A VERDADEIRA MÁQUINA DO TEMPO - PARTE 2

Como já tivera, pelo menos para ele, uma comprovação dos efeitos de uma provável ida a uma dimensão extra, sentia agora redobrado ânimo para avançar um pouco mais. O quarto em que estava fora preparado para esta finalidade: era suficientemente arejado, sem muitos móveis e objetos além de uma cama, um armário para os apetrechos diretamente ligados à experiência e duas cadeiras de estofo azulado. O ambiente era calmo, as cores amenas e relaxantes. Não era o quarto onde dormia o casal. Peter preferiu que assim fosse para que seus momentos de desligamento do eu físico se dissociasse por completo das horas de sono, inconscientes e reparadoras. A permanência de Janet ao seu lado deveria ser minimamente possível resumindo-se a visitas temporárias com avaliação rápida e precisa do seu estado geral.

A quarta dimensão é a duração ou o tempo. É a linha que leva cada ser quadrimensional, como nós, do começo ao fim da existência. Não percebemos esta dimensão, por isso não podemos avançar ou retornar no tempo para ver nossos eus passados e futuros. Este é, porém, o conceito da física baseado em estudos e pesquisas que estacionaram em um determinado ponto. Estudando-se o átomo, outras forças que agem dentro dele foram descobertas. É sempre assim: A supervisão de Peter e sua determinação em ver cada vez mais a frente do seu tempo é facilmente explicável. O que sabe hoje a ciência e tudo mais que vir a descobrir no futuro nunca passará de confirmação daquilo que sempre foi e sempre será a verdade. Um fato nunca deixará de sê-lo em função de uma opinião científica.

O trabalho dos grandes homens resume-se em corroborar a realidade e a investigação é, sem dúvida, o melhor caminho.

A teoria das supercordas – a noção de que as partículas que compõe o Universo poderiam ter a forma de cordas vibrantes, com cada vibração dando as características da partícula, fez os físicos desconfiarem que a partir dessa premissa seria possível descrever todos os componentes da natureza numa única teoria, mas só se o Cosmos possuísse nada menos que 26 dimensões.

O deslocamento de Peter para um mundo cuja realidade seria inconcebível aos nossos padrões humanos dava-se cada vez mais nítido e carregado de detalhes. Estes impressionavam a Janet não menos que a si mesmo. Trazia ele para a esposa e para o enriquecimento de seus relatórios pormenores incríveis, dificilmente associáveis ao tipo de vida que estamos acostumado em nosso plano de três dimensões. A partir do quarto mês desta prática a convicção de Peter só fazia aumentar. Por esta época, graduou-se em mecânica quântica, somando esta faculdade à de física, sua grande paixão e formação aos vinte e três anos de idade. Através de teses e monografias expusera pontos de vista causadores de espanto e admiração. Seus cálculos eram precisos e despertaram interesse no meio científico. As experiências astrais eram, todavia, um segredo entre ele e a esposa apenas. Somente falaria delas quando oferecessem base científica as suas descobertas.

A acuidade mental de Peter, conseguida pela prática e pela perseverança em suas viagens começou a ampliar a visão dos ambientes que visitava. É sabido, por experiência individual, que a percepção espiritual do ser torna-se mais nítida na medida do equilíbrio e diminuição de suas preferências físicas grosseiras e Peter vinha há meses tentando se melhorar neste sentido. Abandonara as carnes vermelhas, o fumo e entregara-se a exercícios concentrados de respiração. Sentia-se muito mais leve, receptivo. Nas duas últimas viagens já pudera distinguir melhor um do outro os seres que via. Sua vontade mais controlada permitia-lhe manter por muito mais tempo a imagem original de cada ser antes que esta se transformasse causando-lhe confusão mental. Comprovou aí Peter o grande papel da mente na comunicação interpessoal.

Como na quarta dimensão, a cada momento uma série de variáveis define o que seremos no instante seguinte, a versão que fica (o eu normal) é apenas uma entre infinitas que poderiam rolar. É uma sequência de personagens que podem ser assumidos por nós ao longo de uma existência. Partindo deste entendimento, concluiu Peter ser a quinta dimensão nada mais que o conjunto de todas essas versões.

