Projeto P.E.S.T.E. - Guerra em Marte
Quando eu me alistei no exército terrestre eu queria fugir da Terra. A peste matou meus dois irmãos caçulas e minha mãe. Apenas o alcoólatra do meu pai não ficou doente, mas desde meus doze anos não o considerava família, então fiquei só no mundo. Então ouvi que os marcianos declararam independência como se fossem outra raça! Outro povo que não o terrestre. Deve ser a baixa gravidade de marte, deve afetar a cabeça deles. A oportunidade de atirar em alguém me animou me levando a me alistar.
Passei dois anos em treinamento com mais um ano na lua para treinamento em guerra espacial. Me falaram que o arsenal marciano compunha de alguns canhões de aceleração magnética e poucos rifles laser. O resto do armamento era apenas armas à pólvora, artefatos antigos antes da Nova Ordem Mundial. Eu e milhares de outros companheiros éramos armados com o que havia de mais moderno. Armaduras de liga Rodhon que cobriam maior parte do corpo, capacetes equipados com cinco tipo diferentes de detecção, rifles de repetição por aceleração magnética ou RRAM como chamávamos.
Quando finalmente me chamaram para o combate me colocaram em um cruzador apertado por uma semana até chegarmos à órbita de marte. Chegamos então no meio de um embate entre uma frota de caças marciana e um destruidor que protegia a nossa chegada. O alvo dos caças claramente éramos nós, tropas recém chegadas da lua. O ataque foi facilmente rechaçado pelas nossas defesas o que fez os caças se retirarem.
Pousamos na base avançada na Lua Deimos onde ouvi a informação que os marcianos acabaram de derrubar mais três satélites espiões. A informação e a comunicação lá embaixo diziam que era horrível. Minha tropa foi ordenada a proteger uma pequena formação rochosa que serviria de ponto de pouso para as tropas de Deimos. Foi com grande entusiasmo que descemos até o planeta vermelho.
Apesar da vitalização do planeta, a maior parte de Marte ainda era um enorme deserto com ventos fortes. A baixa gravidade quando confrontada com a gravidade simulada das nossas naves nos fazia sentir como super-homens. Alguns dias parados naquele monte fez baixar a nossa euforia. Comandante Kimura estava muito tranqüilo, mas a quietude do deserto nos abalou.
Mais uma semana em Marte vendo tropas marchando para a linha de frente e muitos voltando feridos, não alegou mais a situação. A liga Rodhon é um metal leve e extremamente resistente, usada até mesmo na construção de nossas espaçonaves, mas ainda assim estavam sendo perfuradas por aquelas armas arcaicas... Nem mesmo a mais alta tecnologia conseguia proteger os soldados em uma guerra: armaduras gastas e castigadas acabavam cedendo.
Comandante Kimura nos reuniu e disse que partiríamos para a linha de frente, outros novatos tomariam nosso lugar. Depois de ver o que vi e esperar o que esperei, não fiquei muito animado para ir, mas fui treinado para obedecer e obedeci. Chegamos ao ponto zero, a primeira cidade da colônia e sua maior, e fomos para o centro de comando. Conversei com alguns soldados que estavam lá a mais tempo e eles me disseram que os marcianos eram traiçoeiros. Eles atacavam sempre na surpresa, preferindo o combate corpo-a-corpo para roubar as armas e armaduras dos soldados inutilizando nossas RRAM.
Nós fomos levados às trincheiras ao redor do monte Olímpio, que era a principal base de arremesso contra os satélites terrestres. Fora até tentado um ataque direto à Terra daquela posição. O monte Olímpio, um vulcão adormecido, era uma montanha tão grande que passava as nuvens e chegava quase a sair da atmosfera. Nas trincheiras, todo dia havia troca de tiros. Equipei minha RRAM com um cano mais longo e programei para tiro preciso. Comandante Kimura pediu que eu desse cobertura aos soldados que subiam e atacavam. O capacete fazia a mira para mim sem a necessidade de luneta e era só apertar o gatilho. Derrubei três marcianos no meu primeiro dia.
Segundo dia nas trincheiras, fomos bombardeados incessantemente pelos canhões de aceleração magnética. O que fez nosso terceiro dia ser dedicado à reconstrução das trincheiras. Jonnah morreu esmagado por uma Haste Divina. Era algo horrível de se ver. A Haste Divina, HD para diminuir, era um objeto cilíndrico de carbono magnetizado atirado por um canhão de aceleração magnética o que por si só já faria um estrago incomparável. A HD também é recheada de explosivos o que no impacto gera maior destruição e destruía a HD para que o inimigo não a lançasse de volta ou aproveitasse seus fragmentos.
No terceiro dia vi como um rifle a laser podia ser devastador. Há três quilômetros de distância um tiro certeiro na cabeça de Uatu a fez explodir. Nossos RRAM não eram tão precisos e mortais quanto um rifle a laser. Esse é uma arma admirável, porém sua carga para um disparo pesa 10 quilos, além de sua produção ser extremamente cara. O peso da carga para o tiro, a energia usada com essa tecnologia, é tão alta que ela não foi aplicada militarmente, preferindo-se a aceleração magnética e balas de carbono magnetizado. Apenas poucos soldados no exército eram equipados com rifles a laser, mas seus disparos eram fatais em 80% das vezes. O efeito do disparo é um raio que esquenta o objeto tão rapidamente que causa uma explosão. As gotas de sangue chegaram a queimar a minha pele...
No meu vigésimo dia fui emboscado quando me afastei da tropa para me aliviar entre as pedras e uma cúpula de produção de oxigênio. Quatro marcianos me cercaram e me atacaram com facas, mas, pela diferença de gravidade, eu era mais forte que eles e consegui me livrar e correr, foi quando um deles tirou uma pistola arcaica, mas bela, prateada, e me acertou na perna nua. Cai no chão e achei que ia morrer. Tirei a baioneta da cintura e a empunhei como faca esperando o ataque. Foi quando ele apareceu. A propaganda da NOM, um soldado que usava uma armadura mais cara que um cruzeiro interestelar. As balas simplesmente eram desintegradas em uma luz verde antes de atingi-lo. Ele sacou uma espada, por mais incrível que pareça, e atacou os marcianos. Nunca vi alguém tão rápido, em questão de segundos ele matou os inimigos. Limpou a espada e a guardou, depois me carregou até o posto médico.
Fiquei sabendo que a armadura que ele usava o protegia de qualquer mal que pudesse atingi-lo, mas não permitia que ele usasse RRAMs, rifles lasers ou até mesmo armas à pólvora, ficando limitado ao combate corpo-a-corpo. Quando perguntei como funcionava essa tecnologia, me disseram que era um mistério. Até mesmo a Junta Intergaláctica não conhecia essa tecnologia e que a Terra a guardaria com todas suas forças.
A bala alojada em meu fêmur foi tirada e em duas semanas eu poderia voltar para o campo de batalha, mas preferi me retirar e ficar na Lua treinando novas tropas. Tomei essa decisão, não baseado em algum temor da guerra ou algo assim, mas pelo que vi lá que me tirou toda a vontade que tinha quando me alistei. Até mesmo os marcianos estavam sofrendo com a peste e percebi que era inútil continuar lutando, não teria minha mãe e irmãos de volta.