O salão circular
Numa área rural, a 300Km de São Paulo, o tempo rapidamente se modifica de sol e céu claro para nuvens pesadas que descem em todo perímetro. Uma chuva fina com ventos fortes se inicia, passando rapidamente a uma chuva forte. Bagres, tambaquis, piaus, girinos, caracóis, baronesas e toda uma fauna e flora começam a cair do “céu” em meio ao inesperado temporal, deixando aparvalhados os habitantes das cercanias. Jamais se havia visto um tornado naquela região, mas era o que parecia estar acontecendo. Escuta-se o barulho de jatos em meio à tormenta. Os moradores ficam confusos com toda essa súbita balbúrdia nos ares. Tão rápido quanto iniciou, o temporal vai se dissipando. As pessoas, ainda atônitas, saem a “colher” os peixes sob o protesto apocalíptico dos mais velhos:
- ...É castigo! -
- ...O fim se aproxima! - Balbuciam, com o medo estampado nas faces.
Num salão circular, poltronas parecidas com cadeiras de dentista se distribuem igualmente acompanhando-lhe o formato. Humanóides, dos quais só se percebe a silhueta, abrigam-se nelas. Nas “paredes” que circundam o asséptico salão há telas parecidas com janelas. Nuvens semitransparentes preenchem o vazio do ambiente central.
A comunicação entre os “seres” se dá por uma espécie de telepatia. Mais do que isso; unidos, eles a usam para conversas, para decisões e para movimentar a nave. Esta interação seria uma espécie de “comandos cinéticos”.
- Causamos um tornado no vácuo da nave! Não conseguimos neutralizar completamente a gravidade nem deixarmos de deslocar o ar.
- Os dois membros novatos não conseguiram a freqüência correta.
- Temos que continuar saindo da atmosfera em linha reta e com isso iremos aumentar o redemoinho.
- Tem duas naves terráqueas nos seguindo.
- Não podemos desviar e o vácuo irá apanhá-los.
- Os cálculos nos dizem que conseguirão sair do funil de ar e água em 7 segundos terrestres.
Do chão se vê um arco tênue riscar o céu profundo. Aos poucos, os locais tendem a retornar a sua vida normal. Ouve-se o barulho de carros se aproximando. O caseiro abre o portão principal. Três carros entram rapidamente e param em frente a casa. Saem 2 homens de cada carro. Pedem para entrar e o fazendeiro os autoriza enquanto outros se espalham pela propriedade perscrutando cada metro. Os que entraram são convidados a sentar à sala e logo pedem para que os presentes lhes contem o que viram. O proprietário e os familiares com ares de desconfiança e ainda atordoados pelos acontecimentos, lhes narram o ocorrido.
Novo burburinho de veículos. Os homens levantam-se, juntam-se aos outros e tão rapidamente quanto chegaram tomam os carros e saem como quem foge. A imprensa havia chegado. Novo pedido de entrevistas. Fotos de todos os recantos. Câmeras de TV e como o próprio estranho tornado, se vão aos poucos deixando as pessoas da fazenda, uma vez mais, desnorteadas com o movimento repentino.
No dia seguinte, com os jornais nas mãos, lêem as manchetes: “JATOS PERSSEGUEM UFOS NO INTERIOR DO PAÍS”, “DISCOS VOADORES FAZEM CHOVER PEIXES”
“ET’s RECOLHEM ESPÉCIMES TERRESTRES”
Ao ler as manchetes e havidamente ir para as reportagens, o fazendeiro vira-se para a mulher e pergunta:
- Tu acreditas nisso Antônia?
- Esse povo ta doido meu velho!
- É o fim dos tempos... Completa a avó!
Nota:
1. - Esse conto foi inspirado em notícias veiculadas na imprensa na década de setenta.
2. - Os microcontos postados no Recanto foram alterados de roteiro de quadrinhos (ainda preservam um pouco) para o formato atual.