Mirabela- O amargo sabor do destino.
A senhora Lázara sempre fora a mais forte e guerreira da familia. Era ela quem consolava a todos, nos momentos mais difíceis. Agora precisava ser consolada e a senhora Albertina era simplesmente péssima nisso, afinal sempre fora a consolada e nunca a consoladora.
- Veja mamãe, fiz aquela sopa de legumes que a senhora tanto gosta.
- Obrigada Albertina! mas eu não quero. Não tenho vontade de comer nada, aliás, eu não tenho vontade sequer de viver.
- Oh mãe, não fala assim. Ver a senhora neste estado me dar a impressão de que eu perdí uma heroina, se uma mulher como a senhora passa a sentir-se inútil eu começo a crer que as esperanças acabaram de vez e as minhas forças também. Somente a senhora me punha de pé, se a única pessoa que me segurava está caindo eu vou acabar indo junto.
- Não espere mais nada de mim Albertina, de hoje em diante é você quem vai ter que se segurar sozinha mesmo. Porque quem me segurava para que eu tivesse condições de te segurar também já não mais exste.
- Em nome de Deus mamãe, não diga isso! minha filha está muito viva e ativa, eu tenho muita fé que sim. Onde está a sua fé afinal?. É nestas horas que se mede a fé das pessoas. A senhora não crer em Deus afinal?
- Por favor Albertina! não venha me testar agora. Não nesta hora.
Neste momento a campainha toca; era Santiago, que, pela primeira vez, depois de seis meses aparecia naquela casa.
Antes ele só ligava em busca de noticias, agora, como quem busca uma espécie de refúgio ele decidiu ir até lá:
- Boa tarde senhora Lázara!
- Boa tarde senhora Albertina!
Ao vê-lo, a senhora Albertina não consegue esconder uma pontinha de alívio por sua surpreendente presença:
- Boa tarde Santiago! nunca a sua presença teve um significado tão importante. Que sensação boa ver você.
- Eu também sinto a mesma coisa ao ver vocês, aliás está aqui nesta casa é como sentir a presença de Mirabela conosco.
De repente a senhora Lázara é atacada por uma crise de desespero e grita agressiva como se seus gritos amargurados pudessem curar a dor aguda que sentia naquele momento:
- É, mas ela não está aqui e talvez não voltará nunca mais, NUNCA MAIS!!
Dizendo isso ela afasta-se empurrando a cadeira como se estivesse dominada por um imenso sentimento de revolta. Santiago por sua vez franze a testa fechando os olhos em direção a senhora Albertina num gesto de dúvida, enquanto comenta:
- Ela está inconformada de mais, não?
- É meu filho, eu pelo menos ainda disfarço, ela nem isso..
A senhora Albertina caminha um pouco até a janela, lança um olhar distante em direção a estrada de barro vermelho, depois senta-se com as mãos cobrindo o rosto e entrega-se ao pranto sendo consolada por Santiago.
- Seja forte senhora, a Mirabela irá precisar da senhora forte.
- Eu não aguento mais ter que me segurar diante da minha mãe. Fingir uma força que não tenho, esperar sempre ela se ausentar para depois desabar em lágrimas, um dia esta força vai acabar e aí?
- Nada disso! a senhora é uma mulher forte, eu também sou, portanto temos força suficiente para juntos trazermos de volta a nossa Mirabela.
Depois disso, Santiago e a senhora Albertina ficam frente a frente e repetem as palavras de Mirabela:
- A nossa menina que tem nome de fruta, mora numa cidade que nem existe no mapa e que...
Os dois não conseguem terminar a frase e desatam num pranto arrasador.