Manto Infinito de Estrelas - Parte 2 de 2

Salve, cambada!

Como prometido, aqui está a continuação do conto Manto Infinito de Estrelas.

O final é meio clichê... digo, é clichê pra cacete! Mas clichês existem por algum moivo! Portanto, vocês já sabem como funciona, cliquem para continuar lendo e deixem suas opiniões no formulário de comentários!

MANTO INFINITO DE ESTRELAS (parte 2)

Uma das maiores conquistas da humanidade nesses tempos de expansionismo pelo espaço foi a capacidade de se colocar ar respirável em planetas sem oxigênio. Através de pesados equipamentos gerava-se uma atmosfera semelhante à da Terra em uma área aproximadamente do tamanho de um bairro pequeno.

Não era um equipamento simples, nem tampouco barato, mas foi de extrema importância para os avanços da Confederação. Foi assim, por exemplo, que se colonizou a Lua. Ou pelo menos a lua natural. Hoje em dia haviam tantos satélites - estações bélicas, na verdade - em órbita do planeta que um observador desavisado na Terra se confundiria facilmente.

O planeta C-52 tinha pouco a oferecer, exceto por seus minerais, extraídos e trabalhados em uma usina da Confederação. Ao redor da usina havia oxigênio trazido por um imenso gerador, o que não protegia os trabalhadores das enormes bestas que haviam no planeta. Por isso, a usina parecia uma pequena fortaleza.

Talvez por medo dos monstros que rondavam a usina, os Anarquistas não montavam defesas no lado externo, confiando apenas nas câmeras de segurança. Isso tornou o trabalho de Johann e seus soldados - vinte ao todo - muito mais fácil. Bastava um simples embaralhador de sinais e quem quer que estivesse de plantão no monitor pensaria se tratar apenas de uma interferência eletromagnética breve.

- Vocês conhecem as ordens - repetiu Johann - atirem somente ao meu comando.

*****

A invasão estava sendo um sucesso. Os Anarquistas eram de uma maneira geral, pessoas sem muito treinamento bélico, portando armas que não sabiam usar. Para cada tiro certeiro de um Anarquista haviam vinte dos soldados da Confederação.

"Poder ao Povo!" - Era o mote dos Anarquistas. Palavras de ordem proferidas em voz alta sempre que possível. Uma afronta à Confederação.

O treinamento dos soldados os tornavam excelentes máquinas de tirar vidas, mas ainda assim não superava o dos Cavaleiros Espaciais. Johann não estava tirando vidas, apenas seguindo marcadores no monitor interno de seu elmo.

Era muito simples para ele acabar com os Anarquistas, ou o quer que a Confederação o mandasse exterminar. O monitor exibia através de marcadores coloridos o que era inimigo e o que era propriedade da Confederação, enquanto Johann apenas guiava a lâmina laser que se projetava de sua mão direita. Johann apenas ouvia alguns gritos de dor, abafados pelo líquido que circundava sua cabeça. Sua mente vazia e tranquila, enquanto a carnificina tomava conta do local.

- Senhor - disse o soldado Roderick - Eles estão recuando até a Sala do Reator. Devem estar tentando montar um perímetro defensivo.

- Então deixem eles recuarem - respondeu Johann - Pegaremos todos juntos.

- Mas senhor - interferiu o soldado Mathews - Se combatermos na Sala do Reator poderemos danificar equipamento da Confederação.

- Apenas obedeçam!

A entrada dos soldados da Confederação continuava sob as ordens do Cavaleiro. Um ou outro eventual Anarquista aparecia de algum ponto escondido tentando emboscar os soldados, mas isso apenas retardava-os brevemente enquanto a parcela principal de Anarquistas fugia em direção à Sala do Reator.

Os corredores do setor da usina onde se encontravam era um grande labirinto. Os mapas fornecidos pelo monitor de Johann ajudavam bastante, mas parecia que os Anarquistas haviam feito pequenas modificações em algumas passagens.

A tensão tomava conta daqueles homens. Alguns poucos haviam sido feridos por tiros os Anarquistas, mas seus equipamentos de proteção faziam com que isso se tornasse apenas um incômodo temporário. Ainda assim, aumentava o medo de que algum tiro atravessasse as proteções e transformasse os soldados em estatísticas de batalha.

Após algumas dezenas de metros por aquela masmorra de metal Johann parou e virou-se para os soldados.

- Ok, homens - comandou Johann - Conforme o plano nos separamos aqui. Equipe Alfa irá comigo até a Sala do Reator e Equipe Beta irá até a Sala de Controle. Lá vocês cortarão a energia enquanto nós limparemos a Sala do Reator.

- Sim, senhor!

Era uma operação simples. Levaria pouco tempo para que o sistema de emergência acionasse as luzes reservas, mas seria o suficiente para que os soldados de Joahann fizessem o trabalho por completo e com o mínimo de danos à propriedade da Confederação.

Muito pouco trabalho para requerer a presença de um Cavaleiro Espacial. Mas nem por isso Johann desobedeceria as ordens da Confederação. Era um bom soldado, afinal.

