Momentos - Parte 2

Um pouco distante pode-se ouvir a chuva começando.

(...)

Tudo era tão confuso. Naquele mundo. Por mais que crescesse, menos ainda sabia de tudo que lhe passava na sua frente. Quanto mais observava o todo ao seu redor, menos aprendia. Tudo era tão sem sentido. Mesmo tentando entender, acabava por nada entender. E somente andava na imensidão do mundo sem um destino certo, ou, pelo menos, sem que ele soubesse que tinha algum destino.

Sentia-se, às vezes, estranho, por causa do sonho, que, vez por vez, vinha de repente nos seus dias de sono profundo e fazia lhe lembrar de coisas agradáveis e, ao mesmo tempo, desagradáveis. Muito se apegou a aqueles sentimentos e a muito tentara esquecer aquilo tudo. Não queria se apegar as doces memórias de antigamente, não mais queria se machucar novamente.

Andava, então, no meio da multidão. Andava sem o seu destino certo. Até que um dia, o destino voltou-lhe. Se certo, ou não, quem poderia julgar?

- Olá... – Disse ele olhando para aquela pessoa que parecia centrada nalgum pensamento distante. Já conhecia aquela pessoa de algum lugar. Os seus olhos negros, tal qual os seus cabelos, fustigava a sua memória, uma lembrança antiga quase que, morbidamente, esquecida no tempo.

As pessoas passavam ao seu lado. Um som de vida tomava todo aquele grande lugar de compras, um Shopping. Não era um bom lugar para encontrar alguém conhecido, mas desconhecido. Tanta pressa, tanta falta de tempo e o que iria falar? O que iria dizer aquela pessoa? Tantos assuntos, mas, ao mesmo tempo, sem nada a dizer. Teria que começar de algum lugar, mas donde?

Esperou alguma resposta. E veio, com um sorriso e uma palavra.

- Olá. – Disse a moça que estava ali sentada.

- Há quanto tempo en? – Perguntou ele tentando começar a quebrar o gelo.

- Muito.

- Está fazendo o que aqui?

- Esperando... apenas esperando.

Ele sorriu com a resposta. Muita gente poderia esperar por muitas coisas na vida. Ou, simplesmente, dizer que estava esperando, não necessariamente alguma coisa. Não podia adivinhar o que ela estaria esperando, pensando naquele momento, pois, para ele, aquela menina sempre foi um mistério guardado a sete chaves. Nunca conseguiu entrever nos seus pensamentos, em suas ações e, desde o momento que deixou de falar com ela, pensou que nunca iria descobrir nada sobre ela.

- Às vezes é bom esperar. – Disse ela.

- Concordo.

As pessoas iam e viam. Fazendo as suas compras, pagando as suas contas. Não dando atenção aquele encontro especial, talvez não a eles, mas aqueles dois que a muito não se viam. A vida tão atribulada com o seu cotidiano miserável para com as pessoas, não deixa ver quem vive ela os momentos bons que ela nos oferece. Tal qual naquele instante.

Uma chuva fina começara então. O barulho era bastante audível já que o teto daquele lugar era feito de vidro.

Ele nada dizia, por alguns segundos, apenas via ela ali sentada. Queria observar ela e ver se continuava a mesma de sempre. Mudara um pouco o corpo, mas isso era o de menos, será que ainda era a mesma de mente.

- Como vão as coisas?

- Vão bem... – Respondeu ela. – E você?

- Vão indo bem... eu entrei numa faculdade...

- Qual é o curso?

- Informática... e você?

- Fazendo cursinho...

- Que chato... sei como fazer cursinho é um porre.

- É...

Os olhos dela continuavam os mesmos. Por detrás de uma fachada que, por ventura, ele mesmo prejulgara que ela tinha no passado, havia um brilho vivo. Algo que queria liberar, mas, por momentos da vida, não conseguia. Sua força estava presa por algo inexplicável. Uma pena.

- Fiz cursinho ano passado e nem assistia as aulas direito. Não agüentava mais ver física, matemática, química. Só matéria chata. – Rindo-se – Pior que nem usa isso na faculdade direito. Só matemática e olhe lá, pelo menos na minha área.

- Putz.

- Vai ficar sentada? Vamos andar um pouco... – Disse ele.

- Não posso agora. Estou esperando está bem?

- Bom... está bem. – Disse ele. – Fico aqui contigo então.

E conversaram mais um pouco sobre tudo que haviam feito em suas vidas desde a separação. Muitas coisas boas, muitas coisas ruins e, claro, muitas coisas omitidas, pois estavam se conhecendo naquele momento, apesar de sempre conversarem antes de deixarem de se ver.

Já havia passado um bom tempo.

- você tem celular?

- Uhum...

Ela dera o numero do telefone celular e do telefone de casa.

- Qualquer dia eu te ligo... – Disse ele.

E a espera dela também acabou. A irmã havia chegado. Há muito, também, que não via a irmã dela.

E se separaram.

(...)

- É a vida... – Suspirou ele. – A vida sempre nos prega peças, boas e ruins. Isto tudo é uma droga. Talvez um ano não passe muita coisa, ou pouca coisa mude, mas um dia tudo o que sabemos muda, para pior ou para melhor. Se existe uma equação perfeita para viver a vida, não sabemos a inconstante que faz com que tudo seja caos.

Estava com as mãos sobre a pia. A torneira jorrava água constantemente. Olhava para o chão e pequenas gotículas da água começavam a transbordar da pia.

- Como dizem por aí. Tudo pode escapar por entre nossos dedos. Nossas oportunidades são tão escorregadias como uma gota de água. São oportunidades raras, mas, ao mesmo tempo, constantes. E perdi várias delas.

Sentou-se na privada do banheiro e ficara observando a água transbordar por completo da pia. Um verdadeiro rio de água começava a se formar no piso do banheiro. Mas pouco ele se importava com aquilo. Com o que poderia acontecer com ele, ou mais além que isso.

- Tudo perdido por bobagem. As meras ilusões que eu construí não passaram disso, ilusões. Como eu fui estúpido comigo mesmo. – Continuou dizendo para si mesmo. Uma narrativa uníssona e monótona. Parecia que queria se explicar, se desculpar por tudo que fez a si mesmo. – Tudo... ilusões, que me ajudaram em muita coisa, mas, mesmo assim, não me ajudaram... vivemos das ilusões, mas quando encaramos a verdade, morremos com elas e, muitas vezes, não conseguimos nos reconstruir. Tudo desmorona e tudo rui.

Daniel Chrono
Enviado por Daniel Chrono em 20/03/2011
Código do texto: T2860548
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