O Engano Misterioso
O Engano Misterioso
Ele chegou apressado com seu cavalo ofegante, suado e com grande cansaço. Mancava e andava com dificuldade.
Geremias pulou do cavalo já quase dentro de casa. Avançou até a porta principal, parou, olhou para os lados, retirou o velho bornal da cela do cavalo e entrou apressado. Mostrava cansaço e fadiga. Fechou a porta e entrou casa adentro para certificar-se que estava sozinho. Encheu um copo d’água, sentou-se numa cadeira da escrivaninha e relaxou. Bebeu água até matar a sede e respirou profundamente. Tirou o chapéu e passou a mão direita nos longos cabelos. Abriu o bornal, pegou um objeto luminoso e examinou minuciosamente, observando os mínimos detalhes. Fechou os olhos e pensou na batalha travada para conseguir o objeto que tanto desejava. Geremias ouviu umas batidas na porta. Guardou o objeto e foi verificar do que se tratava.
Era Maria Antonieta, a irmã de Lucrécia Firmina que trazia notícias do atual estado de saúde da enferma.
Geremias agradeceu e fechou a porta rapidamente. A mensageira saiu do local com tristeza e revolta.
Lucrécia Firmina continuava no em coma no hospital Santiago, com uma doença incurável, há mais de cinco anos. A doença avançava cada vez mais. Vegetava, a coitada!
A família não permitia a presença de ninguém. Todos aguardavam já consolados, pelo último suspiro de Lucrécia Firmina. Não se alimentava, só usava alimentos injetados e respirava com o auxílio de aparelhos.
Geremias sabia da enfermidade da amada e agora estava de posse da solução do problema e a salvação de Lucrecia Firmina. Só tinha um problema: não podia entrar na sala de UTI.
Pegou uma caderneta na escrivaninha e começou a traçar o plano ideal para conseguir entrar no quarto da amada moribunda. Era preciso ser realizado com muita urgência, pois já estava constatado que Lucrecia Firmina tinha pouco tempo de vida.
Geremias não conseguiu relaxar do cansaço exaustivo. Foi a uma loja locadora de roupas e alugou um uniforme de médico e de posse do objeto luminoso, seguiu para o hospital.
Entrou sem ser importunado e foi direto para a sala de UTI. Quando aproximou-se da porta, certificou-se de que não estava sendo observado e entrou rapidamente. Examinou os leitos e só havia um que estava ocupado. Ele aproximou-se, levantou o lençol que cobria o rosto da paciente com a mão esquerda e com o objeto na mão direita pronto para ser usado.
A paciente sorriu e disse:
- Olá meu amor! Até que enfim você chegou – falou com sensualidade.
- Você? O que está fazendo aqui? - indagou Geremias, preocupado.
- O médico percebendo que não havia mais esperança, deu-lhe alta para ela morrer em casa.
- E o quê você está fazendo aí, sua louca?
- Oh meu amor, agora que ela está nas últimas, fique comigo. Pó você sou capaz de praticar a Eutanásia, tirando-a de uma vez do nosso caminho.
- Não fale asneira sua louca! Eu trouxe a cura para salvar o meu amor eterno – falou Geremias e saiu correndo rumo à casa de Lucrécia Firmina.
Maria Antonieta sentou-se na cama e começou a chorar copiosamente. Depois levantou-se e foi preparar uma dose de medicamentos.