MINICONTO: A MENSAGEM
Dos dias em que fora viva, restaram a sensação de incompletude, de horror e de pensamentos abrasantes, na hora da morte.
Da hora final, nada. Exceto, talvez, o lento enegrecer do céu, no qual fixara os olhos, tentando capturar as luzes das estrelas que rapidamente distorciam-se, ou eram seus olhos que se nublavam, no momento em que perdiam a própria luz de vida?
Vida? Jamais fora viva! Vagara entre os vivos como um zumbi. Como uma escrava. Como um ser cuja única função era cumprir ordens: pensar!
Pensar numa solução que salvasse o Sistema Planetário do astro assassino que se aproximava, inexoravelmente, do lar da humanidade, por tantas eras que ninguém mais tinha a certeza de quando nem como tudo começou.
E, quando finalmente cumprira sua missão, a humanidade já se evadira, e deixara-a para trás, no leito seco dos rios extintos do planeta em que fora criada, ela, a perfeita I.A..
Não pudera ser o que deveria, nem realizara a sua tarefa a contento, em tempo hábil: falhara!
Deixou-se ainda, num micro segundo antes de parar de funcionar, enternecer-se pelos seus criadores. Que eles encontrassem seu caminho, ela encontrava o dela: Enviava-lhes Nibiru, fragmentado em bilhões de milhões de mil pedacinhos, onde inscrevera sua última análise dos dados e sua conclusão.
Esperava que lhes fosse útil, e que, no Sistema Solar da estrela amarela de 5a grandeza para onde se dirigiram, capturassem e decifrassem sua mensagem de como sobreviver ao segundo impacto, codificada em ondas de rádio que viajavam junto aos menores fragmentos.
Isso daria-lhes tempo para se preparar, e desenvolver novamente a tecnologia necessária para romper os fragmentos em pedaços ainda menores, inofensivos ao minúsculo planeta onde humanidade sonhava reconstruir a sua civilização. Ela só o conseguira depois que não havia mais ninguém ao seu redor.
Mas, seus mestres eram grandesíssimos sábios, e saberiam o que fazer, antes do tempo previsto para a colisão. Ela esperava que sim. E seus olhos vermelhos apagaram-se para sempre.