A FÓRMULA DO CAOS - CAPÍTULO VI

John Miguel bate à minha porta uma semana depois. Tira um pequeno cubo cinzento de sua mochila, e o coloca na mesa de centro da sala de casa.

- Não foi fácil, cara! Eu podia ter perdido o emprego por isto, se alguém descobrisse!

- E sei John. - pego o "Grey Album" - Mas valeu a pena!

Entrego a ele a obra tão desejada.

- Caramba!!! Está perfeito!! - diz depois de abrir o álbum. - Parece que acabou de sair da gravadora!

Este comentário era meio óbvio, já que ele pegou o álgum lacrado. Ou será que ele imaginou que eu havia "relacrado" o disco só para lhe entregar? Além disso nunca precisei mesmo abri-lo para saber do seu conteúdo, já tinha baixado suas faixas completas em MP3. Pensei em dizer isto a John, um purista do som do vinil, argumentando que a diferença era totalmente imperceptível... mas achei que não era hora de começar esta discussão tão polêmica, e me contive. Sugeri:

- Que ouvi-lo agora ?

Um tocador de vinil é algo muito raro hoje em dia, praticamente peça de museu. Também possuia um scanner de vinil, equipamento baseado em laser capaz de ler os discos sem contato mecânico algum, e que me lembro ter custado os olhos da cara quando o adquiri, mas nem pensei em fazer esta sugestão a John. Ele acatou imediatamente a idéia de colocar seu troféu para girar debaixo de uma agulha de diamante, que iria riscá-lo e deteriorá-lo um pouco mais cada vez que ele resolvesse repetir a audição de suas faixas de áudio. Bom, tem louco pra tudo neste mundo!!

- Olha, eu não sei para que você quer esta amostra de urânio. Mas espero que não esteja pensando em fazer nenhuma besteira com ela!

- Pode ficar tranquilo, John. - e completei, irônico: - Não pretendo usá-la para explodir nada!

John completa:

- "E=mc^2"!! Não se deixe iludir pela pequena quantidade, tudo bem ?

Da vitrola começa a sair o famoso acorde com o triplo solo de guitarra única. "Só o Killer Joseph mesmo pra fazer isto!!", é o que imagino John dizendo. Mas ele não faz comentário algum desta vez. John parece ter entrado em transe com a música! Eu também tento apreciar aquela audição, a primeira e última vez que ouviria o vinil original do "Grey Album" dos "The Darkest Skull".

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Tinha agora em mãos uma amostra radioativa e um contador Geisel. Adaptei meu programa para que ele gerasse na previsão um arquivo de som simulando os estalos previstos no contador, ao invés de simplesmente cuspir um punhado de números sequenciais. Tocaria então, após calculado um algoritmo preditor, a diferença entre o som captado pelo medidor e o arquivo de som gerado. Uma previsão perfeita ficaria caracterizada como completo silêncio, já que um som cancelaria o outro por serem complementares.

Capturei o som emitido pelo contador Geisel por alguns minutos, usando um programa simples que media os intervalos entre os estalos. Apliquei a sequencia gerada e cliquei o já famoso botão "Calcular Gerador pseudo-randômico", gerando uma continuação de uns dez minutos para a sequencia na forma de um arquivo de áudio. A diferença entre os sons foi silêncio absoluto! Mal podia acreditar no que ouvia, e comecei a comemorar sozinho feito maluco!!

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Seria até capaz de ouvir o "Grey Album" em comemoração, se ele ainda estivesse comigo! Mas a alegria durou pouco. Lembrei de em momento algum ter removido a tampa de proteção da caixinha de chumbo por onde deveriam sair as partículas radioativas para serem detectadas pelo contador Geisel. Como não havia também alterado o volume do auto-falante (pois o som que ele emitia não era dos mais agradáveis) não percebi que a entrada que estava sendo registrada para meu algoritmo era o mais puro silêncio radioativo (ainda bem, diga-se de passagem!!!). E, sim, meu algoritmo calculou corretamente: a continuação de 10 minutos de silêncio é, simplesmente, mais silêncio (ainda não havia começado minha pequena festa). E a diferença entre duas amostras sonoras de silêncio é: mais silêncio!!

Repeti a experiência, mas desta vez me certificando de deixar livre o pequeno orifício da caixa em frente ao detector, e aumentando o volume do aparelho para ter certeza de que ele realmente estava detectando alguma coisa! Deixei o algoritmo captar os intervalos entre os estalos por um tempo maior, cerca de meia hora, para poder calcular sobre uma sequencia numérica suficientemente grande. Calculei o gerador, dei o comando para que ele previsse uma continuação de 5 minutos para sequencia, começando exatamente em 90 segundos. Abri o auto-falante do medidor e a caixa de som do computador para começar a comparação exatamente no instante determinado: silêncio total!! Previsão perfeita!!!! Estaria mesmo um dos sons cancelando o outro com tanta precisão? Desliguei a caixa de som do computador, deixando só o contador Geisel: ouvi os estalos de estática já esperados. Desliguei o auto-falante do contador e deixei tocando apenas o arquivo de áudio com a previsão gerada pelo meu algoritmo: de novo os estalos característicos; embora sabendo que estavam invertidos em amplitude, auditivamente isto não faria diferença alguma. Fui aumentando o volume do contador Geisel, que continuava a medir as emissões da amostra em tempo real. À medida que aumentava o volume, os estalos iam diminuindo, até chegar num ponto em que a amplitude era a mesma das caixas de som do computador e os dois sons se cancelavam em silêncio total.

Era o experimento mais aleatório que eu era capaz de imaginar... e meu algoritmo podia prever!!!