Por aqui... eu Fico!
Antes houvesse um céu azulado para o qual eu pudesse olhar ou um chão firme o qual firmava os meus pés, mas, por agora, me encontro aqui resoluto em minha decisão de estar no espaço profundo a procuras de respostas que ainda não me foram dadas.
Já se faz mais de dez anos que vim para este lugar, a estação espacial profundidade 13, uma das muitas iniciativas humanas para estudar os segredos que nos envolvem e que, por muito menos, não temos a real noção.
Fui designado para ficar próximo ao Portão de Tannhauser, uma espécie de maquinário criado por uma raça que há muito sumiu da face da galáxia e poucas as informações são conhecidas. Mesmo que tenhamos encontrado, ao longo dos anos a fio, várias outras espécies, poucas souberam - ou não quiseram compartilhar - nos dizer a respeito dos criadores do Portão.
Mas, o mais importante de tudo, é vislumbrar toda essa gigantesca estrutura e imaginar o quão grandiosos foram os seus construtores. O que será que eles tinham nas suas mentes? Quais eram os seus sonhos, os seus pesadelos? Será que pensavam como nós, ou, assim como muitos outros aliens que encontramos, eram radicalmente diferentes? Os misterios... o que eles nos guardam?
Por mais que eu imagine estar fazendo algo pela humanidade, esta solidão está fazendo algo mais para mim mesmo. Não estava aguentando mais ficar na Unidade Central, o espaço das principais colônias Terrestres, tudo muito lotado, muito barulho, muito movimento, 200 bilhões de pessoas vivendo num espaço de 300 anos-luz de diametro e, ainda assim, sentia-me deslocado, afastado de tudo e de todos. Como é que podemos ser uma raça tão populosa e caridosa, em certos pontos, mas que não conseguimos nos aproximar um dos outros? Como alguém explica isso?
Posso dizer, em defesa própria, que eu tentei. Os anos que eu passei em Gariot Ix, fiz o meu trabalho, angariei amigos e conhecidos e fiquei com tantas mulheres quanto possível, mas, ainda assim, me sentia deslocado, era como se eu não pertencesse a raça humana, ou, o que era mais provável, a minha própria raça estava me expulsando da minha razão de existência. O que aconteceu com as pessoas afinal? Como que em tantos avanços socio-politicos-economicos a afeição humana chegou ao ponto díspares de tão próximos e tão distantes? Lembro-me das vezes que a minha mãe, historiadora, falava sobre os tempos idos, das pequenas vilas, burgos e, ainda antes, dos feudos onde o trabalho braçal e, de certa forma, o companheirismo eram as razões de existir do ser humano. Um mundo grupal onde todos davam o seu quinhão.
Estarrecido com isto tudo, com todas as escolhas e conhecimentos que nós temos e de como ficamos egoístas ao longo de nossa pseudo-revolução, escolhi ficar aqui, um ponto solitário no espaço. Cercado de negrume, um farol ante a toda escuridão ao redor. E isto me faz pensar muito. Será que as outras raças, mesmo as mais unidas, pensam como alguns, ou muitos, de nós? Que a nossa ansiedade de procurar vida em outros planetas, para não nos sentirmos tão sós, só constatou o fato que a solidão é uma constante?
Sinto-me só, angustiado, decrépito de meus próprios pensamentos, mas, por mais que eu quisesse voltar ao conglomerado de formigas humanas, sinto que, na verdade, estou mais perto de casa do que nunca. Aqui, no espaço... antes estivesse longe das estrelas, mas elas, donde eu sou seu filho, do pó estelar, estou de volta em casa.
E, por aqui... eu fico...