro que a antipatia de muitos cientistas com relação a algumas de suas idéias seria um entrave para a evolução do planeta. Em meio a um clima de suspense e atenção, um deles se levanta. Era o mais velho do grupo. Dr. Babenco, como o chamavam, foi direto ao explicar sua atitude.

– Sinto muito, mas não posso de maneira alguma, concordar com o que está fazendo. Para mim isto não faz sentido. Viagens astrais têm mais a ver com espiritismo e não com ciência.

– O espiritismo também é ciência, Dr. Babenco. Há décadas nós cientistas, vimos tentando desvendar os mistérios do Universo no que tange a existência ou não de outras dimensões além das que conhecemos. No entanto, muito pouco temos progredido por que não avançamos além do que nos dita o senso comum. Por isso, não conseguimos dar respostas satisfatórias e ficamos estacionados, perdidos em conjecturas. Mas eu tenho encontrado essas respostas.

– De que jeito, entrando em comunicação com os espíritos? Não acha que para um cientista isto é um péssimo exemplo?

– Não. Não acho. Como já disse, a ciência espiritual já é uma realidade. Os espíritos, como o senhor os chama, são seres que vivem em outro plano de existência, outra dimensão. Eles não necessitam, para viverem e se desenvolverem, disto que denominamos matéria. Seus corpos apresentam vibração molecular diferente da nossa. Deve se lembrar de quando mostrei, através de fórmulas que o senhor aprovou, que a matéria é, na realidade, a projeção da mente; ela não existe de fato. Pois bem, os seres evoluídos não dependem da matéria. A natureza deles é puramente mental. Vivem pela mente e se manifestam da forma que bem desejarem. Se quer saber, eles influenciam em nosso mundo muito mais do que imaginamos.

– Há sentido no que diz, mas não vejo desta maneira. Não foi o que ocupou os meus estudos durante toda minha vida até hoje, portanto, não é assim que vejo. Desculpe-me.

– Eu compreendo e, como o senhor, é a nossa ciência hoje; eu me incluo nela. Só que, após anos de incerteza e sem respostas, decidi enveredar por outro caminho. Hoje, possuo a coragem das minhas convicções e hei de lutar por elas.

Dr. Babenco não quis se deixar convencer e preferiu deixar o grupo. Isto representou para Peter a perda de uma grande oportunidade de fazer as suas pesquisas.

O velho cientista, apoiando-o, abrir-lhe-ia um caminho imensamente favorável à colocação de suas idéias. Porém, para satisfação de Peter, três amigos continuaram com ele, apoiando-o em todas as suas pesquisas.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 29/05/2012
Código do texto: T3694474
Classificação de conteúdo: seguro