Angelos
Anjos existem.
Num trailer, em algum ponto do nordeste brasileiro
Samuel Santos trabalha em seu projeto de web design. Melhorava a aparência de seu site. Coçando as costas, vai até a geladeira e pega um jarro de suco. Vai até o armário e pega um copo. Enche o copo. Depois pensa, e grita:
“Querida! Quer suco?”
Hillary, a esposa de Samuel, responde que não, e que ele devia lavar o copo. Samuel bebe, lava o copo e vai dormir.
Samuel acorda, horas depois, e vai tomar banho. Se despe, e novamente, a coceira ataca. Samuel coça, virando as costas pro espelho, a fim de saber onde exatamente coçar. E descobre que, no lugar onde a coceira atacava, haviam duas protuberâncias sob a pele.
“Querida! Vem ver isso!”
Semanas depois
Samuel estava impressionado. Onde ele descobriu as duas protuberâncias, haviam crescido um belo par de asas brancas. Samuel se isolou no tempo em que as asas cresciam, e Hillary fazia todas as tarefas externas. Hillary gostava que Samuel tivesse se tornado um Angelo, que era como chamavam as pessoas que sofriam essa rara mutação, caracterizada pelo aparecimento de asas. Mas também estava triste, pois se Samuel fosse descoberto, seria mandado para Nova Angeles, uma ilha construída especialmente para Angelos, e que ficava ao largo do Chile, distante mil quilômetros da costa.
Samuel queria voar. Hillary disse para ele ser discreto. Então Samuel se foi. E voou. E uma pessoa viu Samuel voando e chamou o exército.
Quando Samuel voltou ao trailer, estava extasiado, nunca sentira tal prazer antes. Foi dormir, ainda suado, e caiu no sono.
Foi acordado, horas depois, com alguém dizendo num megafone:
“Angelo. Saia sem oferecer resistência. Sabemos que está aí. Viemos levá-lo.”
Era Otto Wergner, capitão responsável pela captura de Angelos no Brasil. Samuel promete para Hillary:
“Eu voltarei.”
Saiu. Hillary chora. O exército leva Samuel.
Nova Angeles
Samuel sai do helicóptero e conhece Hugo, outro brasileiro. Ele explica as regras, mas Samuel responde:
“Não estou interessado. Quero voltar pra minha esposa.”
Hugo comenta que Samuel ia receber o chip de rastreamento logo, para que os guardas o localizassem. Samuel disse:
“Então escaparei.”
Dias depois, Samuel é levado para receber o chip, e Hugo vai junto. Quando estão entrando no hospital, Hugo voa pra longe, levando vários guardas em seu encalço. Samuel, entendendo, decola na direção oposta e os guardas que restaram o perseguiram. Os guardas atiram com atordoadores em Samuel, acertando alguns, mas Samuel estava decidido, e consegue continuar voando, deixando os perseguidores para trás.
O trailer
Samuel chega de tarde e Hillary recebe-o com muita emoção. Samuel diz:
“Te amarei para sempre. Espere por mim.”
Hillary promete ficar onde está.
De manhã, o exército chega, e Samuel voa para longe de seu amor, levando o exército consigo. O capitão Otto é autorizado a usar armas letais.
Três anos depois
Hillary recebe uma caixinha e a abre. Era uma pena branca. O pequeno Samuel Santos Junior brinca com a pena.
Anjos existem.