KOVURO E ARUEN - Sétima Parte
Entre os gritos dos eunucos e outros lacaios, Kovuro entrou com Tules embaixo do braço e perdeu-se nos corredores, subindo por escadas e entrando em salas e outros corredores e subindo por outras escadas. Por fim chegou numa parte alta, uma espécie de água-furtada.
Uma pesada porta protegia a única entrada, e uma janela dava numa espécie de corredor externo, que comunicava com o terraço.
Kovuro segurou Tules e pulou pela janela, saindo ao terraço, correndo por este até chegar numa janela aberta. Era o harém. Os gritos das mulheres foram abafados pelo medo. Aruen estava ali. Kovuro soltou Tules no chão.
–Aqui estará segura – disse.
Em seguida Kovuro saiu fora e desapareceu por sobre os tetos.
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–É inconcebível! – disse Mama atirando coisas no chão – Vocês são uns incompetentes! Para quê pago a vocês regiamente? Quero os dois intrusos aqui, ou as cabeças de vocês! Não voltem aqui sem eles!
–Sim, senhora...
–Saiam! Saiam daqui agora!
Moorham e os seus subordinados saíram da sala. Yhom Uowald achou prudente nem comparecer perante Mama. Poderia lhe custar a cabeça...
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Dentro do harém, Tules foi recebida pela mais velha das mulheres.
–Coitadinha! – disse – Está tão suja!
–Vamos dar um banho nela! – disse outra.
–O que fazia com aquele homenzarrão gostoso? – disse a mais velha.
–Fugíamos da guarda – disse Tules ao recuperar a voz – entrei clandestina na cidadela... Vocês... Vocês não vão me entregar, vão?
–Não, pequena. Somos tão prisioneiras como você.
A camponesa respirou aliviada. Pelo menos de imediato estava segura.
–Como se faz para ir embora daqui?
–Se soubéssemos já teríamos ido... – disse uma loira.
–Eu tenho uma maneira... – disse Tules pensando em Kovuro.
As outras adivinharam o pensamento da menina, porque uma delas disse:
–Quem sabe aquele seu protetor...
–Sim. Ele.
–Chega! – disse a mais velha – Deem banho nela e vistam-na para passar despercebida antes que apareçam os eunucos!
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Entretanto, Kovuro estava ocupado escondendo-se da guarda. Procurava passar desapercebido até que alguém chegasse perto. O mercenário de Purana apertava o pescoço ou degolava o sujeito, segundo fosse conveniente. Os mortos começaram a aparecer nos lugares mais frequentados ou nos lugares menos pensados.
Um a um, os guardas morriam, e ninguém queria sair sozinho a patrulhar. Kovuro parecia um fantasma. Aparecia, matava e desaparecia. Em ocasiões nem aparecia, deixando o morto em lugar visível.
O terror estava dando resultado e chegou a noite de um dia terrível, noite em que o terror não deixaria ninguém dormir no palácio e na cidadela inteira...
A cozinha do palácio era um lugar quente.
O cozinheiro-chefe, lá pelas tantas, sentiu o aperto da fome e resolveu descer para fazer uma boquinha. Quando abriu a porta sentiu uma golfada de ar quente e outra de medo.
O gigante de Purana estava debruçado sobre uma perna de blenfa assada, a qual cortava com uma faca de ameaçador aspecto. Uma grande jarra de vinho quase cheia lhe fazia companhia. O cozinheiro abriu a boca para gritar por socorro, mas antes que emitisse o mínimo som, a faca assoviou no ar, entrando na sua boca aberta e assomando na sua nuca gorda, espetando-se no marco da porta. O cozinheiro passou desta para melhor com seus olhos abertos em expressão de pânico.
Kovuro prosseguiu seu jantar sem incomodar-se pela presença do morto em pé, cravado na porta. Depois de jantar, o gigante enfiou um pouco de carne seca e pão num bornal de couro que encontrou por aí e um cantil cheio de vinho. Pegou suas armas e recolheu a faca, permitindo que o infeliz cozinheiro deslizasse ao chão. Em seguida desapareceu pelos corredores, para continuar sua vingança.
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No quarto da guarda, três homens estavam sentados frente à lareira. De repente um deles tombou para frente no meio de um vômito de sangue. Antes que os outros reagissem, outro foi esfaqueado com a mesma faca suja de sangue do primeiro. O corpo não chegara ao chão e o terceiro voava pelo ar, vítima de um pontapé desferido pelo mercenário de Purana.
O infeliz caiu no fogo da enorme lareira, contorcendo-se violentamente até que segundos depois ficou quieto no meio das labaredas que se elevavam altas pelo buraco da chaminé. Kovuro torceu o nariz perante o cheiro de carne queimada e deu meia volta saindo ao corredor.
