A FÓRMULA DO CAOS - CAPÍTULO XII

A viagem inaugural partiu, como previsto, às 7 da manhã de primeiro de janeiro de 2017. Na verdade (e disto eu bem sabia) às 7:09. Seu Bosco empurrava louco os passageiros nos vagões, gritava com o maquinista, mas não teve jeito: o trem partiu com nove minutos de atraso. Isto eu já sabia que aconteceria, de um jeito ou de outro, há alguns dias... Aguardei o retorno "ansioso" (estou sendo sarcástico!) às 9:02. Pontual. Eu já sabia.

Vi Seu Bosco na plataforma! Ele anotava satisfeito os horários de partida e de chegada! Eu estava impaciente, queria usar meu algoritmo em previsões mais ousadas!

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Cheguei em casa, olhei meu aparato na cozinha. "Cumpriu bem seu papel! Hora de ver o resultado!". Não desmontei nada, não tive coragem! Deixei ele continuar medindo. Mas descarreguei em um pendrive as imagens até então obtidas do termômetro.

Não foi difícil programar um reconhecedor de imagens para aquilo. Imagens praticamente estáticas, tudo o que variava era a altura de uma coluna de mercúrio. Fácil transformar aquilo em sequência numérica!

- Caramba, posso adaptar isto para medir um pluviômetro, e conseguir também o nível das chuvas! Seria o meteorogista mais confiável do mundo, ao menos para esta região!

Inseri feliz a sequência de temperaturas no meu programa. 27 graus, 25 graus, 15 graus (eu me lembrava bem deste dia imprevisivelmente frio!), 20 graus... Meu programa improvisado reconhecia as medidas nas imagens sequenciais com precisão!

Gerei o algoritmo e a sequência prevista. Tudo continuou como previsto: o algoritmo gerando continuações da sequência, hora após hora. E eu nem mais tinha motivos para duvidar de sua precisão. Até o fatídico dia 21 de fevereiro de 2017, exatamente 7 horas da manhã: a temperatura ambiente prevista era de 100 graus celsius!!! Não consegui mesmo segurar o palavrão: "Puta que pariu!!!!"

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Me sentei, tentei entender o resultado. A medida seguinte indicava 25 graus. As posteriores, também normais. Mas... o que significavam aqueles 100 graus no às 7 horas da manhã do dia 21 de fevereiro de 2017? Por mais breve que fosse, certamente nenhum ser vivo sobreviveria a isto! Um ataque nuclear? Perguntaria isto a John, se uma bomba nuclear poderia explicar tal aumento de temperatura... Mas o Brasil até entáo era um país pacífico! Quem o atacaria de tal forma covarde?

Descartei logo o ataque nuclear. Uma catástrofe solar? Estaria nosso sol bem mais instável do que imaginávamos, e explodiria no dia 21 de fevereiro na forma de uma gigante vermelha? Improvável! Se uma hora depois, às 8:00, tudo aparentemente voltaria ao normal... O sol se expandir numa gigante vermelha seria algo muito mais duradouro!

A idéia de explosão nuclear voltou à minha cabeça. Era a única explicação, embora descartado um ATAQUE nuclear. Acidente? Existiam usinas nucleares próximas? Não existiam... E eu também acreditava que a temperatura deumaonda de choque nuclear chegaria a temperaturas bem superiores a 100 graus! Perguntaria isto a John quando pudesse, sendo ele expert no assunto.

"Depende da distância", pensei. Uma explosão próxima certamente atingiria temperaturas de milhares de graus. Mas, a alguma distância específica, poderia bem chegar a esses 100 graus. Letal, de qualquer forma...

Olhei de novo a data: 21 de fevereiro! A extrapolação das anotações do Seu Bosco acabavam no último trem de 20 de fevereiro. Óbvio! Com tudo arrassado da manhã do dia 21, nada mais haveria para ser anotado depois! Sem trens, sem estações... sem pessoas! Todas carbonizadas! Quem mais "mediria" as chegadas e partidas de trens derretidos?

Procurei desesperado outras alternativas. Uma supernova estaria para explodir? Um meteoro próximo de uma colisão? Pensei desconfiado: "Será que divulgariam mesmo um evento apocalíptico destes, mesmo certos de que ele aconteceria?". Minha paz acabou neste exato momento! "Maldito algoritmo!!! Gostaria de nunca o ter descoberto!!"

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John, como de praxe, entra ofegante em minha casa.

- Cara, você sabe que deixei o laboratório, né? Tenho um projeto pessoal que me cutuca a cabeça a tempos, que eu estou doido pra por em prática!

- Você não vai me dizer mesmo o que aconteceu lá, não é?

- Você me conhece bem! Fiquei de saco cheio de ficar "medindo resultados de experiências". Queria criar coisas novas, e percebi que lá nunca teria esta oportunidade.

- E o que isto tem a ver com o trem?

- Tudo! Te garanto: tudo mesmo!

Penso um pouco. Eu o conhecia, ele estava escondendo alguma coisa!

- Você trabalhava com fisica nuclear! Que faria numa estação de trem?

- Prefiro esperar estar tudo pronto antes de divulgar, cara. Mas a idéia é boa! Não confia em mim?

- Mas o que é???

- Ah, sei lá! - e brinca. - Quem sabe eu esteja pensando numa locomotiva atômica.

- Todo mundo tentando se desfazer desta praga, e você querendo colocar plutônio no motor de um trem...

- Urânio mesmo, cara! - era agora incapaz de saber se ele brincava ou falava sério. Sempre achei que John daria um ótimo ator! - Pense bem, é ecologico, não vai mais queimar diesel...

- Incrivel! Você está mesmo falando sério?

- Cara, bincadeira! Não existe esse negócio de trem atômico.

- Vindo de você não duvido nada.

Tinha até esquecido do problema principal com essas história doida de Trem Atômico. Brincadeira? Projeto sério? Não sabia mais diferenciar. Mas havia outro problema para resolver, que precisava rápido compartilhar com alguém.

- John, lembra daquela minha experiência como tempo? A idéia de extrapolar as medições de temperatura?

- Sim.

- Olha o gráfico aqui com a predição. Me diga o que você acha dele.

Quando vê o pico de temperatura de 100 graus em 21 de fevereiro, berra:

- PUTA QUE PARIU!!!