Mirabela- o amargo sabor do destino - continuação

Ursolino também era bem esperto: - Olha gente! eu posso adiantar, o papai aqui saca tudo. Querem saber mesmo qual é a do superior? ele está a procura de um outro líder para esta quadrilha e escolheu a analfa para substituir você meu caro Carlão.

- Oh céus! tamanha besteira tinha que sair mesmo da boca deste aí!E dando de ombros Ursolino o ironiza:

- Besteira é? espera só para ver.

- Oh nobre Ursolino, que maluquice é esta? Mirabela bela flôr, frágil e sensivel, pequenina como uma ameixa liderando uma elite como a nossa? faça-me um favor...

- E daí? nunca ouviu dizer que nos pequenos frascos é que estão os bons perfumes?

Enquanto isso na casa de Santiago, seus pais estão à mesa tomando café quando este chega em silencio e depositando um pouco de café por sobre a xícara degusta um simples gole e sai de fininho sem sequer cumprimentar os pais. Porém é chamado bruscamente pelo senhor Manuel:

- Espere Santiago! vai sair assim? tome o seu café! E se você não reparou - estamos aqui...

Ele para por um momento. Depois volta-se para o pai e num tom de revolta lhe diz: - Pois seria bem melhor que não estivessem!

- O quê? - Espanta-se a mãe dona Flora e ele prossegue:

- É isso mesmo! Vocês tentaram ridicularizar a Mirabela ontem, mas os únicos ridículos foram vocês.

- Manuel você escutou o que ele disse? você nunca falou assim conosco menino! Já está começando a ser influenciado por aquela pistoleira.

- Por favor mamãe! tenha a dignidade de não ofender a Mirabela, principalmente quando ela não está aqui para se defender.

A senhora Flora era uma portuguesa dificil de lidar. Na faixa dos seus sessenta anos, gorda e baixa, capaz de sair no braço com qualquer um que lhe desafiasse. E sentindo-se ofendida pelo filho ela não deixa por menos. Levanta-se da mesa e parte para cima do filho na intenção de esbofeteá-lo. Ele porém grita alto: - Bate mamãe! pode bater, eu lhe garanto que não vai doer mais do que a vergonha que vocês me fizeram passar ontem diante dos meus amigos e principalmente de Mirabela.

O senhor Manuel começa a gritar alto também: - Parem com isso! Santiago sente-se já aí. Tome o seu café, e respeite a mim e a sua mãe.

- Então vocês querem respeito? pois saibam que para exigirem respeito devem se dar ao respeito primeiro. Veja você pai! estava bêbedo como um gambá ontem. Que papel ridículo para um homem que quer manter o seu nariz empinado.

- Santiago, respeite o seu pai!

Muito revoltado Santiago continua o seu amargo desabafo: - E você mamãe.. sempre a tiracolo com aquela sua amiga insuportável que só sabe mesmo é falar palavrões o tempo todo, iguazinha a senhora. Duas fofoqueiras das bocas sujas que só sabem mesmo é dar definição da vida alheia.

Nisso a mulher levanta a mão outra vez para bater-lhe no rosto. Ele porém sai correndo sendo seguido pelo pai que como um louco esbraveja ameaçando-o:

- Não volte mais a esta casa! se quiser vá morar na casa dela. A partir de hoje a sua casa é lá, com aquela desviadora da moral e dos bons costumes.

- Pois fique sabendo que vou mesmo. Garanto que serei muito bem recebido.

E voltando-se para o pai, levanta-lhe um dedo em sinal de advertencia: _ Só quero ver como é que vocês vão se virar naquela droga de padaria. Ninguém sabe fazer nada alí. Se não fôsse por mim aquilo tinha falido há tempos.

E ele sai deixando o pai pensativo com uma ruga de preocupação na testa e um gesto de concordância ao que o filho havia dito.

Enquanto isso Mirabela encontrava-se triste em sua banca de flores, muito silenciosa e estática para espanto dos fregueses que a consideravam uma grande tagarela. Com os olhos rasos d'agua ela mal percebe a amiga Fabricia aproximar-se. E num tom brincalhão ela aproxima-se de Mirabela:

- Aí Mirabela, arrasou na festa dos 'bacana" ontem. Olha: o Santiago já está no papo amiga, agora só depende de você.

