O MISTÉRIO DE SPRINGFIELD - FINAL
– Olhe! Está se mexendo! – exclamou o outro policial. O bicho levantou-se e deu algumas passadas em direção ao lado oposto ao do túnel; aí se agachou novamente. Jane soltou um grito de terror, logo sufocado pelas mãos de Patrick. Na frente do monstro e estendido no chão, aparentemente sem sentidos, estava o carregador. A criatura, com as patas, fazia gestos lentos e ritmados sobre o homem como se transmitisse ou recebesse, ou ambas as coisas, algum fluido que lhe era vital. Porém quando, erguendo um pouco mais os membros, ela deixou à vista outro corpo, o de Henri, o terror de Jane não pôde, desta vez, ser sufocado. Parecia vivo, a julgar pela coloração das faces, mas qualquer avaliação do seu estado era imprecisa e não havia tempo para isso. O grito da mulher alertara o animal que se virou e passou a vir na direção deles.
Seria tudo ou nada para os conhecimentos de Patrick. O segundo carregador, que acabara, naquele instante, de colocar todos os cartuchos de dinamite nos locais que lhe havia sido indicado, tirava agora, de uma das caixas, enorme refletor portátil ligado a uma bateria. Ao aproximar-se a criatura, suas pisadelas estrepitosas faziam estremecer tudo ao redor. A um sinal do inspetor, um clarão foi projetado sobre seus olhos que, imediatamente, paralisaram-se e perderam o brilho e a ação; como uma estátua, o bicho ficou imóvel e inofensivo. Estava a menos de três metros da imensa passagem. O ajudante de polícia, e logo em seguida Jane, passaram correndo diante do monstro imobilizado e foram parar próximo do túnel. O estado de Henri chocou a mulher e tinha tudo para tal. Estava vivo, mas quase sete dias ali prostrado deixaram-no irreconhecível. Emagrecera bastante, tinha a respiração fraca e estava t odo sujo de terra e detritos de carvão pendiam de sua barba inédita. O estado de inconsciência era preocupante e denotava um coma intermediário entre o leve e o profundo. Estaria salvo, contanto que fosse levado dali para fora o quanto antes.
Do lado de cá, Patrick notou que seu ajudante, ao correr com Jane, esquecera de levar consigo o detonador; ele mesmo teria que fazê-lo e, com todo o cuidado, pegou o artifício com a outra mão, agarrou a fiação condutora e colocou-a num dos ombros. Precisava ser rápido e preciso. Correu e, no meio do caminho, passou-o para o policial que veio ao seu encontro. O carregador, por sua vez, tudo o que tinha a fazer era continuar focalizando firmemente a luz artificial nos olhos da criatura até que Patrick retornasse para auxiliá-lo a atrair o monstro para a armadilha. Mas não foi isso o que fez. Sua ganância falou muito mais alto do que o instinto de salvar a própria pele. Desceu a pesada fonte de luz, mantendo sempre o mesmo foco e ajeitou-a sobre o seu pedestal. Pegou atrás de si uma das caixas vazias e correu, porém, em outra direção. Foi até as paredes rochosas, que ficara logo atrás, e co meçou a arrancar, dos filões que cintilavam a sua frente, todas as pedras de que era capaz, até encher totalmente o conteúdo da caixa.
Só que não previra a fatalidade que o aguardava. Ao puxar o fio do detonador para chegar até próximo ao túnel do outro lado, o ajudante de Patrick arrastou também, por uns dois metros, o cavalete, em cujos pés se enroscara o fio. A lâmpada não se apagou, mas o foco desviou-se totalmente do seu objetivo, o que fez despertar a fera. Para sorte de todos ou quase isso, ela não se voltou, mas seguiu em frente e entrou pela grande abertura, exatamente na hora em que o carregador retornava, aturdido pelo barulho. Patrick ainda tentou fazer alguma coisa para salvar o infeliz, mas já era tarde demais. Parou bem antes da entrada ao ver que a luz se apagara totalmente. Um grito pavoroso fê-lo estremecer e correr para juntar-se aos outros ao sentir novamente a predominância daquele verde assustador.
A saída agora era o túnel. Patrick posicionou o detonador. O primeiro dos carregadores, antes sem sentido, via-se agora bem e reanimado; quanto a Henri, teriam que carregá-lo. Ergueram-no com cuidado e enfiaram pela passagem. Quando já estavam bem adiantados, Jane, auxiliando os outros dois na condução do esposo, voltou o olhar e lá vinha Patrick a correr. Atrás de si um estrondo e, lá fora, a céu aberto, Pat e o homem de barba e chapéu de palha, perplexos e aterrados com tamanha explosão. Mas quando voltaram para trás suas cabeças e viram, ao longe, os seus heróis, o sentimento passou a ser bem outro. A alegria da solução de um mistério. Poderiam considerar solucionado o dilema que já não mais existiria. Deviam o agradecimento à coragem e decisão daquele herói de Jefferson City que colocou não uma, mas várias pedras sobre tudo aquilo.