Idéia Brilhante (miniconto)
- Carl, não devíamos sair da nave sem os retrofoguetes!
- Relaxa, capitão! Eu sei o que estou fazendo!
O capitão olhava desconfiado de dentro do seu capacete espacial. Mas, como todos diziam, Carl era brilhante! Primeiro aquela idéia de prender placas metálicas com campos hipermagnéticos em suas junções. Em seguida o escurecimento dos vidros da nave com fuligem para bloquear os raios ultravioletas do espaço exterior. Não era nenhum grande cientista, mas suas invenções eram sempre brilhantes. E baratas! Exatamente do que a agência espacial precisava. A regra era bem clara: "Não contrariem Carl! Deixem o inventor inventar! Estimulem!"
- Já estamos flutuando a uns 10 metros da nave! Qual é a sua idéia?
- Confia em mim, capitão! - e tirou do compartimento externo do traje uma espingarda de ár comprimido.
- Lei da ação e reação? Pretende disparar algo na direção oposta para sermos empurrados de volta em direção à nave?
- Melhor do que isto! E, de qualquer forma, esta sua idéia não funcionaria. Nós dois juntos temos muito mais massa que qualquer projétil que eu resolvesse disparar dela.
Movidos por inércia depois de empurrarem o casco da nave com as pernas num salto, eles ficavam cada vez mais distantes. Já estavam a 30 metros! Sem retrofoguetes ou qualquer outro meio para retornar, já estariam condenados a se distanciar sempre. Mentira: como estavam em órbita da Terra, o mais provável é que começassem a cair e queimassem na atmosfera como duas estrelas cadentes humanas.
- Isto aqui tem uns 60 metros. - disse tirando um carretel de um cordão muito fino de outro compartimento externo do traje. - Por segurança, quando estivermos a 50 metros eu disparo.
- Isto aí vai nos levar de volta? Vai arrebentar!
- Uma corda de nanocarbono, capitão? Arrebentar com a massa de nós dois juntos? Hahaha, francamente...
O capitão Charles ainda estava muito inquieto.
- Mas será que você não se esqueceu de prender esta corda na nave ANTES de resolvermos "pular" dela e chegarmos até aqui?
- Foi exatamente por isto que trouxe este brinquedinho aqui! - disse, levantando a espingarda.
- E o que você vai lançar lá? Um magneto?
Ao dizer isto, o Capitão ficou pálido!! Sim, porque o casco da nave era de um nanomaterial muito resistente, mas, definitivamente, não era atraído por magnetismo! Será que Carl se esquecêra deste "pequeno" detalhe?
- Carl, não me diga que vai tentar disparar um magneto! Pelo amor de Deus! Não agora, que já não existe mais chance de voltarmos!
- Tsc, tsc... - fez Carl desapontado. - Capitão, óbvio que eu sei que o casco da nave não é ferro-magnético! Não cometeria uma estupidez deste tipo.
- O que é então?
- Algo banal, barato, e que sempre funciona.
- Um gancho? Não acredito! Sua pontaria sempre foi péssima. Estamos perdidos.
Quando lágrimas de desespero começavam a escorrer das faces do capitão, Carlos anuncia pelo comunicador.
- É agora, capitão! Segure-se em mim! Hora da grande surpresa.
Tira outro objeto do compartimento direito. Amarra a ponta da corda bem firme numa extremidade deste objeto, e deixa bem solto o carretel com a corda de nanocarbono.
- A agência espacial não me paga para invertar coisas baratas? - coloca a extremidade com a corda amarrada dentro da espingarda de pressão. - Mais barato que isto impossível.
Quando Carl aponta a espingarda para o casco da nave, a 50 metros deles, o Capitão vê com clareza o objeto que ele pretendia disparar. E berra, pouco antes do disparo:
- Carl, seu idiota!!! Estamos mortos!!!
O objeto percorre rápido os 50 metros que o separavam da nave, carregando a corda junto com ele. Bate com força no casco da nave, porém... nada acontece!
- Mas... - Carl não acreditava no que via. - Sempre funcionou! Existe em todas as casas do planeta! Todo mundo usa. Nos banheiros, nas cozinhas... nunca falhou!!
- Um desentupidor de pias, seu idiota? NO VÁCUO???
A única coisa que restava a fazer era esperar tranquilamente (se é que isto era possível) até ambos caírem e queimarem na atmosfera. Triste final para um competente capitão e um "brilhante" inventor...
*** FIM ***