A Verdadeira Máquina do tempo - Parte 4

O velho cientista, apoiando-o, abrir-lhe-ia um caminho imensamente favorável à colocação de suas idéias. Porém, para satisfação de Peter, três amigos continuaram com ele, apoiando-o em todas as suas pesquisas.

Continuou fazendo suas experiências, levando aos companheiros, informações detalhadas sobre suas viagens, seus possíveis diálogos e, principalmente, os seres com que mantinha contato. Vinha estudando ultimamente e com mais detalhes os cálculos que o levariam a uma certeza: a existência de seres em outros sistemas planetários ou em outras dimensões. Dedicou-se com entusiasmo ao estudo de inúmeras culturas terrestres. Umas das que mais lhe prenderam a atenção foi a cultura indiana. Estudou os iogues, leu inúmeros livros sobre esta técnica fantástica de domínio mental e físico. Ficou impressionado com a profundidade desta filosofia. Isto serviu para reforçar a convicção sobre a influência do corpo sobre a mente.

Ao ler sobre a vida dos gurus, de seres humanos como todos os outros, mas que vivem em planos de consciência totalmente diversos, embora usando um corpo físico, Peter deixou-se pasmar, aturdido.

Soube de homens que usam o corpo material única e exclusivamente para se mostrarem visíveis. Não compartilham em nada do nosso modo de vida. Não sentem a dor ou o sofrimento da forma como nós os conhecemos. Deixam-se enterrar vivos por semanas ou meses. Submetem-se às mais terríveis formas de sofrimentos físicos, deitando-se sobre pregos, sentando-se em enormes blocos de gelo, enfim, submetendo o corpo físico a situações que nós, seres comuns e iludidos sequer sonharíamos em experimentar.

Com estes estudos, aos quais se entregava séria e compenetradamente, com as experiências que já vinha de longe executando, acrescidas de sua ferrenha perseverança em levar avante sua missão, Peter ia se tornando uma pessoa diferente com o passar do tempo. Pouco falava, até mesmo com Janet. Suas viagens passaram a ser menos constantes, mas muito mais proveitosas. Nos intervalos entre uma e outra, tinha por meta o auto aperfeiçoamento; a leitura era o seu alimento e a meditação sua água. Via na meditação a possibilidade de expandir a consciência e compreender o mistério da vida, mas seu principal objetivo era fortalecer-se o suficiente a fim de suportar os contatos que vinham se tornando cada vez mais precisos. Porém, carregados de perigosa excitação, isto porque não se mostravam com muita facilidade e quando o faziam, não dava para diferenciar os bons dos maus.

Então, o aspecto físico do cientista já dava mostras de uma mudança acentuada. Em função de sua extenuante preparação para os contatos que precisava fazer, optou por uma vida reclusa, isto é, abster-se ao máximo dos contatos sociais, excetuando-se aqueles diretamente ligados aos seus objetivos. Mudou-se para o tipo de residência que julgou mais adequado às pesquisas. Escolheu com cautela e prudência o lugar onde passaria os próximos anos. Afastada do movimento frenético causado por veículos motorizados, a casa oferecia a paz e quietude procurada por Peter. Não foi fácil encontrá-la, tempo e paciência requeridos para tal ele dedicava a seu propósito maior. À mulher não permitiu que o fizesse em seu lugar para que não saísse a contragosto.

Enquanto o acompanhava, ia Janet, como que mentalmente, se desculpando aos que com eles cruzavam, amigos do casal, principalmente, pelo desmazelo de Peter em relação a sua aparência. O foco nas experiências que vinha de realizar jogou para o secundarismo tudo mais em sua vida. As interferências e os conselhos dela instilavam o azedume até que cessaram os conselhos e emudeceram as opiniões. Peter emagrecera; barbear-se, rotina a que se entregava com extraordinário deleite, mudou para ato enfadonho. O que não deixava de ser engraçado é que detestava, a ponto da crítica e do deboche, ter que conviver, conversar ou ainda olhar para um rosto coberto de pelos; em sua opinião, o mau gosto era imperdoável. E agora carregava, sem se dar conta, esta falha em si próprio. A barba já encobria boa parte do rosto e disfarçava até que bem a magreza; unia-se ao bigode, deixando de fora uns lábios finos, torneados que, ao sorrir o faziam com simpatia e amenidade. Os olhos, de um brilho incomum, não se perdiam no vazio, pelo contrário, denotavam uma esperança, uma espécie de confiança imperturbável. Não se importava, contudo, em ter os cabelos cortados por Janet enquanto se ocupava. Isto era bom. Unia à deliciosa sensação do toque macio de suas mãos o bem estar e a acuidade para o trabalho, sem interrompê-lo um minuto sequer. A cabeça agradecia enquanto o rosto era frustrado.

Encontrado o imóvel, ajeitou-se no porão e ali montou o seu laboratório. As experiências de Peter no que tangem a tubos de ensaio, pipetas, agitadores, parafernálias de estudo prático da química e da física ocuparam até então espaço não prioritário em suas pesquisas. Daí, para o costume de se ver envolto em gama incontável de instrumentos científicos, necessitou de uma adaptação conseguida com esforço menor do que ele mesmo esperava. A manipulação lhe trouxe ainda mais satisfação e alegria. Por outro lado, a organização, que não era o seu lado forte, deixava ou deixaria a desejar, não fosse a ajuda de Janet; nisto ele também não dava muita opinião e ela, por conhecer suas manias, sabia até onde deveria interferir.

O recinto era espaçoso, confortável e com ótima iluminação. Numa comprida mesa Peter instalou os seus apetrechos; investiu alto na vidraria; nos tubos e nos balões. A variedade dos aprestos de que se via envolvido não ficava a dever a qualquer laboratório científico conceituado. Possuía de medidores de ph, dessecadores e porta cápsulas, a modernos refratômetros e caçarolas de porcelana. Para entender o sentido, ou mesmo a origem das experiências por que passou, precisou aprofundar ainda mais os seus estudos. Como as teorias de física básica eram o seu forte, por ter se especializado em mecânica quântica, já possuía os alicerces para ir muito mais longe. Vinha, nas últimas semanas, concentrando seus estudos na física da matéria condensada, que é o campo da física que trata das propriedades físicas da matéria. Passou então a pesquisar a nanociência; começou, aos poucos, adquirindo a habilidade para manipular átomos e fabricar sistemas artificiais em escala atômica para estudar e testar teorias dentro da sua área de atuação: a mecânica quântica.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 21/07/2011
Reeditado em 21/07/2011
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