Sobreviver - A Queda PARTE 1
Foi tudo muito rápido, uma hora estavamos voando tranquilamente e quando me dei por conta nosso monomotor estava caindo a uma velocidade incrível. Só me lembro dos pilotos desesperados chamando a torre pelo rádio, mas não conseguiam resposta alguma. Instantes depois eu apaguei.
Quando voltei a si, uma enorme dor percorria meu corpo, olhei para todos os lados em busca de alguém para me socorrer mas não tinha ninguém ali. Uma ferroada de dor percorreu meu corpo, foi então que percebi a gravidade dos meus machucados. Minha perna esquerda estava quebrada e o fêmur havia atravessado minha pele, dava para ver o sangue saindo e enxarcando minha calça. Fiquei então desesperado, eu não queria perecer ali, eu tinha familia, filhos, que ficariam arrasados se seu pai morresse em um acidente trágico.
Juntei o que me restava de forças e dei um grito bem alto:
-Socorro! Socorro! Ajuda! Ajuda!
Num primeiro momento não recebi resposta, mas após alguns segundos intermináveis uma voz gritava do outro lado da aeronave destroçada:
-Calma! Estou indo aí!Não se mexa...
Em meio ao fogo surgiu a figura de um homem de médio porte, pele clara, podia ser alemão ou francês, mas em meio aquele caos não consegui identificá-lo. Veio em minha direção a passos apressados, tirou alguns destroços do caminho até chegar em mim, então vendo meu estado rasgou sua camisa e amarrou na minha perna, procurou um galho e fez um torniquete, ele sabia das coisas:
-Amigo, se agarre em mim, não solte de maneira alguma, vou te tirar daqui.
Não pensei duas vezes, me segurei nele e rapidamente saímos daquele inferno. Alguns metros adiante me ajudou a sentar e finalmente eu pude ver quem era, mas antes de dizer alguma palavra de agradecimento uma outra voz clamava por socorro:
-Fique aqui meu amigo, já volto.
Rapidamente ele se adentrou no inferno flamejante e não demorou muito apareceu com outra pessoa em seus braços. A medida em que se aproximava pude ver que se tratava de uma mulher, mas seu estado não era dos melhores, tinha escoriações por todo o corpo e parte de seu braço estava queimado. Com muito cuidado ele a largou no chão e tratou de seus ferimentos.
Mesmo estando naquele inferno ele sempre se mostrava calmo, parecia saber exatamente o que fazer e quando fazer. Depois de algum tempo cuidando da sobrevivente, ele veio em minha direção e sentou-se ao meu lado:
-Como está sua perna?
-Melhor, mas ainda dói muito.
-Seu ferimento é grave, mas já estanquei o sangramento e imobilizei sua perna, agora é esperar e ver o que acontece.
Não gostei muito daquelas palavras, me deixaram abaladas, mas como ele havia me salvado da morte certa e eu tenho uma chance de sobreviver deixei de lado a emoção e usei a razão. Notando meu silêncio, tornou a falar comigo:
-Desculpe eu falar assim, mas é que também estou sem saber o que fazer.
-Tudo bem. Mas mudando de assunto, quem é você?
Sua expressão mudou rapidamente, parecia que eu havia cutucado uma ferida aberta que a muito tempo o incomodava, mas respondeu sem delongas:
-Me chamo Pierre.
-Prazer Pirre, me chamo Scott,muito obrigado por me ajudar, se você não estivesse ali provavelmente estaria morto. Mas agora mudando de assunto, o que aconteceu?
Houve um silêncio terrível, não falou nenhuma palavra, apenas tratou de olhar para o céu estrelado. Após alguns segundos contemplando as estrelas, voltou-se de novo para mim, deu um suspiro e começou a falar:
-Eu não sei direito o que aconteceu. Só me lembro de estarmos voando tranquilamente e de repente tudo virou um inferno...
-Certo. Também só sei disso. Talvez nossa amiga quando acordar possa nos dizer algo.
-Tomara, porque estou com muito medo, não sei onde caímos, não sei o que tem ao nosso redor.
-Acho que logo as equipes de busca virão nos procurar.
-Espero que sim.
O tempo foi passando e a noite virava dia, a escuridão dava lugar à luz, foi ai então que pudemos ver toda a dimensão do acidente. Nosso monomotor virou apenas um monte de ferragens chamuscadas pelo fogo, não havia sobrado absolutamente nada. Eu e Pierre começamos a mexer nos destroços com esperança de encontrar algo que o fogo não havia consumido, mas nada encontramos, tudo destruído. Voltamos então para nosso abrigo provisório, mas para nossa surpresa a mulher que econtramos ontem não estava mais lá:
-Cadê a mulher? Ela estava bem aqui.
