Jovens Selenitas - Parte 6 (revisado)
A NASA não sabia como revelar a bomba aos garotos. Sem dúvida a técnica era engenhosa, barata, totalmente viável, mas... eles não seriam capazes de reproduzí-la rapidamente! Deveriam revelar isto logo? Bom, os jovens pareciam estar bem acomodados na Lua. Uma "mentirinha" inocente não faria mal...
- Capitão Marcos! Nós estar a enviar já uma nave de resgate! Três ou quatro dias devemos levar para chegar aí, graças a vocês revelarem sua técnica revolucionária!
Frustrado por não ter conseguido levar a aventura até o final? Sim, Marcos estava! Mas aliviado com a certeza de que ele e a tripulação voltariam a salvo da aventura doida? Com certeza!
- Aguardamos ansiosos a chegada de vocês!
Cai a ligação. Um técnico comenta com o outro:
- Me sinto mal, mentindo assim. Nem começarmos a construir cápsula de lançamento!
- Começarmos em mais um dia ou dois.
- Nem sei por onde começar...
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O Continente Democrático Indiano sempre teve ótimas relações com a República Latino-Brasileira. Mas quando a província Norte-Americana foi incorporada, eles ficaram preocupados. Especialmente a província Siberiana, que englobava boa parte da antiga União Soviética, e a Província Sino-Himalaia, representada pela antiga China. Enquanto paisinho teimosamente separatista, eles não representavam grande ameaça. Mas incorporados à gigantesca República Latino-Brasileira, a coisa mudava de figura! Sim, eles mandaram espiões à NASA. Farock Bulsara era um dos melhores!!
- Boa tarde, Freddie!! - era este seu nome americano antigo, agora nome latino-brasileiro. A máquina parece perder mais tempo que o habitual concentrando informações... - Tenho informações quentes, caso confirme acesso...
Farock olha para os lados. Ninguém por perto... Impaciente, confirma:
- Peixe-espada!
O porteiro eletrônico resolve, como dizem os brasileiros, "soltar a língua".
- A NASA descobriu como os brasileiros se lançaram ao espaço. Uma mistura de propulsores convencionais com campos anti-inerciais, tudo custando menos de 2 mil dólares, com o cilindro de lançamento já pronto.
- Campo anti-inercial na cápsula... Já pensamos nisso, mas nunca tivemos coragem de usar. Que garotos ousados!!
Ele faz uma ligação direto com a capital, Nova Deli. Aquilo não podia mais esperar!
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- Capitão Marcos! Resgate já estar a caminho!
O alívio dos cinco adolescentes, ouvindo isso, era indescritível!
- Saber vocês que levar pelo menos três dias ne viagem, confirmam ?
- Certamente! Podemos aguardar este tempo!
Os garotos e garotas estavam sentados confortáveis fora do módulo, quando Pedro dá o primeiro alerta:
- Meu ouvido entupiu!
Marta logo resolve o problema:
- Tapa boca e nariz, e tenta soprar! É diferença de pressão! Isto deve resolver...
- Pra que esta doideira?
- Isto vai desentupir as trompas de Eustáquio. Igualar a pressão do ouvido médio com a da garganta.
- Trompas de quem??? Tá doida, menina! Eu não tenho isso não! Sou macho!!!
O capitão Marcos não conseguiu segurar a gargalhada.
- Lógico que tem! É um canal que liga a faringe ao ouvido interno! Sem elas, a pressão externa faria nossos tímpanos implodirem para dentro do ouvido médio.
Pedro segue o conselho, e para de reclamar. Aparentemente resolveu o problema!
- Gente, meu ouvido entupiu também! - é Carlos agora que reclama.
- Faz igual o Pedro! - recomenda Marta, embora ela própria tenha começado também a sentir o desagradável efeito.
Ana é a próxima a reclamar:
- Gente, meu ouvido está entupido!!
Ao sentir o desagradável efeito em seus próprios ouvidos, o capitão Marcos decide rápido:
- Pessoal, corre todo mundo para dentro do módulo lunar!!!! Estamos perdendo pressão: nossa atmosfera está vazando!!!
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- Devemos mesmo lançar? - perguntou o supervisor geral. - Nem sabemos ao certo como pousar, muito menos voltar!
- Descobrimos no caminho! Ainda existem informações que os robôs não revelaram...
- Deveríamos pedir ajuda aos indianos? - perguntou inocente um novato.
- De jeito nenhum! Nós resolvemos isto! Se esqueceram de nossas origens? Os "Estados Unidos da América" se curvando ao terceiro mundo??? Esqueçam!!
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A NASA, da província Norte-Americana, parte da República Latino-Brasileira das Três Américas, enganara os garotos. Mesmo barato, o resgate prosseguia a passos lentos. Embora óbvio, eles não compreendiam as implicações de todas aquelas tecnologias esparsas, assim reunidas de repente...
