KOVURO E ARUEN - Quinta Parte
Enquanto Aruen era transformada a força numa viciada; Kovuro era mantido incomunicável na sua cela, sem comida, para submetê-lo.
Yhom Uowald, queria fazer dele um gladiador para divertir Mama.
Nos dias claros, no pátio central da cidadela, eram realizados torneios entre os gladiadores e os soldados faziam apostas pesadas.
Os torneios eram a morte.
No alto das muralhas, vigiando as lutas, atiradores de dardos estavam prontos para matar quem saísse da raia. As primeiras tentativas de transformar o mercenário em um gladiador foram infrutíferas. A aparência do gigante de Purana era tão assustadora, que os carcereiros recusavam a entrar na masmorra.
Sem alimentação, Kovuro pareceu definhar. Por fim, no quinto dia, entrou na cela meia dúzia de guardas equipados com grossas correntes fabricadas especialmente para ele. Apesar de sua aparente fraqueza, Kovuro não se deixou agarrar.
Após breve luta, os carcereiros fugiram da cela e fecharam a porta rapidamente, antes que o prisioneiro fugisse. Dois deles resultaram feridos gravemente. O oficial Yhom Uowald compreendeu que não seria tão fácil dominar o prisioneiro, como pensara antes, quando resolveu não alimentá-lo.
–Vamos deixar que passe fome mais alguns dias – disse aos seus
subordinados.
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Os dias foram passando, e Kovuro foi caçando os roedores e insetos que invadiam sua cela, às vezes em pleno dia, quando entrava uma fraca luminosidade pela janela gradeada do teto, única indicação de que o tempo corria. De qualquer maneira, seus olhos estavam adaptados a escuridão, fato de muita utilidade para pegar os roedores, insetos e outros seres reptilóides, que o mercenário devorava crus, sem nojo.
Sabia que devia alimentar-se e conservar sua força antes que fosse tarde demais para tentar fugir. Contrariamente ao que seus algozes pretendiam, Kovuro fortaleceu-se com tão bizarra alimentação. Até seu ânimo melhorara e já se permitia fazer pequenos exercícios para evitar a atrofia dos seus enormes músculos.
Por fim, no sétimo dia, Kovuro pulou.
E pulou tão alto que quase conseguiu tocar as grades da janela do teto. Na segunda tentativa, Kovuro conseguiu segurar-se por uma fração de segundo numa das grades, e percebeu que estava frouxa.
Antes de tocar novamente o chão com os pés; Kovuro sabia que fugiria.
Sabia que seria questão de tempo apenas, que apertaria o pescoço de Yhom Uowald até que não mais respirasse, até que os músculos do oficial da guarda relaxassem na lassidão da morte. Kovuro sabia disso. Amanhã tentaria outro pulo, e aí...
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A luz amarelo-alaranjada do amanhecer entrou pelas luxuosas cortinas do voluptuoso quarto de Aruen. A jovem guerreira está transformada numa cópia mal feita do que era. Seu rosto agora tem rugas, e está mais enxuto.
Aruen acordou de mau humor.
–Jerod! – gritou a um dos eunucos que a serviam – Mais mutara!
Aruen estava viciada. Agora estava nas mãos de Mama.
Serviria de brinquedo para aquela mulher asquerosa apenas por um pouco de droga.
O eunuco prontamente atendeu ao pedido da bela prisioneira. Minutos depois, a jovem estava mais calma, embora não perdesse o conhecimento, devido ao hábito já arraigado à droga; o que seria decisivo na sua futura relação com Mama.
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O eunuco Jerod entrou na sala onde Mama curtia outra das suas ressacas. A gorda descomunal puxava com violência os cabelos da menina de plantão.
–Ai, senhora!
–Cala a boca, sua xawa! – disse Mama com os olhos vidrados.
–Mas... Ai! – choramingou a moça nua.
Mama Dotir Apak sabia ser absurdamente cruel com os seus vassalos, quando se fartava deles. De repente, reparando na irrupção do eunuco, gritou:
–O que você quer, criatura desprezível? Não vê que estou ocupada?
–É... É a nova escrava, senhora – disse o castrado, tremendo de medo.
–O que há com ela? – os olhos de Mama suavizaram-se.
–Está no ponto, senhora.
–Ah!...
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Os sóis estavam quase assomando sobre o cais da ilha, quando um veleiro começou se afastar do porto após descarregar cinqüenta tonéis de azeite de lâmpadas, para serem levados à fortaleza.
Quando o navio estava longe, a tampa de um dos tonéis deslizou a um lado e um rosto juvenil, coberto de azeite, assomou de seu interior olhando para todos lados.
Quando se sentiu segura, uma adolescente completamente nua e bem formada, de doze anos, coberta de óleo de lâmpada e cheirando como tal; deslizou para fora do tonel.
Como um roedor, a garota disparou velozmente a esconder-se no meio das mercadorias amontoadas no cais, mas foi vista por dois trabalhadores que prontamente se lançaram em seu encalço.
