KOVURO E ARUEN - Quarta Parte
Mama Dotir Apak
A menos de trinta estádios da costa de Marka, havia uma ilha onde Apu-Marka estava erigida.
Era uma fortaleza em forma de estrela de cinco pontas, de grossos muros de pedra cinzenta com seteiras, nas que assomavam canhões de pólvora capazes de afundar uma embarcação de vela ou uma grande nave de guerra de três fileiras de remos.
Centenas de soldados, blenfas e asgoths de combate, moravam dentro daqueles muros. Dentro havia construções modernas e sofisticadas, incluindo uma torre de vigia e uma torre de luz para orientar os navios no mar. As águas estavam revoltas e negras quando a embarcação de vela atracou no cais, a menos de um estádio da fortaleza.
Dois carroções puxados por pesados asgoths de carga esperavam para carregar. Meia dúzia de soldados, comandados por um suboficial da guarda de elite da Mama; esperavam para efetuar a descarga. Dois corpos amarrados foram depositados encima da madeira escurecida do cais. O oficial da guarda saltou a terra e foi cumprimentado pelo suboficial:
–Salve, ilustre Yhom Uowald!-disse o subalterno, batendo continência.
–Salve, Moorham. Trouxe dois prisioneiros.
–O que devo fazer com eles?
–O homem irá direto para as masmorras. Será um bom gladiador.
–E a mulher?
–É uma escrava muito bela que comprei para diversão da nossa chefa.
–Entendo.
–Pode levá-la para o harém.
–Muito bem senhor.
Os carroções carregados partiram para a cidadela.
A ponte levadiça desceu e as sentinelas bateram continência aos guardas de elite.
Uma vez dentro, os dois veículos separaram-se em rumos diferentes. Yhom Uowald dirigiu-se ao edifício central, onde residia Mama Dotir Apak, a despótica tirana.
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Outrora construído para ser uma moradia de luxo com todas as comodidades que o ouro pode comprar, o edifício mostrava-se descuidado por fora e dava a impressão de decadência. Apesar disso seu interior era luxuoso. Gente entrava e saía constantemente pela porta principal.
Yhom Uowald, passou por todos com passos rápidos, atravessando inúmeras portas até chegar na ultima, fortemente guardada por dois guardas de elite que bateram continência respeitosamente.
Yhom Uowald deteve-se e respirou fundo.
Atravessou a porta e aí estava ela; dando ordens aos escravos; atirada encima de muitas almofadas, com um copo de mutara misturada com vinho em uma mão e uma caixa de guloseimas na outra.
Seis tripés carregados de velas iluminavam a cena, com inusitados jogos de luz e sombra. Escravas bonitas e nuas apareciam em lugares estratégicos, abastecendo os convidados de Mama com vinho e doces.
Mama devia de ter trinta e oito anos, mas representava mais, devido a sua inaudita gordura e a sua expressão malvada. Seus olhos pequenos, de olhar perverso reviraram-se constantes, vidrados pela droga.
–Salve Mama!
Vestida apenas com uma minúscula tanga, ridícula perante sua exagerada gordura; Mama remexeu-se encima das almofadas, derramando um pouco de mutara, e com a boca cheia de doces, resmungou, depois de olhar para o oficial:
–Até que enfim você chegou, seu verme! Cadê a nova escrava que mandei comprar? E o quê aconteceu na sua cara?
–A escrava já está no harém, Mama. Também trouxe um escravo bom de luta que será um bom gladiador.
–Ah...! Sim, sim... Mas olhe sua cara! Apanhou feio! Quem foi? O escravo?
–Um acidente com a escrava...
Mama começou a rir, cuspindo restos de doces nas almofadas e suas enormes tetas brancas de mamilos róseos estremeceram-se como geleia. Yhom Uowald ficou meio sem jeito, embora já conhecesse Mama.
Mama parou de rir.
–Que está esperando para trazer minha escrava seu imbecil?
–Bem... Há... Há um pequeno problema, Mama... Tivemos que drogá-la porque é muito geniosa...
–Eu tiro o gênio dela, seu verme! Vá buscá-la!
–Este... Acho que não, Mama. É uma lutadora experiente, pelo que eu vi...
–Então porquê comprou? Está pensando que o meu ouro é inchu?
–Eu me enganei, Mama... Aquele maldito trapaceiro do Zyszhak... Talvez seja uma boa idéia denunciá-lo à Suprema Confederação para que o exterminem como fizeram com quase toda sua maldita espécie de parasitas no planeta dele.
–Não, seu idiota! O safado ainda pode me servir!
–Mas mantinha a moça drogada. Assim, até que era bem dócil.
–Enfie-lhe mutara goela abaixo até sair pelas orelhas. Quero minha escrava no ponto para amanhã.
–Certo, mas para amanhã... Não sei não, Mama.
–Faça como quiser. Agora quero aquela lindinha que está ali – Mama reparou numa escrava nua de quinze anos que servia vinho aos convidados da chefa.
–Hei, você! Venha cá, pequenina!