Viu-se em dado instante, sobre imensa plataforma que lhe pareceu líquida ou mais precisamente um espelho d’água de impressionante beleza. Os seres iam e vinham desfilando à frente do corpo astral de Peter. As imagens dos seres variavam em concordância com o estado mental do cientista. Via-os agora como seres angelicais, de asas multicoloridas, hora como feras diabólicas de enormes orelhas, rostos avermelhados e com chifres. Ciente de ser puramente mental a sua experiência, Peter buscava o autocontrole. “Preciso me concentrar e ver realmente o que quero e preciso, a bem das minhas pesquisas”. A este pensamento a situação se alterava e o ambiente também. Aos poucos ia o cientista adequando o meio a sua vontade, trouxe um rio de águas calmas e cristalinas e para baixo de si um tapete de grama ensolarada de uma manhã de primavera. Sentiu com isto um estado de relaxamento jamais experimentado. Não quis acreditar, mas ouviu que uma voz a ele se dirigia.

– Não vou dar a você permissão de conhecer minha aparência original. Diria que é melhor deste jeito. Parabenizo a sua inteligência e a coragem, principalmente. Este é apenas o seu primeiro passo no universo multidimensional.

– Em que dimensão me encontro? – quis saber Peter. – A conversa, situada no reino do pensamento, fluía com a rapidez de um raio. Em poucos minutos de tempo cronológico, conheceu Peter aspectos da física referentes a anos de estudo em universidades convencionais. Estava de todo fascinado, mas uma onda, de modo incontrolável, começou a querer dominar o todo do seu ser. Dominado por esta onda de negatividade não só a aparência da criatura tornava-se cada vez mais horripilante, como também, na mente de Peter um som macabro e cavernoso torturava-o sem cessar.

– Está diante de seres que não conhecem barreiras de tempo ou de espaço. Pela sua pergunta deduzo que pertença a um estado ou mundo limitado por dimensões. Sua mente parece grosseira e a sintonia que emite parece carregada de energia inferior. Todavia, isto é consequência da sua falta de adaptação a este plano. Diga-me agora a qual dessas formas corporais você pertence.

Dizendo isto, iniciou o ser uma séria de transformações, cada uma apresentando níveis distintos de vibrações. Desfilaram diante da visão astral de Peter formas inimagináveis a nossa humana e limitada concepção. Colocar em palavras, então, é tarefa muito mais difícil. Poderia dizer que o ser mudava o seu aspecto como faz a superfície de um lago que, afetada pelas diferentes refrações da luz ao longo do dia, passa de turva a cristalina, mostra-se densa e compacta num determinado momento para se purificar no momento seguinte; matizes surgem, desaparecem para novamente surgirem de forma distinta confundindo a visão, hora acalmando hora deixando leve impressão de mal estar. Talvez pareça grosseira e insuficiente a comparação, mas não há nada no universo tridimensional que possa se assemelhar ao que testemunhava a visão astral de Peter.

A série quase interminável de identidades astrais só fazia acender em Peter a convicção da existência de inúmeros planos de existência, tendo tudo a ver com os diferentes níveis de frequência mental do indivíduo.

– Por favor, pare! Não consigo acompanhar a sua evolução – exprimiu-se desta forma Peter quando percebeu sua limitação.

– Qual a sua forma? Surja para mim, então – disse o ser.

– Não sei como poderia fazê-lo. Não pertenço a este plano.

- Isto não faz sentido. Se pode se comunicar comigo, certamente este plano também pertence a você.

– Tenho um corpo físico, constituído de matéria que deixei repousando na Terra.

Um intervalo um pouco maior do que o normal entre este diálogo chegou a preocupar o cientista, mas logo a voz se fez ouvir novamente.

– Então é mesmo um estado grosseiro, matéria orgânica perecível, nada mais do que um envoltório. Livre-se disso imediatamente.

Só então percebera Peter que, tão rápido como um raio, estivera o ser no plano de três dimensões. Conforme instruções, Janet deixara-o envolto em sua experiência só reaparecendo no quarto duas horas mais tarde. Um grito de terror foi sua primeira reação ao ver o estado do esposo.

– Peter! Peter! Fale comigo. Você está bem?

Estava lívido, totalmente paralisado e sem sinais de respiração. Mais do que depressa, iniciou o procedimento de trazer o marido à consciência, embora contrariando as orientações dele.

No plano astral mental a situação não era de menor agitação.

– O que fez? Sinto que algo não está bem.

– Simplesmente desprendi-o do seu corpo físico. Não precisa mais dele; bem-vindo à quinta dimensão.

– Não posso! Não posso!

– Peter! Peter! Você está bem?

Peter abraçou a mulher, tateando-lhe em seguida os braços e o rosto como a se certificar de sua presença. As cores lhe voltaram às faces, juntamente com um grande alívio. A concentração de glicose que Janet lhe aplicou nas veias fez com que reagisse à perturbação causada pelos pensamentos de medo, o único obstáculo a um bom progresso nas viagens astrais.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 24/05/2012
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