Lapso Temporal
Naqueles anos 90 muita coisa estava se transformando, mas coisa era certa: Os jovens sempre se divertiam e naquela sexta-feira a noite não seria diferente, o tradicional baile dos anos 50 estava mexendo com os brios da juventude.
Segui pela estrada arborizada que levava ao salão da minha pequena cidade, já a caráter: camisa branca, calça preta com suspensórios e muita brilhantina no cabelo, por qualquer motivo que não me lembro fiquei de encontrar meus amigos lá no salão.
A noite estava muito fria, entretanto com o céu estrelado, coisa normal na Serra do Mar e passo a passo ia chegando ao meu destino e já observava alguns Fordinhos, Cadilacs e ate Mercury conversível e outros carros da época e pensei:
- Nossa este baile está bem realista! -Olhei para o relógio e eram 11:11h da noite.
As meninas com saias coloridas e algumas com bolinhas coloridas e cabelos preso a lá rabo-de-cavalo, adentrei ao salão na esperança de encontrar meus amigos e o som de Chubby Berry estava terminando e já se emendava “Chapel of Love” do The Crystal e justamente na frase: “Bells is ringing...” eu olhei para uma moça que estava com uma saia vermelha salpicada de brotoejas brancas de óculos escuros, sorriu timidamente para mim.
Não me fiz de rogado e aproximei-me, após alguma resistência da moça finalmente tivemos uma conversa agradável e a convidei para tomar um refrigerante e fomos para o lado de fora do salão, ela pediu uma soda e eu uma coca, nos sentamos debaixo de um enorme carvalho de frente para a entrada principal do salão:
- Nunca te vi aqui antes, você mora por aqui? – Ela me perguntou.
- Sim eu moro no inicio desta rua, mas eu moro aqui faz muito tempo... Eu não encontrei os meus amigos, será que eles vieram para cá?
- Não sei. – Respondeu Jessica (Este era o seu nome), com seus olhos castanhos brilhantes.
- Que tipo de musica você gosta? – Peguei levemente em sua mão.
- Eu gosto de Litlle Richard, Bill Halley e é claro o maior de todos Elvis Presley.
- Você gosta de música antiga... – Eu disse com um sorriso tímido.
- Antiga! – Ela se surpreendeu. – O que existe de mais novo?
- Nirvana, Pearl Jam e Soundgardner.
- Nunca ouvi falar… Eles tocam country?
- Não... – Eu dei risada. – Ah esquece isso, vamos dançar?
- Você é estranho... – Ela sorriu com o canudinho por entre dentes. – Então vamos dançar...
E assim fomos ao salão e dançamos e namoramos a noite inteira, pelas tantas da madrugada ela foi-se embora num Fordinho 29 com outros amigos e segui meu caminho de volta para a casa, antes de nos separarmos ela me deixou seu endereço que não ficava muito longe dali.
Uma nevoa forte se abateu sobre a estrada e aquele ambiente de anos 50 foi-se despindo conforme eu avançava em meus passos, quando eu já estava relativamente longe a nevoeiro como que por encanto desapareceu e seguia a noite límpida e estrelada.
Vindo da direção contraria estavam meus amigos e um deles me perguntou:
- Você não vai ao baile?
- Já acabou...
- Como assim acabou? Agora são 11:20h da noite e o baile só começa a esquentar, depois da meia-noite.
Confirmei e eram àquelas horas mesmo, fui-me embora para casa e fiquei confuso com tudo aquilo, mas por fim o cansaço me venceu e adormeci.
No dia seguinte tudo parecia normal, vasculhei o bolso da camisa e lá estava o endereço que Jessica me deu. Bom, se o papel está ali quer dizer que a situação que eu vivi era real, só havia uma coisa a fazer: - Ir até o endereço que Jessica me deu.
Fiz praticamente a mesma rota para o baile, passei em frente do salão, apenas aquela bagunça de fim de festa, com garrafas de bebidas modernas, aquele ar de anos 50, simplesmente havia desaparecido.
Andei mais um quarteirão e finalmente cheguei à casa que estava anotada no papel, apertei a campainha e uma senhora de um pouco mais de 60 anos foi me atender:
- Em que posso ajudar?
- A Senhora conhece a Jessica?
- Se eu conheço... – Riu-se a Senhora. – Sou a própria meu jovem, o que você quer comigo?
- A Senhora esteve num baile ontem à noite, ali no salão da rua de baixo?
- Ah meu filho, já estive muitas vezes naquele salão, mas isso foi nos 50, quando eu era jovem, inclusive eu conheci um rapaz muito parecido com você, nunca mais o vi. Será que você e filho dele?
- Não Senhora... Desculpe incomodá-la.
Me despedi da Senhora e segui a minha vida, com uma pequena alegria, afinal de contas, foi o meu melhor baile de anos 50 que já tive.
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