NOVO MUNDO, NOVA VIDA
Por: Larissa Caruso
Nota: Esse conto faz parte do universo do romance policial de sci-fi Nébula de um Buraco Negro. Caso goste desse conto, visite o link do romance: http://www.larissacaruso.com/nebula.pdf
Um homem alto encontrava-se em uma mesa metálica flutuante, com as finas membranas de seus glóbulos oculares fechadas. Sua pele azulada possuía um tom esbranquiçado, indicando palidez para os de sua raça. As mãos de caranguejo eram restringidas por duas grandes bolhas de um gel amarelo, que o impediam de usar suas perigosas presas. Os sinais vitais e sua fisiologia eram monitorados por hologramas 3D, que indicavam um estado de repouso estável.
− Tempo estimado para o término de inserção de memórias: dois minutos e trinta e seis segundos. – anunciou o computador para a sala, enquanto os cientistas continuavam seu trabalho.
− E depois, o que ficará faltando? – perguntou o menos experiente, deixando aparentar seu nervosismo.
− Nada. Os pais foram informados de sua morte, juntamente com a de sua irmã. A nova identidade já foi inserida no sistema. Sua memória foi apagada e estamos terminando de reconstruí-la. Assim que finalizarmos a alocação do módulo fantasma em seu cérebro, poderemos liberá-lo.
− Qual seria esse módulo?
Em um tom exasperado, o homem respondeu ao novato:
− É um organismo sintético que inibe as sinapses, limitando a capacidade cognitiva do indivíduo.
O cientista mais jovem assentiu após o término da explicação, distraindo-se com o 3D que mostrava as informações neurais do paciente. Arregalou os olhos ao perceber seu potencial bruto e balançou a cabeça, exclamando:
− Marjeberz! Não é a toa que querem limitar a inteligência desse cara. O potencial bruto dele para desenvolvimento de atividades cognitivas é absurdamente alto.
− Sim. – respondeu o cientista sênior em um tom sombrio
Colocando suas informações na tela principal, ele observou tudo o que dizia seus arquivos e balançou a cabeça:
– Fraude, venda de informações confidenciais, quebra de sigilo profissional, desenvolvimento e venda de tecnologia ilícita, roubo, desvio comportamental, distúrbio psicológico nível 8... Eu não sei por que simplesmente não o levam pra prisão Crismaline, se ele realmente fez tudo o que é relatado em sua ficha.
− Provavelmente eles ainda têm algum plano envolvendo ele. O Centro de Pesquisas Avançadas de Alderon é extremamente frio e calculista. Você sabe bem disso.
− Sim, infelizmente. – confirmou, com um suspiro.
− E pra onde irão leva-lo? – perguntou o rapaz, demonstrando a pena que sentia daquele sujeito deitado em sua maca.
− Confidencial. Um ou dois dentro do CAPA sabem. Provavelmente algum deserto onde ele não possa causar muitos problemas. Talvez um dos planetas do Sistema Solar.
−A Terra? – perguntou, já que este era o único que lembrava.
− Ah. Eles não são estúpidos. Seria arriscado demais para os humanos e para a galáxia.
***
− Preparado para sua nova vida? – perguntou o rapaz da cabine, pegando o chip de dentro da caixa azul-metálica.
− Sim! – respondeu o homem com patas de caranguejo, demonstrando sua empolgação – Finalmente vou poder trabalhar com tecnologia. Eu não acredito nisso! Depois de anos sendo limitado pela minha família.
− Certo. Não se exalte. Os avanços desse planeta ainda são limitados e mesmo o Centro de Imigração não contará com muitos recursos. – advertiu o profissional, oferecendo-lhe seu melhor sorriso artificial.
Levando o chip até a têmpora do rapaz, ele observou o material se dissolvendo contra a pele azulada e inserindo-se dentro de seu cérebro. Logo em seguida, repetiu o processo com outro micro-objeto, colocando-o contra seu peito.
Sentiu seu corpo queimar enquanto seus órgãos vitais eram adaptados à vida naquele novo mundo que faria parte. No monitor 3D, viu algo crescendo dentro de seu torso, criando as modificações necessárias para que sobrevivesse sem ajuda de nenhum outro equipamento.
Assim que a sensação de mal estar o deixou, sabia que estava pronto. Respirou fundo, tentando conter a ansiedade dentro de si. Por anos havia sido privado de uma vida interessante em seu planeta natal. Sabia que possuía um grande potencial, entretanto, seus pais não permitiam que o desenvolvesse. Após a morte da irmã, tornaram-se ainda mais protetores e zelosos.
Sentia-se mal por tê-los deixado às escondidas, mas não tivera outra escolha. Não desperdiçaria todo o tempo que possuía em uma vida sem graça e primitiva. Havia aceitado um trabalho ruim e mal pago, normalmente oferecido à ex-criminosos. Seria maltratado e menosprezado. Nada disso importava para ele, entretanto. Como engenheiro chefe, tomaria conta do centro de pesquisa e finalmente colocaria suas mãos em alguns equipamentos avançados. Mais que isso, estaria ajudando a Confederação de Planetas da Via Láctea a manter a paz e a ordem em seu novo lar.
− Qual o seu nome, rapaz? – perguntou o instrutor, sorrindo de maneira artificial.
− Daelus Poshr. – respondeu, acionando os dedos biônicos de sua pata direita, para poder cumprimenta-lo com um aperto de mão.
O responsável por sua relocação ignorou o gesto, focando sua atenção no pequeno computador de bolso que segurava.
− Certo, certo. O Centro de Imigração já foi informado de sua chegada. Seu pacote de boas vindas e chips informativos estarão com a secretária Mincy Shnoper.
− E para onde estou indo? – perguntou, ansioso.
− Para a Terra.