Jovens Selenitas - FINAL
Trouxeram trajes espaciais bem ajustados aos cinco aventureiros. Sairam do módulo, agora despreocupados com a despressurização. "Vamos dar um passeio primeiro", disse o Capitão Bulsara. De início desligaram de uma vez o gerador gravitacional. Longe de ajudar, ele apenas atrapalharia aumentando o peso da nave de resgate. E que nave!!! Com quase 40 metros de altura, os garotos ficaram adimirados por não terem percebido um objeto tão gigantesco pousar do lado deles! Não tinha formato de projétil, e sim de um tronco de cone. A Nave Vimana 7, além de espantosa construção de engenharia, era também uma verdadeira obra de arte com as várias figuras com temas hindus esculpidos em baixo relevo na superfície prateada. Função prática? Nenhuma. Mas tais enfeites faziam toda a diferença, um contraste gritante com as naves toscas e sem graça construídas pela NASA.
- Pedro? Pedro? Onde foi parar este moleque?
Estimulado pela baixa gravidade natural do satélite, Pedro se encontrava a uns 50 metros do grupo repetindo o gesto dos primeiros astronautas a pouco mais de um século: saltava como louco, percorrendo distâncias incríveis a cada pulo. Como os trajes atuais eram bem mais leves e elegantes que aqueles trajes pré-históricos usados pelos primeiros exploradores, os saltos possíveis eram ainda bem mais longos!
- Seu amigo parece estar se divertindo! - disse o capitão Bulsara através de seu rádio. - Relaxa, logo logo ele se cansa da brincadeira...
Marcos duvidava disto. Ainda mais ouvindo o amigo repetir sem parar pelo rádio:
- É um pássaro? É um avião? Não, eu sou o Super-Man!!!
Super-Man? Ah, lógico! Marcos se lembrou daquele herói antigo, lá dos tempos do cinema 2D...
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- Esta descoberta do pequeno vulcão ativo foi bem inesperada mesmo! Acreditávamos há décadas que a lua era um corpo geologicamente morto, frio, mas isto... muda tudo. Ou não...
- Ou não? - Marcos estava curioso.
- Pode ser uma região de magma perto da superfície que ainda não solidificou totalmente. Pode ser algum efeito de maré desconhecido friccionando placas tectônicas antigas, algum impacto mais recente de um grande meteorito que derreteu uma região da crosta, etc... Mas é impressionante encontrar uma formação destas ativa aqui. Achávamos estarem todos os vulcões lunares extintos a pelo menos 2 bilhões de anos. E a idéia de usar o magma para fornecer calor foi brilhante!
O captão da Vimana 7 encarou Marcos desconfiado, através da estrutura de nanocarbono transparente de seu visor.
- Vocês não pretendem repetir nenhuma besteira do mesmo tipo, né?
Marcos olhou desconfiado. Ele saberia de algo?
- Não, lógico que não! Aprendemos a lição!
O capitão teria ficado desapontado com a resposta? Se sim, não o demonstrou com clareza. Apenas completou:
- Sei... Vamos estar de olho em vocês, podem ter certeza!
Foi uma ameaça? Um elogio? Uma brincadeira? Marcos não conseguiu decifrar a expressão do capitão indiano, que continuou:
- Bom, chame seus amigos, se aprontem! Vamos partir em minutos!
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A Vimana era ainda mais impressionante por dentro do que por fora! Câmaras e corredores lembravam de forma impressionante um templo hindu. Mesmo naquele impressionante equipamento tecnológico, os orientais nunca abandonavam a arte. Ela era tão importante para o funcionamento do conjunto quanto os equipamentos de estabilização de trajetória, os computadores de bordo, os sistemas de suporte à vida, etc.
- Bela nave, Capitão!
Ele não respondeu, mas via-se pela expressão (agora sem o capacete) que ele se orgulhava da nau espacial.
Como imaginavam, a tripulação no interior da nave era gigantesca! 50, 100 pessoas? Marcos acreditava que deveria ser algo em torno desses números. Qual deveria ser o tamanho do foguete para acelerar aquela estrutura imensa até a velocidade de escape do planeta Terra? Bulsara adivinhara a pergunta (será que ele era também telepata?), e respondeu:
- Na verdade não precisamos fazê-la decolar da Terra. Ela orbita o planeta, parte do espaço mesmo.
- Mas nunca ouvimos falar de uma nave deste tipo!
- Ouviram sim! Só não sabiam que era uma nave...
- Esta aqui é a... Estação Espacial do Oriente???
- A Própria!
- Mas... como conseguiram esconder isto durante tanto tempo ?
- Capitão Marcos, nunca a escondemos! Ela sempre esteve lá, dando voltas em torno da Terra, para quem quisesse ver. Vocês só não sabiam era pra que servia. - e ri diante do espanto do garoto.
- Sim, mas... ela vai ter de escapar da gravidade da Lua, não é? E pra uma nave deste tamanho, devem existir foguetes bem potentes acoplados nela. E nunca vimos nenhum...
