Exploradores de Marte - Revisado

A Chegada ao Planeta Vermelho

A areia era vermelha, alienígena, e tornava quase impossível enxergar quando o vento soprava. O traje o protegia, mas tornava seus passos lentos, a caminhada no estranho mundo um exercício de perseverança. Por sorte, Douglas Connor passou por um longo período de exercícios antes e durante a longa viagem pelo vácuo que separava a Terra e Marte. Ainda assim, ele estava exausto.

"Shang, estou na entrada, e encontrei o robô", enquanto falava no rádio de seu traje, Douglas olhava para o pequeno aparelho a seus pés, uma miniatura de tanque de guerra com antenas e painéis solares no lugar de canhões. Shang, sua única companhia nos últimos meses, aguardava dentro do módulo de aterrissagem. O planejamento da missão previa que apenas um dos astronautas saísse da nave no primeiro dia.

Douglas não podia deixar de sentir uma certa pena de seu colega de viagem, que passou meses dividindo o espaço da pequena nave espacial, mas que ainda teria que aguardar antes de chegar a sua vez de pisar no solo do planeta vermelho.

"Douglas, você acha que consegue entrar na estrutura?". A comunicação entre eles era apenas por rádio, o que devia deixar ainda mais frustrado seu colega. Douglas procurou compensar descrevendo o que via.

"Não pela entrada principal. Está tudo coberto pela areia, como nas imagens que o explorador transmitiu. Mas parece que existem alguns buracos, como se fossem janelas. A estrutura parece ser uma espécie de ruína de uma torre ou edifício, e acho que consigo escalá-la para tentar entrar por alguma abertura mais acima".

"Não se arrisque. Se algo acontecer com você, não sei se me autorizarão a sair para resgatá-lo".

Douglas sabia que seu colega tentaria de todas as formas convencer o comando da missão a deixá-lo sair, se ele precisasse de ajuda. Quando iniciaram a viagem, eram dois estranhos, de duas sociedades e culturas diferentes, cada um representando uma das superpotências, a nova guerra fria acompanhando-os em seu vôo. Mas os meses de isolamento criaram uma relação de confiança e camaradagem. Mesmo assim, a definição da missão era que sempre um astronauta permaneceria a bordo, não importa o que acontecesse, e Douglas tinha certeza que seu colega não iria desobedecer.

"Não vou me arriscar. Creio que posso escalar uma área irregular que estou vendo, e chegar em uma janela do segundo andar da construção. Afinal, é para isto que estamos aqui. Imagine o que aconteceria se voltássemos sem ter sequer entrado na estrutura".

Shang riu, e concordou. "Acho que seria melhor ficarmos aqui mesmo. Se não fosse por esta descoberta, nunca teriam arriscado enviar uma missão tripulada para cá".

"Nunca teriam pago a conta de uma missão tripulada, você quer dizer". Shang concordou. Foi só graças as imagens transmitidas pelo robô explorador, que persistia explorando a superfície do planeta vermelho anos depois de todas as previsões mais otimistas sobre sua longevidade, que a missão se mostrou possível. Graças ao robô e suas imagens de uma construção claramente artificial, em um mundo inóspito a vida, que varreram o mundo e despertaram a imaginação de todos os povos.

"E tudo indica que nunca mais vão pagar outra viagem destas", completou Shang, o ressentimento visível em sua voz. "A crise econômica só piorou nos últimos meses. Se já não tivéssemos partido, acho que teriam suspendido a missão".

"É, e se meu amigo aqui não tivesse encontrado este edifício, nem teriam pensado em reativar o projeto. Seriam pelo menos mais cinquenta anos sem vôos tripulados ao espaço".

Douglas olhou uma vez mais para a edificação, protegendo os olhos do sol, maior e mais brilhante do que estava acostumado, e subiu por escombros que cobriam a estrutura, procurando por aberturas que levassem a seu interior.