Os indianos, não! Eles compreenderam rápido a idéia, e se adiantaram. Lançaram antes!
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- Quanto tempo de ar temos, capitão? - Ana era a mais preocupada.
- Um dia e meio, eu acho...
- Não vai dar tempo deles chegarem... O que deu errado ?
- Nosso gerador gravitacional arriou, e não conseguiu mais segurar a microatmosfera.
De fato, todo mundo se sentia mais leve dentro da cápsula.
- Diminuiu quanto? - quis saber Marta.
- Alguém trouxe balança aqui ?
Carlos, tímido, ergue o dedo.
- Pensei em testar isso também!
Quando ele apresenta o equipamento no centro do módulo, com os dois pratos de medida e os vários pesos calibrados, Ana é a primeira a reclamar:
- Ah, grande coisa! Ele nos trouxe um comparador de massas, e não um medidor de pesos!
- Qual a diferença, menina chata? - quis saber Carlos; agora apaixonado pela Marta, só conseguia ver Aninha das piores formas possíveis. Como havia perdido tanto tempo com aquela garota sem graça? Agora estava inclusive preocupado com o amigo Pedro, apaixonado por aquela garota chata.
- Carlos, sua balança só vai conseguir nos dizer se as massas de duas coisas colocadas nos dois pratos dela são idênticas! Não vai medir a gravidade atual! Se você colocar um quilo de massa em cada prato, eles sempre vão estar equibrados independentes da gravidade!!! Tanto faz se medirmos na Terra, na Lua, em Marte, em Júpiter... os pratos sempre vão estar equilibrados!
Silêncio mortal. Quebrado por pedro.
- Eu trouxe uma balança digital!
- Um dinamômetro gravitacional, você quer dizer?
- Sei lá, capitão! O senhor é quem manda! Chame como quiser!
- Carlos, esta sua balança até que não será tão inútil!! Me passe aqui este peso calibrado de um quilo !
Marcos colocou sobre o "dinamômetro gravitacional" aquele peso de 1 quilo.
- 600 gramas... isso explica tudo.
- Explica o que, capitão?
- Ainda não é a gravidade lunar. Nosso gerador gravitacional continua funcionando, mas com potência muito baixa! Ele não consegue mais segurar uma atmosfera à nossa volta...
- E isso significa que....
- Que não podemos mais sair daqui de dentro! Lá fora vamos encontrar vácuo absoluto!
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Após 3 dias de atraso, a nave de resgate da NASA estava a 1/3 do caminho.
- Eles estão bem? Não tivemos mais contato...
- Eles estão ótimos!
Um jovem tripulante ousou questionar:
- Como pousaremos? Não vi nenhum plano de pouso!
O captão do módulo de resgate, a 150 mil quilômetros do destino, confessa:
- Eu também não sei. Esperava que isto fosse resolvido a tempo... mas até agora nada!
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- Quanto tempo de ár temos, capitão?
- Pessoal, é melhor economizar!
Ana explodiu:
- Ah, não!!! Não acredito nisso!!! Vou precisar agora economizar respiração também? Mas que... porcaria!!!
- Calma, Aninha! Todos nós precisamos! Até chegar o resgate...
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O clima dentro da nave de resgate da NASA era tenso.
- Não vamos chegar a tempo, cara! Estamos no meio do caminho ainda, e eles devem estar nos últimos litros de oxigênio dentro do módulo!
- Prosseguimos até o fim!
- E como pousaremos quando chegar? Não temos a mínima idéia!
- Tudo a seu tempo! Tudo a seu tempo!
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- Capitão Marcos? Podemos entrar? - o intercomunicador revelava que alguém estava lá fora da cápsula, em meio ao vácuo sideral que sempre ocupou toda a superfície da Lua.
- Quem são vocês?
Bela pergunta! Aquelas figuras atrás das roupas espacias que apareciam no visor, seja pela cor da pele, seja pelos olhos amendoados... definitivamente NÃO ERAM ocidentais! Com certeza não eram norte-americanos representantes da NASA que lá estavam, tentando resgatá-los!
- Vocês não são da NASA, né?
- Não, garotos! Eles demorariam demais... Lançamos nossa nave de resgate assim que seus robôs nos revelaram o método!
- Ué, como assim? Eles, os americanos, não sabem chegar na lua?
- Não! Há décadas eles pegam carona em nossos foguetes para chegar em suas bases lunares!!!
- Hehehehe! - ri Marcos. - Eu sempre desconfiei disso!
Há um silêncio ameaçador. O comandante lá fora, praticamente um dervixe vestindo capacete e trajes espaciais, insiste:
- Chegamos de uma longa viagem, rapazes!!! Está meio frio aqui... - e de fato, cruzando a pequena abertura das bordas do vale acima deles, o Sol já havia desaparecido. - Não merecemos uma recepção digna? - brincou.