-Não sei Pierre, ela estava ainda desacordada e com seus ferimentos não tinha para onde ir.
-Vamos procura-la, não deve estar longe.
Ajoelhei-me para ver se encontrava alguma pista, algum vestigio para determinar o paradeiro da nossa amiga. Olhei todo o chão onde ela estava deitada, vasculhei a àrea em volta, mas nada, parecia que tinha sumido sem deixar marcas:
-E agora Scott, o que faremos?
-Eu é que pergunto pra você o que faremos.
-Não é hora para brincadeiras, temos que saber o que aconteceu.
-Eu gostaria de ter uma resposta, mas infelizmente não sei nada, não sei onde estamos, não sei o que está acontecendo, só sei que eu to vivo, perdido, com fome, com sede e que quero sair daqui com vida, quero voltar para minha familia, beijar minha esposa, abraçar minha pequena Emily...
Que aperto no coração quando penso nela, minha princesinha Emily, ela deve estar sentindo muito a minha falta. Toda vez que pensava na minha familia, uma força extra despertava em mim, uma esperança renascia. Respirei fundo, levantei a cabeça, eu tinha uma razão para viver, minha familia. Mais animado voltei a falar com Pierre:
-Nós vamos sair daqui, estou sentindo isso.
Pierre voltou a sorrir, minha confiança o tinha reanimado, parecia mais jovial, mais preparado para enfrentar o que fosse:
-Com certeza vamos nos safar dessa.
-Vamos voltar para o avião, talvez haja a possibilidade de um helicoptero ou um outro avião estiver passando, ai podemos pedir ajuda.
-Talvez nossa amiga tenha ido para lá também, o que tu acha?
-Talvez, mas se ela está lá, não passou por nós, porque a trilha que leva para o avião é a que nós estamos, então ela tinha que passar por nós, mas nem sinal dela.
-Pois é, to com um mal precentimento em relação a esse lugar onde nós caímos, tem um ar meio sombrio, sei lá, deve ser coisa da minha imaginação.
Não quis amedrontá-lo, mas eu também sentia a mesma coisa. Algo tinha de muito estranho neste lugar onde caímos, sinto sempre uma presença estranha por perto. Resolvi esquecer isso por enquanto e me concentrar em chegar ao monomotor e procurar algo que nos possa ser útil. Virei-me para Pierre, mas ao dar o primeiro passo senti aquela dor terrível vinda da minha perna esquerda e joguei-me no chão pois não conseguia ficar mais em pé. Imediatamente Pierre veio me ajudar:
-Calma Scott, calma. A tala que fiz parece que está se desmanchando, vou procurar algum galho mais firme para fazer uma nova.
-Por favor, vá rápido, não aguento mais de dor...
Pierre saiu em disparada mata adentro em busca de algum galho que servisse para fazer a tala, enquando isso fiquei imóvel em meu lugar esperando. Naquele momento tudo ficou quieto, apenas o som dos passáros ecoava pelas matas sem fim, a natureza parecia ganhar vida. Olhei em volta para tentar encontrar alguma coisa que me ajudasse a enteder o que estava acontecendo, mas novamente nada encontrei.
A paisagem era bonita, tudo ao meu redor parecia ser intocado pelo homem, haviam flores de todas as cores, árvores vistosas com frutos suculentos. Devido a toda adrenalina eu não sentia fome, mas agora que estou relaxado, a fome e a sede iam crescendo. Decidi mesmo machucado tentar me mexer para algum lugar em busca de alimento. O avião estava a cerca de uns oitocentos metros de onde eu estava, portanto não seria uma boa idéia ir até lá, olhei então em volta e encontrei uma árvore com frutas que mais lembravam laranjas. A fome acabou falando mais alto e fui restejando até seu encontro, mas a cada movimento de minha perna a dor era intensa e após rastejar uns dez metros desisti.
Naquele momento eu tinha perdido a esperança, virei-me para o céu e fiquei a comtemplá-lo: "Como ele estava lindo aquele dia" eu pensava. As nuvens flutuavam na direção em que o vento soprava e o sol brilhava intensamente, minhas forças estavam acabando, eu precisava de algo para comer e beber. Tudo foi ficando escuro, eu apenas consegui escutar uma voz antes de apagar:
-Lá está ele...