Bulsara ri de novo. Entra numa câmara de temperatura agradável, e apresenta cadeiras aos aventureiros.
- Queiram tomar seus lugares, por favor.
Marta era a mais impaciente.
- Capitão Bulsara, quando vamos decolar?
Seu olhar acusa que ele já previa a reação de espanto dos aventureiros, e responde rindo de satisfação.
- Caros, já partimos. Estamos a caminho da Terra agora, a cerca de 5000 quilômetros da superfície lunar.
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- Vamos fazer uma pequena parada no meio do caminho, garotos. Mas será rápido.
Estavam todos impressionados, sem reação. Ana foi quem tomou coragem e quis saber mais.
- Capitão, nós nem sentimos a decolagem! Nenhuma trepidação, barulho... nada!
- Graças a vocês!
Os cinco se lembraram ao mesmo tempo: o CAMPO ANTI-INERCIAL!!!
- A nave toda está sob efeito dele. Inclusive agora! A gravidade que estão sentindo é do gerador gravitacional. A aceleração real a que estamos submetidos seria insuportável, precisávamos anulá-la.
- Ainda estamos acelerando?
- Sim, a viagem vai demorar bem menos dos 3 dias que vocês devem estar esperando.
- Mas... não vimos nenhum foguete!
- Não existem. Usamos propulsão iônica! E sabem da maior? Nem precisamos mais armazenar propelentes: acumulamos as partículas tênues lançadas pelos ventos solares. Bem aceleradas, são melhores que qualquer foguete! E ocupam uma fração quase desprezível do espaço deles...
- Vocês se reabastecem do próprio vácuo do espaço, que não é tão vácuo assim. - era agora Marcos, impressionado com a engenhosidade dos orientais.
- É isso aí, garoto!
- Mas... por que nunca usaram antes?
- Digamos que a propulsão era muito melhor do que poderíamos suportar. Até vocês terem a idéia do campo anti-inercial!
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Ninguém a bordo percebeu, mas a nave foi desacelerando até parar a meio caminho do sistema binário Terra-Lua. O Capitão projetou a trajetória do pequeno módulo prateado que aparecia no visor, e concluiu que a situação deles não era nada boa.
- Apollo 19, Aqui é Vimana 7. Podemos ajudá-los?
Ouve-se um murmurinho do outro lado da linha.
- Tudo sob controle, Vimana 7. Estamos à caminho da Lua, para resgatar os garotos.
- Os garotos já estão aqui conosco! E, francamente... parece que vocês estão à deriva...
Novo murmurinho, seguido de silêncio mortal. Ainda levaria algum tempo para o clássico orgulho norte-americado ser finalmente derrubado.
- Um problema menor. Já estamos solucionando.
- Nesta trajetória vocês vão se chocar com o satélite, e não orbitá-lo.
Novo silêncio.
- Asseguramos estar tudo sobre controle, capitão...
- Bulsara! Capitão Farrock Bulsara da nave Vimana 7.
Para quem pudesse ver de fora a cena, a Vimana 7 pareceria um gigante de platina perto do brinquedinho prateado da Apollo 19.
- Deixa este orgulho de lado, homem! Sabemos que estão com problemas! Vamos começar as manobras para acoplar seu módulo na base de nossa nave, ok? Desde já, bem-vindos a bordo!
O oxigênio estava no fim. Comida também. E não havia combustível suficiente para corrigir a trajetória. Mesmo que houvesses, eles só evitariam uma morte imediata por colisão para uma mais lenta, na qual acabariam víveres e oxigênio, e permaneceriam eternamente orbitando nosso satélite dentro de um esquife prateado. Eles eram orgulhosos sim, mas não eram suicidas.
- Capitão Bulsara, estamos iniciando os procedimentos necessários. Somos 4 a bordo.
- Mais uma vez, sejam bem-vindos!
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Pela primeira vez, a Vimana pousou na superfície da Terra. O pouso foi na Estação Espacial de Alcãntara, Maranhão, antigo estado da capital da República Latino-Brasileira das Três Américas. Os garotos estavam mesmo mundialmente famosos! Todo mundo queria saber de detalhes da aventura, como era a Lua, o que viram lá... Foram famosos por uma semana! Felizmente, pois nenhum deles aguentava mais tanto assédio de repórteres e fãs.
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<MARCOS inicia chat com PEDRO e MARTA>
<MARCOS> tudo certo, pessoal. pássaro pronto para voar.
<PEDRO> planeta vermelho, aí vamos nós! :-D
<MARCOS> ê cabeçudo! dá para ser mais discreto? podem estar nos rastreando!
<PEDRO> foi mal...
<ANA entra na sala>
<ANA> oi gentes!! tudo blz??
<PEDRO para ANA> :-* oi aninha!
<ANA> ma, cade o carlos ?
<MARTA> estou com ele no vocal do transcomunicador. vai entrar daqui a pouco na sala.
<ANA> Como vocês estão?
