OS INIMIGOS - PARTE 3
– Bem senhores, nossa reunião está encerrada. Agora nossos hospedes precisam descansar e depois passar por uma bateria de testes e exames. Dizendo isso Jessica encaminhou o casal para aposentos especiais reservados em uma ala do prédio.
Após a janta, na qual o cardápio dos visitantes constituía-se de apenas vegetais e frutas, Jessica veio conversar novamente.
– Bem Hauk, neste primeiro momento vocês terão amanhã sedo que passar por exames médicos. Depois receberão aulas de português, pois ao que nos parece vocês serão a partir de agora cidadãos brasileiros, diante da impossibilidade de que possam retornar a seus planetas de origem. Mas, você mencionou ter conhecimento sobre a Terra que consta em seus arquivos. Posso saber como?
– Sim! Nossa civilização é bastante antiga e em épocas remotas grandes naves exploravam a nossa galáxia e algumas delas vieram para a Terra da mesma maneira como aconteceu conosco. Existem portais nos quais objetos ou forças físicas podem vazar de um universo para outro. Creio que foi isto que ocorreu conosco. Em determinado momento invadimos um destes portais que coincidiram com a proximidade da Terra. Naquela época apenas uma das naves conseguiu encontrar um portal que a levou de volta. Isto foi um verdadeiro milagre que acreditamos não se repetirá conosco. Então os que ficaram, estabeleceram colônias e cruzaram com habitantes da Terra. Daí a origem do Esperanto que é ainda hoje nossa língua. Por isso temos conhecimento da Terra. Está gravado em nossos anais.
– Acho que você tem razão. Nossos cientistas acabam de descobrir que a força gravitacional da Terra vaza para cá, de outro universo paralelo. Sua teoria me parece a única capaz de explicar como foi possível sua viagem em tão pouco tempo.
– Você disse que Tehra é de outro planeta e que o resultado de sua viagem foi um acidente durante um conflito bélico. Porque lutavam?
– Porque o império Vazulano ao qual pertence o planeta habitado por Tehra, são 3 planetas que o compõe. Costuma tomar dos outros via invasão militar os minerais e riquezas. Nós resistimos há anos e agora estamos no limite de nossas forças e não creio que resistamos por muito tempo. Há muito abolimos em nosso sistema o regime monetário. Costumamos negociar com outros planetas em um regime de troca. Só que os Vazulanos não negociam, eles simplesmente tomam o que precisam aniquilando populações inteiras em outros sistemas.
– Porque eliminaram o sistema monetário? Perguntou Jessica.
– Porque é extremamente injusto! Utilizamos o sistema durante 5 mil anos, mas, caso seja este seu sistema, ele irá entrar em colapso ao cabo de 5 mil anos de implantação, como aconteceu conosco. A tendência é de que cada vez mais as minorias abastadas como acontece em sistemas monetários irá dominar e reduzir-se até a implosão final do sistema. Então será o caos e tudo voltará a ser dividido eliminando-se a propriedade privada. Finalmente igualdade para todos. Levará muitos anos até que se normalize. Haverá muitas guerras e conflitos até que todos entendam.
– Entendo! Aqui as coisas estão começando a ficar fora de controle. A criminalidade explode nas grandes cidades. O núcleo de pobreza aumenta sem controle e bem posso imaginar onde isso irá parar. Fala-se em planos para reduzir a população do planeta.
– Simplesmente matando seus semelhantes? Isso é ilusão. Além de ser irracional. Quem decide quem deve morrer? Para que outros enriqueçam cada vez mais sem preocupações?
– Quantos habitantes vocês têm hoje?
– Pelo último senso, cerca de 6 bilhões.
– Tarde demais! Mesmo que consigam, a concentração de renda nas mãos de minorias continuará a concentrar-se cada vez mais e por fim implodirá. Passamos por tudo isso e posso lhe afiançar que restam, se a situação está como diz, cerca de pouco mais de 100 anos para que comece a entrar em colapso.
– Hoje estamos em um regime de economia global, será uma solução?
– Não! Não haverá economia global enquanto houver divisões entre pobres e ricos, me refiro aí aos próprios países. Os países mais ricos tendem a sufocar a economia dos mais pobres. Bem, já estou falando demais, afinal somos hospedes e teremos que nos adaptar às condições de vida possíveis.
Foram interrompidos pela entrada de um oficial médico que iria proceder a exames preliminares antes da bateria de testes que fariam na manhã seguinte. Hauk e Tehra prontificaram-se a colaborar com o médico. Entendiam a situação. Ele os examinou minuciosamente demorando-se mais com Tehra. Depois dirigiu-se à enfermeira que o acompanhava e comentou algo em voz baixa. Ela dirigiu-se a Jessica. – A mulher precisa ficar em observação. Falou.
– Mas porque? Perguntou Jessica.
– O doutor disse apenas que ela tem um problema. Retrucou a enfermeira. Jessica então dirigiu-se à Hauk informando-o. Ele obviamente não se opôs, apenas demonstrou preocupação.
A enfermeira então tomou Tehra pelo braço e a conduziu à um quarto no andar superior. Tehra apenas ficou preocupada, mas procurava atender ao que a enfermeira ordenava através de gestos.
Passaram-se alguma horas onde Tehra aguardava pacientemente. Finalmente a porta abriu-se e o médico entrou. Trazia uma seringa na mão e levantou o roupão hospitalar com o qual Tehra estava vestida. Girou-a e aplicou a injeção em sua nádega. O médico falou alguma coisa, mas ela obviamente não entendeu nada. Ele então começou a apalpar suas coxas e aos poucos começava a tirar sua roupa. Ela sentia perfeitamente o que ele fazia, mas estranhamente não conseguia reagir. Era como se seu corpo não mais obedecesse sua vontade.
CONTINUA