Porém Mirabela permanecia imóvel, totalmente absorta em sua tristeza, despertando desta forma a atenção de Fabricia que, girando a mão perto de seus olhos tenta despertá-la e num tom irônico lhe diz:

- Tem alguém aí? alô Mirabela! está dormindo acordada mulher? Mirabela, escutou o que eu falei?

- Fabricia, o que você acha de mim?

- O quê?

- Quero saber o que você acha de mim.

- Que pergunta mais esquisita Mirabela.

Ela ergue seus belos olhos azuis para a amiga, quase chorando. Fabricia assusta-se ao perceber que esta encontrava-se chorando:

- Por Deus Mirabela! você está chorando, o que fizeram com você? ainda é pelo que fizeram ontem naquela festa? esquece aquele casal de velhos ridiculos. O que importa é o que o Santiago pensa a seu respeito, é o amor que ele tem por você. Os pais são apenas consequência.

Ela porém levanta-se arrumando as flores pronta para ir embora. Decididamente não tinha cabeça para trabalhar naquele dia. Talvez devido a tanta pureza e inocencia ou quem sabe até mesmo uma grande ingenuidade como a mãe mesma lhe dizia, ela talvez nunca tivesse enxergado o que lhe acontecia ao seu redor. Na verdade era como se seus olhos sempre estivessem vendados fazendo-a com que não enxergasse toda a maldade que circulava diante de sí. Mirabela era provida de tanta inocencia que nunca percebia quando alguem a estava humilhando, ofendendo ou até mesmo elogiando-a. A avó, a senhora Lázara havia educado-a de certa forma muito mal enchendo-lhe a mente de coisas de coisas fabulosas, poupando-a das durezas da vida e das pessoas. A senhora Lázara sempre pintara o terror de beleza, transformara o áspero em seda e alguns prazeres da vida os classificara de terriveis pecados. Tudo isso com a intenção de proteger a neta, o que contribuiu para fazê-la sofrer, mas um sofrimento obscuro que somente agora vinha a tôna.

E depois de tudo arrumado, ela preparava-se para sair quando é surpreendida pela súbita chegada de Santiago. Fabricia então grita de forma irônica:

- Ora vejam só! está aí o salvador da pátria.

Santiago fita-a assustado não entendendo nada e com um ar subtendido ele perguta:

- Ué, Já vai embora? e o trabalho como é que fica?

Fabricia o puxa pelo braço pedindo-lhe que conversasse com a amiga que encontrava-se triste. Ele porém a ajuda a levar suas coisas para casa. Depois dirigem-se para o parque da cidade para conversarem.

E na casa de Santiago seus pais discutiam o comportamento rebelde do filho:

- Manuel, você expulsou mesmo o Santiago de casa?

-Depende dele! se não quiser voltar mais não vai fazer falta nenhuma.

- Aí é que você se engana. E a padaria? aquilo lá não funciona sem ele.

O senhor Manuel dar alguns passos a frente. Para um pouco com a mão por sobre o queixo, depois volta-se para a esposa com uma idéia repentina:

- Sabe Flora! talvez se voltássemos para a nossa Portugal este menino tomaria um outro jeito.

- Também acho! antes eram só os amigos que o influenciavam para o caminho do mal. Agora surge das trevas esta caçadora de tesouros, a tal Mirabela. Mas ainda não concordo em voltarmos para Portugal, pelo menos por enquanto. Vamos esperar mais um pouco para ver se ele esquece toda esta gente.

- Como você é imbecil Flora! como ele vai esquecer se convive entre eles? Mas eu tenho uma maneira de fazê-lo afastar-se deste bando de inúteis, principalmente da interesseira. Um casamento para ele, isso sim. Um bom casamento o manterá ocupado. E eu posso até dizer quem pode ser a futura esposa do nosso filho.

- Quem?

- A Lindamar, filha do nosso sócio.

greice
Enviado por greice em 23/07/2010
Código do texto: T2395298