Tules Dotir Reggihag, agora estava em apuros...
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Os rudes estivadores do porto pareciam dois xawas à caça do pequeno roedor lubrificado que era Tules Dotir Reggihag, escorregando das mãos dos dois homens como uma enguia ensaboada.
Quando um deles conseguia pegá-la, ela escorregava e desaparecia veloz, deixando os homens raivosos.
Não adiantavam gritos nem pragas, Tules era boa nisso. Talvez por ter fugido toda sua vida, sempre de algo ou de alguém.
O corpo lubrificado e completamente nu da menina era difícil de segurar e as sombras do crepúsculo matutino eram quase impenetráveis nessa hora. Mas quando o amanhecer chegasse, Tules deveria procurar um lugar mais seguro para se esconder, pois à luz do dia seria vista.
Os vivos e inquietos olhinhos da jovem descobriram uma carruagem carregada de pedaços grandes de carne para consumo da cidadela. O cheiro da carne serviria para disfarçar o cheiro do azeite de lâmpada. Não pensou duas vezes. Pulou na carruagem e misturou-se à carga nos buracos deixados pela carga irregular.
Os estivadores foram chamados de outro lugar e de comum acordo resolveram esquecer a intrusa para evitar que alguém lhes incumbisse de procurá-la. Ela sentiu-se segura por enquanto, pelo menos até que a carruagem chegasse à cidadela.
Tinha a vaga esperança de que poderia entrar sem ser vista e localizar seu amigo Kovuro, se ainda estivesse vivo.
Por fim a carruagem se pôs em marcha, puxada por dois enormes asgoths de carga, quando os sóis já começavam a esquentar. A cidadela com os sóis por trás; parecia uma imagem fantasmagórica, chegando a provocar arrepios na pequena Tules, que nua e indefesa, aguardava o momento de ser descoberta na descarga. A porta foi atravessada e os asgoths conduziram a carruagem à cozinha descomunal do palácio da Mama. Quando o carro parou, ela sentiu sua pele arrepiar apesar do azeite.
–É agora – pensou – ou nunca!
Correu como possuída, transformando-se numa linha escura que atravessou o pátio e entrou no prédio, perdendo-se entre os montes de mercadorias e alimentos estocados. Seria impossível ser descoberta ou pelo menos assim pensava.
Um dos ajudantes da cozinha a viu. Largando seu avental, começou uma louca corrida entre as pilhas de mantimentos, detrás da intrusa. Foi em vão, não conseguiu achá-la por mais que procurasse em todos os cantos do depósito. Finalmente, fez o que devia: gritou.
–Alarme! Há um intruso na cidadela!
As forças do inferno estavam desatadas...
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Se, como agora, um intruso entrasse na cidadela; a medida a tomar seria chamar a guarda de elite, cuja missão era proteger Mama de qualquer atentado externo ou interno.
Neste caso havia um perigo desconhecido, um intruso não bem definido, provavelmente alguém querendo vingança ou coisa parecida. O chefe da guarda, Yhom Uowald, e o seu tenente Moorham, à frente de vinte homens, lançaram-se á caça.
O armazém foi completamente cercado, Moorham e um grupo de três homens entrou pela frente enquanto Uowald e outro grupo igual o faziam pelos fundos.
Dentro estava completamente escuro, porque as pilhas de mantimentos eram tão grandes que ofuscavam por completo as luzes das lâmpadas de azeite. Tules Dotir Reggihag, estava oculta junto de uma pilha enorme de sacos de tecido rústico cheios de farinha. Os soldados puxaram as espadas.
O despenseiro arrepiou seus cabelos:
–Não! – gritou – Não estraguem a mercadoria!
Uowald não se dignou a olhá-lo.
–Abram caminho! – ordenou aos seus homens – Dane-se a mercadoria!
Os soldados começaram a destruir parte das pilhas de mantimentos.
–Não vão achá-lo assim! – disse o despenseiro – a confusão só o favorecerá...
–Não vai me ensinar meu trabalho, imbecil!
O despenseiro suspirou resignando.
–Carrascos! – murmurou entre dentes.
Tules Dotir Reggihag sentiu que seria descoberta. Um saco de farinha se rasgou encima da sua cabeça. Coberta de azeite como estava, a farinha de mim-dar grudou-se ao seu corpo, transformando-a num fantasma branco.
–Lá está! – gritou alguém.
–É uma garota, peguem-na! – berrou Uowald.
Os soldados correram atrás da menina enfarinhada, que, agilmente, deixou-os para trás no meio da confusão.
Era fácil enxergá-la no escuro sem contar com que deixava um rastro de farinha misturada com azeite e outras substâncias que foram grudando-se nela em sua louca fuga. Tules não era estúpida, e entendeu que devia lavar-se o mais rápido possível. Mas, onde?
(continua)
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O conto KOVURO E ARUEN forma parte integrante da saga inédita
Mundos Paralelos ® – Fase 2 - Volume V, cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados,
sarracena.blogspot.com