Terrorista/6: Ana
Ana estava sentada em um banco da praça Iwasaki, como se fosse apenas mais uma jovem aproveitando uma folga. Alguns metros a frente, algumas crianças brincavam um jogo virtual, com mini-dragões soltando fogo e pequenos castelos surgindo do chão. Um homem alto, aparentando trinta e poucos anos, vestindo um sobretudo escuro, estava sentado a seu lado.
Homenagem ao avô japonês de Antônio Santos Wu, recém falecido fundador da Corporação Wu, a praça Iwasaki era mapeada em estilo japonês antigo, com templos xintoístas, jardins de pedras e avatares de monges budistas orientando os visitantes. Combinando com o ambiente, o rosto de Ana agora trazia leves traços orientais, mas ainda transmitia a impressão de uma jovem. Sua idade aparente era o assunto da conversa com o homem a seu lado.
- Não entendo sua preocupação, Hector. Vocês, humanos, vivem alterando suas aparências, sua idade, até mesmo seu sexo. Porque é tão estranho fazermos o mesmo? - Enquanto falava, ela acompanhava atentamente as crianças a brincar. Um observador atento perceberia que era um garoto em particular que prendia sua atenção.
- Talvez não seja, mas eu esperava que você voltasse a idade que sempre aparentou, seus trinta e poucos anos, depois de terminada sua última missão. Mas você está mantendo a mesma idade que usou para se aproximar de Mary.
- Eu complementei minha missão, a navegadora não está mais a serviço da corporação. Além disto, Wu, o velho, está morto. Eles nunca estiveram tão vulneráveis, Hector. Não vejo por que está preocupado com a minha aparência, quando estamos fazendo nossa parte do plano de forma perfeita.
- Não estou preocupado com o plano, Ana. Estou preocupado com você.
- Preocupado comigo? - Ana deu uma leve risada, enquanto Hector a olhava, atentamente.
- Talvez esteja gostando desta Mary mais do que quer admitir.
- Hector, temos trabalhado muito próximos há anos para derrubar a corporação e tudo que ela representa. Sei que você gostaria que eu tivesse o mesmo tipo de sentimentos que vocês têm, mas, eu já lhe disse, eu não sou humana. Eu não sinto nada pela navegadora - Ana faz uma pausa, como se estivesse hesitando em continuar - nem por você. Sinto muito.
O rosto de Hector se fechou, por um instante - não é isto. Não estou com ciúmes. Só preocupado.
- Não se preocupe. Retomamos o contato amanhã?
- Como sempre. Espero trazer novidades.
Hector se levantou, deu alguns passos, e desapareceu do cenário virtual. Ana voltou a olhar para as crianças que brincavam a sua frente, ainda mantendo sua atenção no mesmo garoto, uma criança de uns oito anos.
Por dez, talvez quinze minutos, as crianças jogaram, alheias a jovem que as observava. Um complexo jogo de estratégia e fantasia se desenrolava, com castelos se levantando do chão, para em seguida serem derrubados por dragões.
O garoto que Ana observava era possivelmente o mais habilidoso no jogo, mas não estava ganhando. Jogava defensivamente, mais construindo castelos e proteções que criando dragões para destruir os dos oponentes. Mesmo sem estar na frente, havia construído o mais forte castelo, e fortificáva-o agora cada vez mais. Não venceria, mas quando o jogo terminasse, também não teria sido derrotado.
O garoto olhou ao redor, no centro de seu pequeno castelo virtual. As muralhas eram translúcidas, e ele podia ver três ou quatro pequenos dragões tentando, sem sucesso, derrubar as paredes que ele levantou, e os outros jogadores mais ao longe. O banco da praça também era visível, mas ele não chegou a perceber que não havia mais ninguém nele.
- Quando construir um castelo, não esqueça de proteger as paredes de trás tão bem quanto as da frente - o garoto se virou, pulando de susto. Atrás, um pequeno dragão negro o olhava.
- Ok, perdi - ele respondeu, resignado. - Você é o dragão de quem?
- De nenhum de seus amigos. Eu sou um dragão mensageiro.
- Hein? Nunca ouvi isto. Mensageiro de quem?
- Diga a seu pai que você tem uma mensagem de Ana para ele. Diga a Tanho que, se algo acontecer a Mary, eu vou voltar a ver você, e algo muito pior do que isto vai acontecer.
- Isto o que?
O Dragão não respondeu. Ele abriu sua boca e dela saiu um jato de fogo, que queimou completamente o avatar de Timothy.
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