*****

Enquanto a Equipe Beta se aproximava cada vez mais da Sala de Controle, eliminando um ou outro Anarquista remanescente naquele setor, algo ocorreu com Johann e a Equipe Alfa que mudou de vez os rumos daquela operação. E da vida de todos os envolvidos nela.

De uma porta em um corredor isolado no meio do caminho saíram duas pequenas formas, indicadas como inimigas pelo monitor de Johann. Pequenas demais para serem Anarquistas. Crianças, na verdade, mas para o monitor de Johann eram inimigos.

- Senhor... - um dos soldados disse, atônito, sem saber o que fazer.

Johann não entendia porque os inimigos no monitor eram tão pequenos. Obviamente o monitor não mentiria para ele, mas pelo que sabia os Anarquistas deveriam ser da mesma estatura que ele e os soldados.

- Moço - a voz chorosa de uma das crianças - O senhor viu o pai da gente? Ele saiu pra ver quem estava lá fora e até agora não voltou.

Johann ouvia a voz da criança, mas não conseguia imaginar a situação. Haviam crianças naquela usina? Mas o monitor indicava inimigos!

- São crianças - cochichavam alguns soldados.

- Mas temos uma missão - respondiam outros em voz baixa, aguardando a ordem de Johann.

Confuso com a situação Johann mal notou a aproximação de uma outra pessoa, vinda da mesma porta de onde vieram as crianças.

- Luke, Lena! Eu disse pra vocês não...

A mulher, que parecia ser mãe das crianças calou-se ao ver os soldados acompanhados do Cavaleiro Espacial. Abraçou os pequeninos enquanto o rosto era tomado por lágrimas.

Surgiu então um homem, vindo da mesma sala de onde vieram a mulher e as crianças. Portava uma arma.

- Senhor, um Anarquista! - gritou um dos soldados.

Tensão no ar. Ambos os lados apontava armas uns para os outros. Os soldados aguardavam ordens de Johann enquanto o Anarquista apenas evitava começar um tiroreio na frente daquela mulher e das crianças.

Enquanto isso, a cabeça de Johann era uma completa confusão. Forçando a vista ele conseguia ver as crianças e a mulher chorando e tremendo de medo. Pela primeira vez em sua vida tinha dúvidas em uma missão. O monitor ordenava que ele eliminasse todos, mas a sua própria mente entrava em conflito.

- Você está com essas crianças? - perguntou Johann, finalmente.

- São meus sobrinhos... - respondeu o homem tremendo, lutando para manter a calma - Meu irmão estava entre os outros que vocês...

Não conseguia completar a frase. Lágrimas tomavam o rosto do homem também.

- Existem outros com vocês?

- Senhor - indagou um dos soldados - o que significa...

- Calado. Estou falando com ele! Existem outros com vocês?

- Meus filhos... E os filhos e esposas de outros dos nossos... Além de mais três Guerreiros como eu.

Entre si os Anarquistas se referiam uns aos outros como Guerreiros do Povo.

- Acompanhem-nos - respondeu Johann - Vamos tirá-los daqui em segurança.

- Senhor - interrompeu um soldado - essas não são as ordens!

- São as minhas ordens!

- Teremos de reportar o senhor ao Alto Comando.

- Não haverá tempo pra isso...

A lâmina de energia luminosa na mão de Johann tornou-se mais intensa.

*****

A missão da Equipe Beta havia sido um sucesso. A energia havia sido cortada na usina e eles estavam indo rumo à Sala do Reator. Não queriam perder a festa.

Não contavam, contudo com Johann vindo na direção contrária acompanhado de um bando de Anarquistas. Homens, mulheres e crianças seguindo o Cavaleiro Espacial.

Espantados por verem Johann guiando aqueles inimigos da Confederação, os soldados não puderam reagir à lâmina de Johann, que minutos atrás havia eliminado os membros da Equipe Alfa.

Sua lâmina iluminava o caminho dos Anarquistas enquanto os sistemas auxiliares de energia não eram acionados. Mas a maior batalha de Johann acontecia na sua própria mente.

De acordo com o monitor Johann estava cercado de inimigos e eliminando aliados. Para si mesmo ele havia salvo crianças e eliminado assassinos. Assassinos que ele estava liderando. Era também um deles e havia matado os pais de muitas daquelas crianças que o seguiam tremendo de medo.

Do lado de fora da usina Johann se livrou do elmo usando sua lâmina para quebrar o vidro. Ele pensava no que havia feito, na traição cometida contra a Confederação. Também pensava na natureza de sua missão. Quantas crianças inocentes perderam suas vidas da mesma maneira que aqueles que matara?

Dúvida em sua mente, enquanto os fugitivos entravam na nave que outrora trouxera os soldados. Mas as dúvidas desapareceram quando ele olhou para o céu, lembrando-se dos valores ensinados por sua família humilde.

Descobriu que havia feito a coisa certa enquanto contemplava novamente, e talvez pela última vez, um manto infinito de estrelas.