Não foi difícil encontrar aberturas que pareciam um dia ter sido portas, janelas, ou mesmo paredes desmoronadas. Mas pouco havia para ser visto, em cada lugar que Douglas entrava.

Por horas, Douglas Connor investigou a estranha construção, rapidamente percebendo que nada encontraria nos andares superiores. Tudo havia sido destruído pelo tempo. Foi só quando encontrou uma escada protegida por uma porta, uma porta que parecia feita para um ser humano utilizar, e começou a descer mais e mais, que suas esperanças se reacenderam. Era uma longa escadaria, e aparentemente estava isolada do mundo externo por pesadas portas em cada andar.

"Sabe", comentou Shang, enquanto ele descia um andar após o outro, "eu fico me perguntando como serão os seres que construíram este edifício? Será que são parecidos conosco? e, mais importante, será que são deste mundo, alguma estranha civilização que se desenvolveu aqui há milhares de anos, quando ainda havia água na superfície, ou será que são viajantes de alguma estrela distante que apenas estavam de passagem?".

"Nem uma coisa, nem outra", respondeu Douglas, "eles eram humanos como nós".

"Por que você acha isto?"

"Porque eu acabo de encontrar um crânio humano."

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A Partida do Planeta Vermelho

Foram duas semanas de investigação, mas muito pouco se pôde descobrir além do crânio e alguns ossos. A escadaria era a única parte das ruínas relativamente intacta. Não apenas o tempo havia apagado quase qualquer evidência de como eram os habitantes do lugar, mas fazer uma investigação arqueológica dentro de um traje espacial, em um planeta hostil, era um trabalho lento e com poucos resultados.

E o tempo da missão, por fim, se esgotou.

Foi com pesar que eles partiram do planeta vermelho, tendo descoberto tanto - certamente a maior descoberta científica da humanidade - e ao mesmo tempo com tantas perguntas não respondidas. Perguntas que, talvez, permaneceriam por séculos sem resposta, as chances de outra expedição ser financiada no futuro próximo cada vez mais remotas.

"Será que a análise de DNA do crânio vai nos dizer alguma coisa?", Shang comentou, minutos após partirem, falando novamente do único assunto que dominou as conversas nas últimas semanas.

"Espero que sim."

"Já formou sua opinião entras as duas alternativas? Alienígenas ou uma civilização ancestral?", a descoberta havia reacendido o velho debate. A civilização, e talvez o próprio homem, teriam se originado de influências e manipulações genéticas de astronautas alienígenas, que visitaram a antiguidade, e foram confundidos com deuses? Ou houve uma civilização ancestral, avançadíssima, que se desenvolveu em algum continente submerso?

Os primeiros diziam que estes alienígenas haviam interferido com a evolução humana. O Crânio seria de um ser humano, levado por eles, talvez para um base no planeta vermelho. Os outros diziam que ele próprio é que era um astronauta, que fez o mesmo percurso agora feito por Shang e Douglas, milhares de anos no passado.

"E se não for nenhuma das duas coisas?", disse Douglas, e depois de um instante de silêncio, continuou, "uma vez um professor me contou uma terceira teoria. Ele disse que acreditava que a vida não começou em nosso planeta, que toda a evolução de nosso mundo foi artificial. Ele acreditava que os homens vieram de outro lugar, e transformaram o mundo em um lugar habitável. Talvez eles tenham vindo daqui, do planeta vermelho, de uma época em que ele tenha tido oceanos e vida, e, quem sabe, toda uma civilização."

"Receio que nunca saberemos. Com a crise e tantos problemas, duvido que enviem outra expedição para cá."

Douglas olhou uma última vez para o visor que mostrava o planeta vermelho, diminuindo mais e mais.

"É, nunca saberemos se foi daqui que viemos. Nunca saberemos se algum dia houve vida aqui."

E assim, se despedindo para sempre do planeta vermelho, iniciaram sua longa viagem de retorno para seu planeta natal.

Marte.

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Ashur
Enviado por Ashur em 18/05/2012
Reeditado em 18/05/2012
Código do texto: T3674466
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