No alojamento da guarda, uma dúzia de homens descansava esperando seu turno de vigília quando o vidro de uma janela explodiu e duas cabeças caíram dentro do alojamento. Dois guardas assomaram-se e foram puxados para afora, voltando só os corpos sem as cabeças.
Kovuro mostrou-se, atirando duas flechas e matando mais dois guardas. Os sobreviventes responderam com uma chuva de flechas na janela quebrada. Com cautela, foram chegando perto ao tempo em que dois guardas saíram pela porta, mas não viram nada na escuridão.
Antes que alguém se atrevesse a pular pela janela, os vidros do lado oposto quebraram-se com estrondo e outras duas cabeças caíram dentro, ao tempo que uma flecha entrava nas costas de outro guarda.
Os cinco guardas restantes ouviram batidas a porta.
O silencio se fez. As batidas repetiram-se. Alguém foi a abrir a porta com cautela. Um guarda caiu aos pés dele com as costas cheias de sangue. O medo não deixou aqueles homens reagir, senão teriam saído do salão. Kovuro entrou com um lança-dardo em cada mão e atirou nos dois primeiros, que caíram para trás, atrapalhando aos outros.
Sem tempo para recarregar, Kovuro puxou a faca e atirou-a num sobrevivente que caiu com a garganta atravessada. Então com a espada o gigante de Purana decepou a cabeça de outro e se preparou para acabar com o último, levantando a espada com as duas mãos.
–Não! Por favor, não me mate...! – gritou o infeliz.
–Porquê não deveria? – disse Kovuro.
–Ajudar-lhe-ei a escapar daqui – disse o homem esperançoso.
–Posso escapar sozinho – disse Kovuro cortando o infeliz ao meio.
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O suboficial Moorham, na sua sala, recebia relatórios dos cadáveres achados pelo palácio todo, tremendo de medo. Este era um inimigo diferente dos submissos e indefesos cidadãos que costumava pisotear.
A porta abriu-se com violência e três cadáveres caíram aos seus pés.
Moorham ficou paralisado pelo terror sem atinar a pegar seu lança-
dardo, carregado e pronto encima da mesa. Ouviu gritos no corredor e outros dois mortos foram atirados para dentro, como se o assassino desconhecido estivesse rindo dele.
–Guardas! A mim! – gritou Moorham.
O desespero fazia-lhe ignorar que não havia mais guardas no corredor.
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Yhom Uowald estava na sala contígua à de Mama Dotir Apak, velando o sono da patroa. Os sons do dormitório, produzidos pelas brincadeiras da gorda asquerosa com uma das meninas cessaram. Nesta altura; talvez ambas dormiriam abraçadas.
Mas agora outro som ouvia-se; era o som da morte, que na figura do gigante de Purana; andava solta pelo palácio. Era tarde para arrepender-se de não tê-lo matado quando ainda podia. Não vislumbrava solução e os gritos dos moribundos ouviam-se cada vez mais perto. E o amanhecer ainda estava longe!
De repente a pesada porta rachou-se com o peso de um corpo atirado com violência aos pés de Yhom Uowald, que antes de reagir e saber o que fazer; viu entrar mais dois corpos sem cabeça como impelidos por uma catapulta. O chefe da guarda não reagiu, agora era apenas um homem assustado que se urinava nas calças...
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Mama Dotir Apak dormia placidamente abraçada à garotinha de plantão, à luz de umas poucas lâmpadas de azeite. A luz das estrelas penetrava pela claraboia do teto, que durante o dia iluminava o salão com a luz dos sóis.
Subitamente, uma gritaria ouviu-se no teto e em seguida o vidro se desfez com corpos que caíram no salão, acordando Mama e sua garotinha, a qual começou berrar histericamente aumentando a confusão ao tempo em que Yhom Uowald entrava com as calças molhadas, para ver a chuva de corpos decapitados que se amontoavam aos pés da agora visivelmente assustada Mama.
O sangue e o excremento dos defuntos sujava todo ao redor inclusive Yhom Uowald e Mama, que impotentes, assistiam mudos de pavor.
–Faça... Faça algo, Uowald! – balbuciou Mama.
–Fazer o que? – respondeu o aludido.
–Mate o desgraçado, Uowald!
–Como?
–Use uma das armas de emergência...Vá ao depósito rápido...!
–Não vou deixar você aqui, Mama...!
–Eu me viro, chame o Moorham...!
–Aqui está o Moorham! – gritou uma voz lá de cima – Precisam dele?
Moorham caiu ao chão como uma pedra, com o peito aberto horrivelmente, espalhando vísceras por todos lados. Kovuro desceu do teto pendurado a uma corda, com um olhar terrível. Yhom Uowald e Mama Dotir Apak ficaram paralisados pelo terror.
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(continua)
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O conto KOVURO E ARUEN forma parte integrante da saga inédita
Mundos Paralelos ® – Fase 2 - Volume V, cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados,
sarracena.blogspot.com