O Dr. Juca do Silvino ...

O Dr. Juca do Silvino ...

História imagináveis do osnofa

Havia muita gente no armazém do Délcio. Era um dia de sábado, mais de meio-dia e chovia. O Dico Pacheco, que também tinha seu negócio ali, na Rua Zezé Lima, pertinho da esquina da Dr. José Gonçalves, entrou no armazém, acompanhado do amigo sapateiro, meu tio Jarbas, para comprar feijão e a famosa linguiça de porco que o Délcio vendia; pois, no domingo, o Dico Pacheco pretendia deliciar um tutu de feijão com linguiça.

Foi aí que entrou, no armazém, um fazendeiro e uma mocinha de mais ou menos uns 15 anos, reclamando de certo doutor que havia receitado para a sua filha “correia e canja de galinha”. Todos os presentes acharam muito estranho o conteúdo da receita e protestaram, querendo saber quem era o médico.

Foi um fuá danado e, por uns minutos, o armazém do Délcio virou um fórum de discussões, todos falavam ao mesmo tempo e nada de nada foi resolvido. O alvoroço foi tanto que o fazendeiro se mandou com sua filha sem que ninguém percebesse no momento.

Aos poucos, as coisas foram chegando ao normal e a paz voltou a reinar no então estabelecimento comercial. Logo o Dico Pacheco foi atendido pelo Délcio, e ele e o Jarbas foram embora.

Muitos dias e meses se passaram, para dizer a verdade foi quase um ano e ninguém mais se lembrava daquele acontecimento que alvoroçou os fregueses no armazém do Délcio.

Como diz os entendidos, “o tempo se encarrega de tudo” e foi mesmo assim, o tempo passou e num belo dia de sol, também sábado, uma moça bonita e formosa entrou no armazém. Feliz e faceira chegou-se ao balcão e falou para o Délcio:

- O senhor pode não se lembrar de mim, mas eu não esqueci aquele dia em que estive aqui acompanhada de meu pai.

Délcio, um homem muito do ativo, perguntou de que se tratava, e que não se lembrava daquela linda senhorita. Naquele momento, entrou no armazém o Sr. Dico Pacheco e ao bater os olhos na moça, foi dizendo:

- É ela, Délcio, a filha do fazendeiro que há muito tempo esteve aqui. Aí a moça retrucou:

- É isto mesmo, meu pai tinha me levado ao médico e passou aqui e quando contou o que o médico tinha me receitado, foi um alvoroço danado no armazém do senhor.

O Délcio, mais que depressa, perguntou à moça o que se passava no momento, e ela contou a seguinte historia:

- Naquele dia, fomos daqui e chegando próximo ao Mercado Municipal, meu pai rasgou a receita e a jogou numa lata de lixo. Chegamos em casa , eu amuei no meu canto e meu pai ficou lá na sala, todo nervoso e falando sozinho. De repente, escutei uma galinha cantando: era ele que estava matando a coitadinha da penosa. Então, ele preparou a galinha, pôs para cozinhar, lavou as mãos, tirou a correia e me levou lá no quarto do castigo. Verdade, lá em casa tinha um quartinho escuro mas, até então nunca tinha sido usado. Foi aí que meu pai me deu uma boa surra de correia e depois me levou para a cozinha para comer a canja de galinha que ele havia preparado para mim. Eu comi tudo e fui dormir. Não é que no outro dia amanheci curada?

Assim que a moça acabou de contar a sua história, Délcio e o Dico Pacheco, de uma vez só perguntaram à moça:

- Quem foi o bendito médico que receitou para você, sabe o nome dele?

- Saber eu não sei e meu pai não sabe mais, pois faleceu há um mês. Mas é fácil chegar lá, venham aqui na porta, que eu explico onde é:

Sobe esta rua aqui, passa o Colégio Sant’Ana, vai dar numa pracinha e você sobe direto lá no alto, alí tem um bar grande. Um homem bonito e forte usava terno riscadinho, parecia um artista de tão belo, vocês não reparem não, é prá lá que estou indo agradecer o doutor que me curou.

Daí acabou a história, a moça pegou a mala e se foi rua acima. Para quem sabe ler, um pingo é letra. Naquele tempo, o Juca do Silvino também passava-se por doutor em Itaúna.

osnofa.una@hotmail.com

osnofa
Enviado por osnofa em 03/02/2012
Código do texto: T3477916