Mirabela- O amargo sabor do destino
- Mirabela, prepare-se que hoje você terá aulas de direção.
- O quê?
- Aulas de motorista, vai aprender a dirigir carros, entendeu agora?
- Mas, D.Vaggio, isso não é complicado? e além de tudo, tem um tal de exame de vista e outro tal de psico...psico.. sei lá o quê. O Moisés que é filho do seu Juca lá da venda, quando foi tirar esta tal de carteira , teve que tirar também este tal de {..} ah! este nome esquisito aí.
- Psicotécnico, você quer dizer não é? oh céus! vejo que tantas aulas ainda não fizeram o efeito necessário.
E sacudindo-a pelas ombros em sinal de advertencia o homem continua...
... Mirabela; presta atenção: aqui conosco você não vai precisar de nada disto. Você vai aprender tudo aqui mesmo neste terreno. Um profissional vai legalizar uma carta para você. Quanto a exames e outras besteiras burocráticas que só servem mesmo para tomar tempo, a gente arruma depois. Agora, o mais importante é que você aprenda tudo sobre carros, não somente a guiá-los, mas, peça por peça de cada um.
E olhando para o céu com um gesto de desespero no olhar, como se estivesse pedindo o auxilio divino, ela volta-se para D.Vaggio brincando para descontrair a própria mente:
- Meu Deus! a minha cabeça não vai encaixar tantas coisas. E a próxima aula mestre, qual será?
- A próxima aula será os idiomas. Quero que você comece pelo português.
- Mas, eu já falo português, não está ouvindo?
- Não Mirabela! você pensa que fala português, na verdade, você enrola. Existem muitas palavras difíceis que você precisa conhecer.
- Sim, e depois? que outras aulas eu terei?
- Esta outra aula é segredo.
- Como assim?
O homem a segura pelos braços levemente e lhe diz com uma certa candura:
- Esquece! depois a gente conversa sobre isso.
E na casa de Mirabela, a solução que a senhora Albertina encontrou para todo aquele sofrimento, foi dar o caso por encerrado, ou o melhor, fingir que esqueceu-se do triste episódio ocorrido com sua filha. Afinal, desgraça pouca era pura bobagem, dizia ela para sí. D.e perda ela entendia muito bem.
Já havia perdido o espôso para o mundo, e agora a filha. O que fazer? senão fingir-se de surda, cega e muda para um caso sem solução.
Chorar, era como desperdiçar lágrimas, afinal, se todo o seu pranto fôsse deveras útil, talvez já estivesse mergulhada num mar de lágrimas.
Reclamar, gritar, blasfemar; tudo muito inútil. Nada disso traria sua filha de volta.
E finalmente, viver amuada pelos cantos ignorando a tudo e a todos só iria contribuir ainda mais para o grande desgosto,pois, ela precisava viver, se não por ela, mas pela mãe a senhora Lázara, que a cada dia se mostrava mais inconformada.
Ou talvez por Mirabela e até mesmo próprio espôso o qual ela sabia muito bem que, encontrava-se em algum llugar do planeta e que, a qualquer hora ela o encontraria, assim como a filha.
A senhora Albertina cantava, sorria e até gargalhava, coisa que não fazia há anos. Porém era tudo muito artificial. Queria mostrar-se forte para a mãe que a cada dia amurfinava como a flor que vai perdendo a beleza e o perfume até secar e morrer.
E esta era uma outra dor, mais uma entre tantas outras, a dor de ver a própria mãe indo embora aos poucos. Como um balão que vai subindo depois que se solta da mão de quem o pegava e não há mais como trazê-lo de volta.
Era bem assim que a senhora Albertina se sentia, como se segurasse um balão que acabou de ser levado pelo vento e não tem mais como recuperá-lo.
A senhora Lázara estava indo embora e ela não sabia como trazê-la de volta. Não havia como pegar aquele "barbante".