A MISSÃO
Zuivar alongou-se ondulando preguiçoso, bocejou ruidosamente e recostou-se numa satisfação primária.
Ergueu os múltiplos olhos em direcção ao que supôs ser a cúpula do Edifício e pela segunda vez duvidou das suas certezas.
Um frémito percorreu-o, misto de medo e prazer...
Recordou-se de ter sentido a mesma dúvida na altura em que terminara a instrução na Academia. O seu sonho infantil era embarcar na BARCAÇA rumo ao limite do Universo e, de posse do Diploma e da Autorização, ficou-se estático numa hesitação envergonhada, ali exposto no ancoradouro com a Família a olhar para si.
Um silvo agudo libertou-o dessas recordações ainda dolorosas...
Os seus companheiros erguiam-se já depois do breve momento de descanso a que se tinham permitido depois da escalada da falésia onde poisava orgulhoso, o Edifício.
Tinham como Missão agora, entrar nele e confirmar a veracidade do rumor que circulava sobre o facto de ser inexpugnável.
Na Missão anterior haviam perdido o Comandante que os acompanhava desde a Academia.
O Grupo funcionava um pouco desordenadamente mas a disciplina rigorosa em que se haviam formado dava os seus frutos. As ordens superiores chegavam-lhes por laser em cifra, mas o das Comunicações tratava de lhes transmitir o que recebera e assim, sem superior que os guiasse, acataram as informações sobre a próxima Missão sem duvidarem nem se oporem a ela.
A BARCAÇA esperava por eles ancorada na Baía. Ela era o seu Mundo, a sua Pátria, a sua Casa.
A BARCAÇA fora teletransportada desde o Sistema de Origem a anos-luz de distância e percorrera várias galáxias pelo mesmo sistema. Por uma questão de economia, apenas Ordens de Missões eram transmitidas e não havia nenhuma notícia particular das Famílias ou qualquer outra...
Estavam reféns das Missões.
O que supusera ser a Cúpula não era mais do que um jogo enganador de luz e sombra causado pelo brilho do triplo sistema de estrelas desse Planeta perdido na escuridão do Espaço.
A dúvida que o assaltara havia pouco tempo não o deixava. Sacudiu-se e aprumou-se. Teve a tentação de falar aos companheiros e dizer-lhes o que pensava. Formulou o pensamento de descrença nestas Missões intermináveis que, vistas bem as coisas, não levavam a nada nem a lado nenhum. Nem sempre fora assim. Agora era para saber se o Edifício era ou não inexpugnável. Ou sim ou não. Caso fosse, as Ordens eram para abandonar o local e esperar nova Missão. Caso não fosse, depois de o verificarem, as Ordens eram as mesmas: abandonar o local e esperar nova Missão.
Qual era a necessidade destas Missões? Nunca o saberiam. Nunca fora questionada qualquer ordem para avançar para nova Missão.
Resolveu comunicar as dúvidas ao companheiro mais próximo. Era o que fora como irmão desde que ingressara na Academia. Com um tentáculo tocou-lhe chamando-o mais para si. Deg virou-se para ele estranhando o toque na altura em que iam prosseguir e atacar as paredes do Edifício. Viu a dúvida nos olhos de Zuivar e a sua sensibilidade disse-lhe que algo não estava bem. Captou a angústia do amigo e ela passou a ser sua também. Os dois olharam apreensivos as paredes lisas e uniformes e não seguiram os companheiros que já preparavam os ganchos magnéticos onde haviam de se prender para o assalto. Eles estranharam essa paragem e viraram-se para a retaguarda. Olharam o par e viram e entenderam o que se passava. Talvez porque também os assaltassem as mesmas dúvidas...
Sem trocarem um som sequer, os ganchos magnéticos foram desligados e guardados.
Com o carinho vindo de uma Vida em comum na BARCAÇA, tocaram-se com as pontas dos tentáculos.
E pela primeira vez não cumpriram a Missão. Desceram a falésia, corações pesados.
A partir desse momento seriam párias, renegados, a vergonha da Federação.
O equivalente a um encolher de ombros e a um sorriso percorreu-os. O das comunicações desligou o intercomunicador-laser.
Eram livres...
Estavam livres mas prisioneiros num planeta sem nome, de um sistema triplo de estrelas, perdido na escuridão do Espaço!
