O dia em que o Rei Pelé marcou os 1000 gols...
O dia em que o Rei Pelé marcou os 1000 gols...
Quando o Rei Pelé marcou seu milésimo gol, lá estava meu avô no armazém do Délcio, xingando o governo militar, por não achar justo a tal revolução, mas com os ouvidos bem atentos ao jogo do Santos Futebol Clube. O rádio estava sintonizado na Rádio Globo, o locutor era o Valdir Amaral que ficou famoso com o seguinte bordão: “o relógio marca.” O armazém estava cheio, parecia o dia da inauguração das Casas Pernambucanas em Itaúna.
O Juiz de Paz Tonico Dama, o Lauro do Jubito, o jornalista Sebastião Nogueira Gomide, na época proprietário do Jornal Folha do Oeste; também o alfaiate Geraldo do Eduardinho e o comerciante Francisquinho faziam companhia ao então amigo e Juiz de Direito Dr. Nabor, deliciando uma cerveja Antártica geladíssima e atentos a cada lance na espera de que Pelé marcasse logo o milésimo gol. Também estavam lá os seguintes senhores: Zé da Chácara; os rei momos: Buzina, que era o tradicional rei momo do glorioso carnaval itaunense e o conhecido Pipoqueiro Manpú, que era o Rei Momo do tradicional bloco dos Farrapos; Maurino da Barragem, também dos farrapos; Zezinho Parreiras, também do Bloco dos Farrapos; Mocotó, que consertava bicicleta e nas horas vagas era Comissário de Menor na porta do Cine Bagdá; o amigo Zé Ramos; o famoso investigador Tião Secreto, contando casos para o Hélio Salera, proprietário do primeiro comércio 3D em Itaúna. A venda do Hélio era ali na esquina da Rua Zezé Lima com Dr. José Gonçalves, de manhã era açougue, à tarde, armazém e, à noite, barbearia e ainda sobrava tempo para prosear no armazém do Délcio. Também estavam o pintor de parede e palhaço de circo o famoso Picolino; Júlio do Arsenal Futebol Clube e do Clube Flor do Momo; o Mágico Baratinha; os congadeiros Zé Salomé e Mário Coqueiro; o conhecido Pedro Sapo e o Donato, vendedor de algodão doce, estavam ali na porta do armazém dando uma prosa e escutando o jogo do Santos.
Foi aí que a dona Hélida Beghine e a irmã dona Edméia chegaram anunciando espantadas, que o Geraldo Escovão, o bebum mais extrovertido que Itaúna já conheceu, estava fazendo xixi ali de frente, na porta do consultório do Dr. Getúlio. E naquele momento, o Rei Pelé marcou o milésimo gol de sua carreira futebolística. A euforia foi tanta que nenhum dos presentes se importou com o Geraldo Escovão, que logo entrou no Armazém do Délcio, cantando sua música predileta, grande sucesso do Valdik Soriano, “eu não sou cachorro não...”. Alguém, que eu não sei quem, pagou uma pinga para o Geraldo Escovão e ele foi embora cantando... e para alegria da galera chegou a banda do Zé Cavaquinho tocando e cantando a marchinha tradicional do carvanval “ vai com jeito vai, menina vai, com jeito vai, se não um dia a casa cai... menina vai.” Era só o que faltava, o armazém estava em clima de copa do mundo e carnaval.
Em meio a este turbulento momento, o Rei Pelé se tornou o primeiro jogador de futebol do mundo a atingir a marca dos mil gols.