Janaína

O pequeno néon piscava incessante apenas duas das letras que formavam o nome do bar, “Clube do Jucão”, um lugar escondido em uma viela de uma favela qualquer de São Paulo. Na entrada, um mulato musculoso montava guarda segurando uma M-16. Quando dois homens entraram no beco ele mal teve tempo de pensar em erguer o rifle, um milésimo de segundo depois uma bala já havia esfacelado seu nariz, atingindo o bulbo, uma região cerebral vital, e explodido a nuca quando saiu pelo outro lado. O corpo foi jogado para trás, batendo na parede e se arrastando por ela até tocar o chão. O som úmido do ar sendo expelido pelo cadáver foi o único som de toda a ação, além dos passos dos dois homens se aproximando.

Eles caminharam até perto do corpo, sendo iluminados pelas luzes do néon, um deles ainda carregava uma pistola equipada com silenciador. Era alto, quase um metro e oitenta, e estava usando um colete militar onde ficavam toda uma gama de equipamentos não identificáveis sob a parca luz. Complementando a indumentária havia uma calça e botas militares, também não estava usando camisa, deixando os braços nus. Os olhos e feições não eram muito visíveis e o cabelo era escondido por uma boina verde, mas o formato do rosto era bem torneado.

O outro estava usando um sobretudo de couro, fechado, deixava à vista apenas uma parte do que parecia ser um paletó e uma gravata, o cabelo era loiro a ponto de poder ser identificado mesmo naquelas condições de pouca luz. Tinha os lábios finos e um nariz bonito, assim como o resto do rosto. As mãos estavam enterradas dentro do sobretudo.

- Tsc, o néon bem que avisa mesmo. Isto aqui é um cu. - disse sorrindo o homem que parecia um soldado, apontando com a cabeça as duas letras que piscavam no letreiro, C e U.

- É. - devolveu o loiro, indiferente.

- Sabe o que me irrita nestes lugares? - perguntou o outro, guardando a pistola no colete e, em seguida, sacando duas submetralhadoras MP5 que estavam em estojos acoplados à coxa.

- Não. - respondeu o loiro, mais interessado em observar o cadáver.

- O preço das coisas. - continuou o soldado, enquanto destravava as armas - Quer dizer, você se dá ao trabalho de vir a uma merda de lugar destes e pagar para comer uma mulher, sendo que gastando o mesmo em qualquer boate badalada você come mulheres muito mais bonitas. Então, mesmo fazendo o favor de aparecer nesses lugares e manter viva a profissão mais velha do mundo, ainda assim eles têm a cara de pau de te cobrar cinco paus em um conhaque vagabundo. - terminou ele, ficando em frente da porta. - Preparado, Doutor?

- Cuidado com o ponto cego. - disse o Doutor, logo atrás dele.

O soldado chutou a porta com força, fazendo com que as dobradiças arrebentassem e a porta caísse inteira no chão de cimento seco do bar. Algumas mulheres gritaram, mas apenas para terem as vozes abafadas pelo sons das submetralhadoras disparando, um segundo depois, mais armas começaram a disparar, metralhadoras, espingardas calibre 12 e pistolas diversas. Apesar disto, ele não saia do lugar, seus braços apenas se moviam buscando novos alvos quando os antigos morriam. As balas, na maioria do tipo traçantes, pareciam desaparecer antes de atingi-lo e reaparecer do outro lado no instante seguinte. Trinta segundos depois, ele abaixou as armas e as colocou de volta nos estojos.

O Doutor então entrou no bar e observou o estrago, mesas e garrafas de bebida quebradas caídas por todo o lugar, acompanhando um amontoado de corpos de prostitutas e criminosos. O soldado então sacou um rifle de assalto, que estava preso nas suas costas, e começou a inspecionar os mortos. O Doutor apenas andava atrás dele. Um murmúrio veio detrás do balcão do bar, o soldado foi, devagar e cuidadosamente, até lá. Encontrou, debaixo do balcão, uma menina de seus 11 anos, mulata, vestida com uma saia curta e sutiã. Segurava o choro com os olhos fechados e as mãos sobre os ouvidos. O soldado se afastou e foi examinar uma porta entreaberta perto dali, um segundo depois ouviu um tiro. Virou a cabeça e observou o Doutor guardar a arma, fechou os olhos por um instante e depois voltou a olhar para a frente.