O capitão abriu as comportas externas, permitindo que um indiano, um vietinamita e dois russos entrassem na câmara de descompressão do módulo...
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- Esperávamos representantes da NASA aqui! Por quê vocês?
- Rapazes e garotas!!! Sábios vocês! A maneira que chegaram aqui... Estamos adimirados!
- Bom... - Pedro se adiantou. - Agradecemos o elogio! Infla nossos egos, nos faz sentir importantes, mas... não nos responde nada! Cadê a NASA ?
O capitão indiano olha para o imediato, de feições claramente coreano-vietnamita, e revela:
- A NASA está a meio caminho, garotos e garotas! Mas não têm a mínima idéia de como pousar. Entendem isso ?
O capitão Marcos, o mais politizado da turma, quer saber:
- Mas vocês sabem! Chegaram antes! Como?
O Capitão Farock Bulsara decidiu que não era hora de esconder nada. Se abriu.
- Quando a província Norte-Americana foi anexada ao seu grande país Latino-Brasileiro, tanto os chineses quanto os antigos russos fizeram questão de uma fiscalização mais acurada! Revelaríamos a tempo, mas a coisas foram ficando fora do controle...
- Eles vieream nos resgatar...
- Eles estão enferrujados!! Não sabem mais como fazer! Estão atirando no escuro... Não duvido nada se daqui a dois ou três dias eles não vão pedir um SOS para nós, ou para o Reino Africano, ou mesmo para a Democracia Antártico-Australiana...
- Mas vocês... sabem nos levar de volta??
- Rapazes!! A idéia de vocês foi brilhante! Propelir junto campos anti-inerciais? Sabe a economia que isto representa, em termos de podermos dispensar acolchoados, adapdadores de aceleração? Lógico que sabemos! Vocês fizeram a exploração espacial evoluir 3 séculos num piscar de olhos!!!!!
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- Entendi que nossa filha está voltando, mas... Que língua é essa? Eles não falam inglês!!
- Tanto faz, Lia! - acalma seu marido Jonas, companheiro de 20 anos de casamenmto.
Um mundo dividido em nações? Jonas nunca aceitou isto! Um mundo dividido em 5 nações? Democracia Latino-Brasileira, Reino Africano, Continente Democrático Indiano, Democracia Antártico-Australiana e República Federativa Solar? Questionável! Mesmo porque, em pleno século 22, vésperas do século 23, ainda não existia nenhuma avaliação precisa da área extra-terrena do Sistema solar que poderia ser colonizada, que a nova república cobiçava! No momento, sua ridícula área territorial compreendia algumas centenas de asteróides próximos ao planeta explorados para mineiração. Pretendiam incluir a Lua como província também ? Apesar da proximidade com a Terra? E, mesmo que dispensassema Lua, ela seria provínvia de quem? Das Américas? Da África? Da Euro-Ásia? Da Antártica-Oceania??? Questão difícil... Deveria a Lua se emancipar como nação independente? Neste caso, sobreviveria de quê? Sílica? Poeira lunar ? Turismo ?
- Relaxa, Lia!!! São os indianos!!! Eles já sabem fazer isso a muito mais tempo que a NASA! Semana que vem, nossa filhinha já vai estar aqui comendo um churrasco conosco!!!
Lia, Indiana de nascimento, completa:
- Churrasco de carne sintética, espero eu...
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- Mas... - Marcos realmente se preocupava com o resgate! - Eles vão chegar e ver que não tem ninguém aqui. E aí?
- Eles ficarão aliviados, capitão! Mesmo porque eles não saberiam pousar. E, se porventura pousassem, como vocês eles não saberiam voltar...
Marcos olhava adimirado o "dervixe" à sua frente.
- Vocês aprenderam rápido, né?
O dervixe baixou os olhos. Envergonhado? Sim, um pouco! Por causa da demora, por não terem sido ousados o bastante para experimentar antes aquela idéia brilhante dos jovens.
- Só esperávamos jovens ousados nos mostrando que era possível fazê-lo! O mérito é de vocês, não nosso!
O dervixe falou, mais uma vez:
- Vamos comunicar os americanos, avisar que podem dar meia-volta. Vocês estão seguros e a caminho...
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- Mami!!! Estamos voltando...
- Ah filha!!! Graças a Deus!!! As aranhas não te pegaram, né?
- Aranhas, mãe?!!! Que aranhas?????
- As aranhas da apolo 18, filha! Elas chegaram perto?
- Mãezinha! As únicas coisas vivas que vimos na Lua fomos nós mesmos, eu e meus amigos! Mais umas coisinhas que trouxeram escondidos da terra...
- Entendo, filha! Mas... Você está bem, né? Não estão de quarentena? As aranhas não te infectaram ?
- Só as muriçocas, Mami! Mas já estão controladas...
- Muriçocas???
- Relaxa, Mãe!!! Demos um jeito nelas...