Calendários, dias ,Dejavu
Não queria enlouquecer antes do por do sol. Mas enlouqueci! Vejam vocês que meu mundo ainda não ruiu por todo.
Além das fronteiras de uma realidade alienada pelos veículos de informações, mantive a mente em alerta. Durante aquelas horas que me restavam de sanidade, silenciei meus pensamentos, mesmo abalados, mas verdadeiros. Quando os portões da oficina foram abertos, os raios do sol se deitavam sobre os campos coberto por gotículas orvalhadas da noite anterior atingiram meu rosto, desfigurado pelas emoções enraivecidas. Como fazê-los crer que a rotação da terra vai mudar? Como fazê-los crer que as informações que nos chegam podem estar corretas? Mas aquele radio ligado ainda anunciava as primeiras noticias do amanhecer, e nada estava fora da verdade do cotidiano. O padeiro acabava de parar sua bicicleta com um cesto encardido, deixando na porta de uma casa com varanda e flores penduradas, um litro de leite com pães frescos. Com os olhos ofuscados pela força do sol que impedia de ver o rosto do padeiro entregador que também estava lá parado me olhando, me ocorreu, um sentido estranho, um amanhecer estranho. O cão com rosnar e salivas na fuça arreganhada, pulou no portão da casa vizinha mostrando apto ao ataque de intrusos, o padeiro parecia assustado me olhando, passando em mim uma impressão que eu também deveria estar com medo, o que não ocorria. Os cães parecem pressentir quando um normal esta a ponto de enlouquecer... e no olhar de fera daquele pastor alemão , não havia nada de assustador, a não ser quando latia e se dirigia para aquele entregador padeiro. Queria dizer a ele:-Caia fora por favor! Me deixe contemplar essa manha !! não vê? Estou querendo sentir o sol em devido silêncio essa manha! Porque ainda fica parado aí? Todas essas coisas passavam em segundos pela minha mente sem que mesmo o cão ali pudesse saber. Tudo muito rápido ocorreu que um grito foi ouvido na esquina da oficina, eu, apenas virei com a cabeça rapidamente, vi um objeto metálico vindo em minha direção, agora eu estava de costas para o sol o padeiro também, mas o cão não estava, com isso ficou com aquele aspecto de pura loucura animalesca com salivas espumando e babas caindo pra todo lado, eu pensei que aquele objeto fosse degolar minha cabeça, por que, não haveria tempo para sair em instantes se eu estivesse sonolento de frente para sol. Mas, ao ficar de costas e ao me virar devido o barulho , pude ver que iria me atingir , num só golpe afastei no momento que seria degolado, e não mais veria a terra girar ao contrário. O padeiro não entendeu porque girei rapidamente contorcendo meu corpo, o cão vendo aquele objeto grande e metálico que mais parecia uma guilhotina, ,começou a latir mordendo as grades de sua prisão. Seria meu ultimo por de sol aquele dia, se não estivesse atento. O padeiro intrigado ficou pálido, ali parado na frente do sol que impedia de eu ver e sentir aquela manha. Um homem gorducho desceu correndo e pediu desculpas a mim, parando também em frente ao sol que me aquecia agora com uma sutil energia. O cão latiu alto, tudo podia acontecer se aquela placa luminosa caísse em cima de mim! Não morri, porque ao ver o golpe meus instintos foram rápidos, poderia decepar meu pescoço, do padeiro ou o cão, se estivesse no caminho da aterrissagem acidental. O gorducho dentro de uma uniforme com insígnias desconhecida era muito estranho, eu pude ver símbolos de um circulo e rosa nuclear, parecia um ser de outra galáxia, com sapatos pretos de um sintético até hoje não visto aqui na esquina. Ele parou sério, com uma bochecha rosada e um pouco de pelos brancos no bigode, acho que ele era um desses coordenadores de uma equipe dos serviços de alta tensão, o sol em suas costas resplandecia com uma intensidade, aos seus leves movimentos fazendo atingir meus olhos que novamente tentava entender tudo aquilo. Quando o padeiro foi questionar com o gorducho o que estava acontecendo ,senti que o cão iria pular o portão, agora ele estranhava por completo um homem que estava com aquela roupa, tudo porque para o cão aquilo podia mesmo parecer um ser de outro planeta.. Talvez!!Ali parado sem poder dizer algo que fosse, senti que estava em meio a um acontecimento, onde todos diriam que eu realmente enlouquecera em tentar explicar tudo o que aconteceu. O gorducho era o dono da padaria, o padeiro era o entregador, sua roupa não era de nenhum homem das galáxias, os símbolos pude ver que eram círculos em volto de outros círculos e os sapatos eram de uma grife italiana de sintético para não molhar. Aquilo que havia despencado sobre nossas cabeças vindo dos céus era uma placa que iria identificar o nome da rua em que acordei. Uma placa despenca do quarto andar de um edifício de luxo em uma cidade do interior Paulista e mata um padeiro um cão e um estudante de geologia. Triste noticia antes da terra girar ao contrario. A dona do material que despencou teve que responder ao padeiro e ao gorducho as suas perguntas inquisitivas, o cão mostrou-se familiarizado com a senhora que surgiu de repente cheia de desculpas, os funcionários da padaria ao lado abriam as outras portas , liberando o som do radio que agora era mas alto. Peguei o que estava comigo e saí de frente do sol atravessando a avenida. Olhei para onde tudo ocorreu e não havia mas ninguém Lá no local, vejam!! Ao tempo de atravessar a rua e me virar tudo estava como antes de chegar lá! Nada!! Nenhuma alma viva naquele lugar, ninguém nem placas nem cão nem padeiro nem gorducho. Apenas um radio ligado, uma porta aberta e os funcionários começando mais um dia de trabalho, intrigado, pensei nossa!! Dejavu... Preciso comentar sobre aquela placa lá em cima, um caminhão com carga muito alta passou pela avenida e quase a derrubou!!Quase!! Ela esta La pendurada. Vou comunicar aos serviços da prefeitura para fazerem reparos e manutenção. Mas, um detalhe ainda me fez atento, enquanto fitava aquela situação, entre os portões de casas simples e as portas da padaria, estava lá um pastor alemão com um olhar penetrante em mim do outro lado da avenida. Achei muito curioso, e continuei a caminhar para meu destino. Ao dobrar a esquina deparei com um gorducho com roupas estranhas indo a caminho da padaria, achei aquilo como aquelas coisas que nos fazem sentir “doidos” fiz como se nada houvesse ocorrido ,mas me surpreendi ao ver um entregador em cima de uma bicicleta com cesto encardido indo levar pães e leite na casa ao lado da padaria. Não pensei em nada mais e segui pela avenida sentido o sol aquecer! Aquecer, aquecer! E como estava calor!!!Aquele dia, aqueles dias. E nada me fazia esquecer que os calendários chegam ao fim!