O soldado ficou em frente a porta, enquanto o Doutor olhava para ele do balcão. De repente uma forte explosão destruiu a porta, mas nem mesmo a boina do soldado se mexeu, em vez disso, toda a e poeira da explosão atingiu um ponto alguns metros atrás dele. Em seguida vieram tiros, muitos tiros, e tiveram o mesmo destino da explosão, desaparecendo após sair pela buraco onde era a porta e reaparecendo alguns metros atrás do soldado, que se mantinha imóvel.

Um minuto depois os tiros cessaram e o soldado engatilhou e mirou o rifle em direção à alguém dentro do quarto, estava prestes a atirar quando uma mão pousou em seu ombro.

- Espere. - disse o Doutor, deixando transparecer um sotaque florianopolitano, os “s”'s com um som mais próximo de “x”.

Do outro lado, sentado, nu, no chão ao lado de uma velha cama, estava um homem negro, segurando uma mulher loira, também nua, com uma das mãos e apontando uma pistola para a têmpora dela. Apesar disto ela parecia tentar proteger ele o máximo possível.

- O que vocês querem! - gritou o homem negro.

- Você foi muito estúpido, senhor Silva. - disse o Doutor.

- O quê!?! Vai se fuder! - respondeu Silva, disparando a arma contra o doutor, o tiro atingiu a parede um pouco acima de onde Silva estava, ele olhou assustado, sem entender o que estava acontecendo.

- Não se incomode. Armas não funcionam comigo. Agora escute: Você tentou aprovar uma patente muito avançada em computação usando um universitário fracassado como fachada, nada esperto de sua parte, eu diria. Ainda assim, o fato de você ter conseguido retirar alguma informação de lá foi notável, por isso considero que você pode nos ser útil, mas, antes de conversarmos sobre isso, diga-me onde se encontra a nave. - ordenou o Doutor.

- Claro, e depois eu já era, né? Nem a pau, seu playboyzinho! - disse Silva, voltando a apontar a arma para a cabeça da mulher.

- Tudo bem, se prefere assim, podemos conseguir a informação com o traktoniado. Major, mate-o. - Ordenou o Doutor.

- Não! Não! - gritou a mulher, colocando-se em frente à mira do Major, que estava pronto para atirar. O Doutor fez um sinal com a mão e o Major relaxou.

- Senhor Silva, uma última vez. Primeiro, a nave. Depois, estamos interessados em seu método para fazer com que nosso alvo ficasse tão subserviente. Se puder provar ser útil para nós, iremos relevar a sua entrada para a equipe e conseqüente sobrevivência. - disse o Doutor. Silva abaixou a cabeça, pensativo, e depois de um tempo suspirou e olhou de volta para ele.

- Tá lá no matagal atrás da favela, a gente escondeu com umas folhas de bananeira. - disse.

- Muito bem. – disse o Doutor – Agora, o seu método de interrogatório, mostre-me.

- Cê quer saber como eu fiz ela falar, né? Peraí que eu já ti mostro então! - respondeu e, largando a arma, jogou a mulher na cama.

Ela ficou na posição em que caiu, com os braços estendidos e as pernas levemente abertas, deixando à mostra a região pubiana. Sem perder tempo, Silva avançou sobre ela, agarrou um dos seios com força e usou a outra mão para masturbá-la, a língua viajava pela pele suave do pescoço da moça, que gemia prazeirosamente.

- Taí uma coisa que não se vê todo dia – disse o Major, enquanto Silva e a mulher passavam da troca de carícias para o sexo.

- Major, por favor, vá até a outra sala e prepare-a conforme o plano. - ordenou o Doutor. O Major olhou para a nuca do Doutor, que observava a cena atentamente, resmungou algo e obedeceu a ordem.

Quinze minutos depois, nenhum deles estava mais ali.

Diário Paulista, no dia seguinte, 1ª página, manchete principal:

CHACINA EM PROSTÍBULO DEIXA 35 MORTOS: A policia suspeita de Grupos de Extermínio

Diário Paulista, três dias depois, 1ª página, manchete principal:

CHACINA DA JANAÍNA: Criança assassinada dá nome ao massacre

Diário Paulista, uma semana depois, 1ª página, manchete secundária:

CHACINA DA JANÁINA: 8 PM's são indiciados como suspeitos

Diário Paulista, um ano depois, página 20, nota lateral:

Policiais são inocentados no caso da Chacina da Janaína

Nume
Enviado por Nume em 06/12/2006
Código do texto: T311310