MINICONTO: ADEUS, LUZ DO SOL!
Por alguns milionésimos de segundos imaginou que ele surgiria do nada, teleportado para a sua sala, e a chamaria de anãzinha branca e de louca e tentaria provar que ainda conseguia carregá-la no colo.
Ela não esperou o tempo necessário para enlouquecer, lançou-se na nova viagem que jamais a deixaria esquecer.
Esquecer-se de quem fora, de quem ele fora, de tudo o que o mundo fora um dia; os dias eram agora de noites enternas que duravam ininterruptamente, quando se acostumara a viver no escuro e a detestar o Sol.
O Sol!
A mesma estrela que brilhara sobre a sua pele às 5 da manhã, à beira-mar, se derramando sobre as ondas azuis e frias, pintando-as com pétalas douradas tantas vezes colhidas nas suas mãos e jogadas para o alto, quando ela era apenas uma garotinha esperando que a vida fosse longa, luminosa, prenhe de expectativas de que o mundo seria só seu!
A vida era tão curta! A espera, longuíssima...
Optou pela eternidade.
Mas sua vida, de longa, tornou-se eterna demais; a estrela morria e ele partiu e não apareceu no último segundo.
E os segundos tornaram-se tempo demais, ele não voltara e ela não podia continuar esperando para sempre. Precisa partir e deixar tudo o que já não possuia.
O planeta lentamente se despedia, fora a única que continuara esperando, esperando, esperando que tudo findasse (e que ele voltasse).
A sala tremeu, fumegaram os foguetes, a nave se foi, em direção a órbita que seria seu novo lar, do onde assistiria o espetáculo sozinha.
Sozinha estava desde que ele partira.
Infelizmente, o tempo do Sol não era eterno.
Sabia que não havia para onde escapar de suas memórias, de quando fora uma humana na face da Terra, e não uma máquina, programada para registrar o fim.
Agora deveria permanecer segura, cumprir a sua missão, até que não restasse nada a não ser as imagens que gravara no seu cérebro positrôncio, naqueles séculos de vazio, silêncio e morte.
A estrela ainda brilharia mais um pouco até que tudo, ao final, se desfizesse e ela pudesse, depois, contar para as novas crianças de Terra Espacial o que fora viver ao ar livre e como era banhar-se nas águas de um oceano, onde os antigos diziam que a vida orgânica começara.
Assim, após tudo acabado, ela continuou pela escuridão eterna, vagando entre os vácuos abissais em direção aos sobreviventes; encontraria os seus criadores que a haviam abandonado tanto tempo atrás, quando da iminência da grande catástrofe.
Mas sabia que nunca, nunca, nunca estaria realmente sozinha.
Mesmo que todos esquecessem, ela se lembraria, sempre, sempre, sempre!
Desde que conseguisse não parar de funcionar.
Era isso que ela queria quando aceitara ser voluntária! - Gritou, no silêncio do rugir dos motores. - Lembrar-se.
Da Terra, do Sol e da Lua, dele.
Para sempre, para todo o... sempre!
Era isso que queria!
Era?
Já não tinha mais certeza.