<MARTA reservadamente para ANA> às 1000 maravilhas, amiga! ele é um príncipe! :-D
<CARLOS entra na sala>
<CARLOS> e aí, moçada? tudo 99,9999 % ? hehehe
Era uma piadinha corrente numa era de computadores quânticos. 100% há muito tempo já havia deixado de significar certeza absoluta. Passou a ser um valor tão intangível quanto o infinito.
<PEDRO> fala Carola, amigão!!!
Marcos estava aliviado em ver que as desavenças entre os amigos foram deixadas para trás há muito tempo.
<CARLOS> o pássaro está bem alimentado, cap?
<MARCOS> alimentado e pronto.
<PEDRO> é aquela base espacial desativada?
Agora quem explodiu foi Marta:
<MARTA> Ê CABEÇÃO!!!! POR QUE VC NÃO ANEXA LOGO NOSSO PROJETO AQUI NO CHAT, HEIN???
Marcos, como sempre, é quem aparece para esfriar os ânimos:
<MARCOS> ela mesma, pedro!
<PEDRO> e o pássaro vai ficar, bem... voando por três anos?
<MARCOS> que nada! consegui aqueles fogos de artifício especiais.
<PEDRO> os propulsores ioni... - quase comete outra gafe! - os fogos elétricos? como conseguiu?
<MARCOS> não posso revelar agora, moçada. na hora certa eu digo.
<ANA> então, semana que vem né? na geladeira?
<MARCOS> isso aí! na terra do topo do... mundo. bom, vcs entenderam, né?
<MARTA> caramba, tão perto deles! não é arriscado?
<MARCOS> um velho truque, gente! o melhor lugar para se esconder algo de alguém é naquele lugar que esse alguém nunca imaginaria que iríamos escondê-lo, hehehehe.
<PEDRO> gente! - alertou o especialista em informática eleito pela turma. - detectei um delay suspeito. acho que estão tentando rastrear nossa conversa. DEBANDAR!
Todo o grupo desconectou ao mesmo tempo. Que bom que os modernos transcomunicadores ainda possuíam as pré-históricas baterias de alimentação. Nada melhor para desconectar imediatamente do que remover rápido o antigo acessório.
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- Almirante Bulsara! - o secretário se dirigia ao recém-promovido almirante da Vimana 15. - Interceptamos uma transmissão suspeita, embora não completa. Estamos tentando decodificar os trechos criptografados ocultos...
O olhar do almirante estava longe. Ele respondeu, tentando ser o mais casual possível.
- Esqueçam, não deve ser importante.
- Mas almirante, conseguimos identificar algo a respeito do "topo do mundo". Acreditamos que exista alguma base no Himalaia, bem do nosso lado, e considero isto uma ousadia sem...
- Como eu disse, não é importante! Deixem isto de lado.
Farrock Bulsara pôs-se a pensar, depois que o secretário deixou a sala. Lançador no Himalaia? Lógico que ele sabia! Ele mesmo sugeriu isto! Ele nem imaginava o que pensaria o mundo quando vissem a Vimana 7 partir. Uma estação espacial já considerada ultrapassada, abandonada em órbita da Terra? Inútil, perto das atuais naves de transporte lunares bem mais avançadas? Ninguém nunca entendeu por que ele a protegia tanto, ao invés de entregar logo a nave como sucata espacial para ser derretida e reciclarem seu material. Apesar dos motivos emocionais, obviamente, ele também tinha motivos bem mais concretos, que não podia revelar.
Marte? Que grande risco, meninos e meninas! Pouco mais de meia dúzia de bases marcianas, todas bem primitivas, estavam em funcionamento. Se por acaso ficassem em dificuldades, nem adiantava pensar em recorrer a elas: mal supriam suas próprias equipes! Se bem que a antiga Vimana 7 era, ela própria, bem mais auto-suficiente que qualquer uma das bases marcianas atuais.
Na viagem de resgate, todo mundo percebeu quando ele entrou numa pequena salinha para uma conversa particular com o capitão Marcos. Abriu seu coração: "O que eu queria mesmo era ir com vocês... Mas já que eu não posso, boa viagem! Até outra vez!!" E, tentando ser o mais discreto possível, forneceu ao garoto tudo o que ele pediu para sua segunda empreitada maluca. Relutou em liberar os propulsores iônicos, mas... Se era possível fazer a viagem em dois meses, com Marte próximo da Terra, por quê obrigá-los a uma tediosa jornada de 3 anos submissos às leis de Newton?
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Ao ver no seu visor holográfico o noticiário na antiga estação Vimana 7 se movendo inexplicavelmente, em direção a Marte, Farrock Bulsara não ficou nem um pouco surpreso. Ele já esperava isto, inclusive incentivara e ajudara. Fôra uma parte muito importante do processo. Se fôsse descoberto? Perderia sua patente, na MELHOR das hipóteses. Mas... e daí? O mundo não precisa de patentes militares para evoluir! Precisa de ousadia, que aquele grupo de 5 adolescentes provou ter de sobra! Uma lágrima escorreu pela sua face ao ver a Vimana 7 partindo em seu projetor holográfico, e ele disse emocionado:
- Boa viagem, meninos! Boa Viagem...
*** FIM ***