–Sim senhora.
–Não me chame de senhora, meu docinho – disse Mama abraçando a garotinha e apertando-a entre suas enormes tetas – me chame de meu amor...
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Kovuro acordou dentro de uma fria masmorra de úmidas e emboloradas paredes de pedra; sem dúvida no mais profundo da cidadela. Alguns roedores, insetos rasteiros e outros seres nojentos, movimentavam-se livremente pelo cubículo e sobre o corpo do mercenário de Purana.
O frio e a umidade faziam o homem tremer, atirado no sujo chão de pedra. Não estava amarrado e tentou levantar-se. Não conseguiu, sua
cabeça doía e girava. Ainda não passara o efeito do narcótico paralisante.
O gigante de Purana arrastou-se até um nicho cavado na parede de pedra, recheado de palha a modo de beliche. Conseguiu seu objetivo e deitou-se mais cômodo para descansar e recuperar-se.
Seus pensamentos retornaram sobre suas últimas ações e levaram-lhe a compreender o estúpido que fora ao deixar-se pegar daquele jeito.
Se ao menos tivesse esperado que levassem a escrava longe do maldito
mercado!
Pelo menos poderia escolher o terreno de confronto.
Mas agora, depois de ter se deixado pegar da maneira mais idiota só lhe restava traçar um plano de fuga deste lugar. Pelo visto não seria fácil, estava desarmado e as paredes eram grossas demais para perfurá-las. A porta, pelo que dava para ver, devia ter várias camadas de madeira
dura reforçada com tiras de ferro fundido.
Na parede oposta havia outro nicho, o que indicava que a cela devia de ser para dois prisioneiros. No teto havia uma janela gradeada para ventilação, mas não podia ver se era dia ou noite. Kovuro perdera a noção do tempo. Não sabia quanto estivera inconsciente, nem quanto tempo levava dentro da prisão.
O mercenário de Purana tentou freneticamente lembrar-se da sua captura, sem consegui-lo. Desistiu e resolveu estudar a forma de fugir. Seus olhos percorreram a masmorra, procurando o detalhe que o ajudaria a escapar. Corria contra o tempo, pois ignorava quanto faltava antes de alguém aparecer. Não podia mover-se, e avaliou a situação; seria difícil escapar sem ajuda externa.
A alternativa era esperar que alguém viesse a trazer comida ou visitá-lo para interrogá-lo; e então dominá-lo e usá-lo para escapar. Provavelmente, viriam buscá-lo para torturá-lo ou treiná-lo como gladiador, e então aí... Seria melhor fingir-se fraco ou doente, para que se descuidassem. Depois...
Sim, era o melhor plano. Com esse pensamento tranquilizador, Kovuro relaxou e procurou dormir, coisa que lhe faria muita falta mais adiante.
*******.
Enquanto Kovuro traçava seus planos de fuga, Aruen passava suas próprias dificuldades como a garota mais nova do harém da perversa Mama Dotir Apak...
Belamente decorados, os quartos do harém estavam cheios de almofadas coloridas, tripés de velas e braseiros de ervas aromáticas.
Estavam dispostos aos lados de uma piscina pouco profunda. As mulheres eram quinze, e com Aruen, dezesseis. A moça recuperava-se da última dose de mutara no seu quarto que dava para o lado leste. Dois eunucos seguraram seus braços para que se levantasse.
–Soltem-me, nojentos! – gritou Aruen, ainda meio tonta.
–Tragam mais mutara! – disse um dos eunucos.
–Não quero! Larguem-me!
–Segure forte, senão escapa! – disse o eunuco.
–Sei do que é capaz – disse outro – a primeira dose foi uma briga.
–Abra a boca! Beba! Assim...
–Não, não! Argh!
–Me mordeu, essa xawa!
–Segure firme!
–Já está, agora é só esperar... – disse o primeiro eunuco.
Finalmente, Aruen caiu vítima do mutara. Sabe muito bem que mais umas poucas doses e ficará irremediavelmente viciada. Os eunucos respiram aliviados.
–Foi difícil – disse o primeiro.
–Ainda bem. Mais algumas doses e será nossa.
–Duvido, ela é muito voluntariosa, tem força... Não sei, não...
–Quando começar a pedir mutara, fará o que mandarmos.
Enquanto os eunucos conversavam, as garotas agruparam-se na porta tentando ver a recém chegada. Algumas eram adultas, da mesma idade de Aruen.
–Quero ver Mama dominar essa aí – disse a mais velha.
–Só drogada! – respondeu uma das mais novas.
–Talvez – acrescentou a mais velha.
Alheia aos comentários, Aruen dorme seu sono artificial enquanto os eunucos olham suas belas formas com a frustração de quem não pode aproveitá-las.
E mais um dia se passou sem que se vislumbrasse uma esperança.
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(continua)
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O conto KOVURO E ARUEN forma parte integrante da saga inédita
Mundos Paralelos ® – Fase 2 - Volume V, cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados,
sarracena.blogspot.com