Apagando...

- Então é chegada a hora?

Pergunta um homem aparentando cinqüenta anos deitado numa maca. Há vários fios ligados em todo hemisfério de sua cabeça e os fios estão conectados a uma pequena maquina computadorizada.

O lugar parece ser um hospital ou clinica. É branca a sala, fria e silenciosa.

- Certamente. – Responde o outro que era mais velho que o homem deitado. Tinha cabelos crespos grisalhos, olhos azuis. Usava jaleco cinza e possuía aspecto sério.

- E dará certo? Pergunta o homem que está na maca.

- A transferência sairá perfeitamente, William. Logo, suas lembranças, memórias e recordações serão apagadas e você não se lembrará de mais nada.

- Até mesmo esquecer minha esposa e filhos?

- Sim. Até eles. Mas animo, suas memórias e recordações serão transferidas para o seu novo clone.

- Sim. Eu sei. Há muito tempo deixei de ser meu verdadeiro eu. Esse seria o meu vigésimo clone.

- Exatamente William. Como eu, sua família, a minha, como aqueles que aceitaram o pacto desse projeto.

- Em breve num novo corpo.

- Sim. Todos nós. Nossos clones já foram criados e armazenados. Basta apenas transferir nossas memórias e recordações e recomeçarmos novamente do zero.

- Estamos brincando de Deus. – Diz William.

- Estamos fazendo a morte de boba. – Responde o homem.

- Queria que não tivéssemos esse prazo de validade.

- É o risco que acatamos. O corpo de um clone tem o seu limite. Mas pense, cinqüenta anos é um enorme tempo.

- Sim. Claro. Tem razão.

- Daqui a cinqüenta anos você me fará as mesmas perguntas e eu repetirei as mesmas respostas.

- Verdade. – William ri.

- Pronto?

- Sim. Pode começar a apagar minha memória e a transferência.

- Começando.

- Um ultimo pedido, por favor.

- Sim?

- Diga a minha esposa que ela é meu eterno amor...

- Ela saberá. Processo de deletar memórias começando. Um, dois, três... Apagando...

Rodrigo Arcadia
Enviado por Rodrigo Arcadia em 10/07/2011
Código do texto: T3086499
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