Beijinhos,
Zuivar alongou-se ondulando preguiçoso, bocejou ruidosamente e recostou-se numa satisfação primária.
Ergueu os múltiplos olhos em direcção ao que supôs ser a cúpula do Edifício e pela segunda vez duvidou das suas certezas.
Um frémito percorreu-o, misto de medo e prazer...
Recordou-se de ter sentido a mesma dúvida na altura em que terminara a instrução na Academia. O seu sonho infantil era embarcar na BARCAÇA rumo ao limite do Universo e, de posse do Diploma e da Autorização, ficou-se estático numa hesitação envergonhada, ali exposto no ancoradouro com a Família a olhar para si.
Um silvo agudo libertou-o dessas recordações ainda dolorosas...
Os seus companheiros erguiam-se já depois do breve momento de descanso a que se tinham permitido depois da escalada da falésia onde poisava orgulhoso, o Edifício.
Tinham como Missão agora, entrar nele e confirmar a veracidade do rumor que circulava sobre o facto de ser inexpugnável.
Na Missão anterior haviam perdido o Comandante que os acompanhava desde a Academia.
O Grupo funcionava um pouco desordenadamente mas a disciplina rigorosa em que se haviam formado dava os seus frutos. As ordens superiores chegavam-lhes por laser em cifra, mas o das Comunicações tratava de lhes transmitir o que recebera e assim, sem superior que os guiasse, acataram as informações sobre a próxima Missão sem duvidarem nem se oporem a ela.
A BARCAÇA esperava por eles ancorada na Baía. Ela era o seu Mundo, a sua Pátria, a sua Casa.
A BARCAÇA fora teletransportada desde o Sistema de Origem a anos-luz de distância e percorrera várias galáxias pelo mesmo sistema. Por uma questão de economia, apenas Ordens de Missões eram transmitidas e não havia nenhuma notícia particular das Famílias ou qualquer outra...
Estavam reféns das Missões.
O que supusera ser a Cúpula não era mais do que um jogo enganador de luz e sombra causado pelo brilho do triplo sistema de estrelas desse Planeta perdido na escuridão do Espaço.
A dúvida que o assaltara havia pouco tempo não o deixava. Sacudiu-se e aprumou-se. Teve a tentação de falar aos companheiros e dizer-lhes o que pensava. Formulou o pensamento de descrença nestas Missões intermináveis que, vistas bem as coisas, não levavam a nada nem a lado nenhum. Nem sempre fora assim. Agora era para saber se o Edifício era ou não inexpugnável. Ou sim ou não. Caso fosse, as Ordens eram para abandonar o local e esperar nova Missão. Caso não fosse, depois de o verificarem, as Ordens eram as mesmas: abandonar o local e esperar nova Missão.
Qual era a necessidade destas Missões? Nunca o saberiam. Nunca fora questionada qualquer ordem para avançar para nova Missão.
Resolveu comunicar as dúvidas ao companheiro mais próximo. Era o que fora como irmão desde que ingressara na Academia. Com um tentáculo tocou-lhe chamando-o mais para si. Deg virou-se para ele estranhando o toque na altura em que iam prosseguir e atacar as paredes do Edifício. Viu a dúvida nos olhos de Zuivar e a sua sensibilidade disse-lhe que algo não estava bem. Captou a angústia do amigo e ela passou a ser sua também. Os dois olharam apreensivos as paredes lisas e uniformes e não seguiram os companheiros que já preparavam os ganchos magnéticos onde haviam de se prender para o assalto. Eles estranharam essa paragem e viraram-se para a retaguarda. Olharam o par e viram e entenderam o que se passava. Talvez porque também os assaltassem as mesmas dúvidas...
Sem trocarem um som sequer, os ganchos magnéticos foram desligados e guardados.
Com o carinho vindo de uma Vida em comum na BARCAÇA, tocaram-se com as pontas dos tentáculos.
E pela primeira vez não cumpriram a Missão. Desceram a falésia, corações pesados.
A partir desse momento seriam párias, renegados, a vergonha da Federação.
O equivalente a um encolher de ombros e a um sorriso percorreu-os. O das comunicações desligou o intercomunicador-laser.
Eram livres...
Estavam livres mas prisioneiros num planeta sem nome, de um sistema triplo de estrelas, perdido na escuridão do Espaço!
Beijinhos,