OS INVISÍVEIS - PARTE1
O velho cientista sorriu satisfeito ao contemplar sua obra. Foram 10 longos anos de trabalho e pesquisa, mas finalmente estava pronto. Com plantas, pequenos animais, como ratos e um chimpanzé já havia sido testado com sucesso. Faltava o teste final com seres humanos. Mas o Professor Elvis tinha uma dúvida que o incomodava muito. O projeto pertencia ao exército. Certamente isso iria causar-lhe aborrecimentos na medida em que havia o envolvimento do exército americano que financiava o projeto em parceria com o brasileiro. Não era difícil imaginar que o Pentágono fosse utilizar-se disso para tornar o exército americano simplesmente imbatível. Divisões inteiras poderiam agir à vontade sem que o inimigo notasse sua presença. Seu filho viria para o fim de semana e ele decidiu manter em sigilo o sucesso do empreendimento até conversar com ele. Helio era capitão do exército servindo na divisão de operações especiais. Aos 28 anos, solteiro, nem pensava em casar. Mantinha um relacionamento com a tenente Denise que servia na mesma divisão como coordenadora de operações. A tenente era uma oficial dedicada e competente, mas Hélio fugia do assunto sempre que se tocava em casamento. Tinha dúvidas sobre seus sentimentos e achava que sua atividade seria incompatível com a vida de casado.
Hélio chegou ao laboratório junto à unidade de engenharia eram 10 h da manhã de Sábado. Seu pai o saudou e ambos foram para a pequena sala onde duas cabines iguais, lado a lado ocupavam a parte central da pequena peça.
– Pai! Eu quero ser o primeiro a testar.
– Filho! E se algo der errado. Eu não me perdoaria.
– Confio em você. Se deu certo até aqui, não vejo porque possa agora dar errado.
– Está bem. Prepare-se enquanto eu aciono o sistema.
Nero o pastor alemão deitado junto ao pé da mesa onde o cientista trabalhava, mantinha-se atento. Ganhara o nome porque ao ser adotado ainda muito pequeno, derrubou um lampião na cozinha da cabana que a família usava junto ao rio onde Elvis e Helio costumavam pescar. A cabana foi totalmente consumida pelas chamas.
Finalizados os preparativos, Helio tomou posição ao centro da cabine e nem perceberam que Nero sorrateiramente acomodara-se quase junto as pernas de Helio. Quando perceberam, tarde demais o sistema estava em ação e não poderia ser interrompido. Aos poucos as imagens dentro da cabine começaram a desfazer-se em uma bruma suave até que tornaram-se invisíveis. O Dr. Elvis então abriu a porta e apenas sentiu Nero sair roçando-lhe as pernas.
– Pode vê-lo? Perguntou ao filho.
– Sim! Perfeitamente.
Nero correu para a porta lateral que dava para a rua.
– Pai, preciso ir atrás dele. Não dá pra deixar um cão invisível andando por aí.
– Ok! Concordou o cientista, mas tenha cuidado, precisamos fazer alguns testes antes de reverter.
Helio saiu apressadamente chamando o cão que resolveu brincar e corria em círculos. Então aconteceu! Uma grande explosão. O laboratório praticamente desintegrou-se. Um estilhaço de metal passou bem próximo. Logo começou a correria e o carro de bombeiros do exército já se preparava para combater as chamas que consumiam completamente o que sobrou do local. Hélio consternado olhava o monte de escombros. Seu pai estava ali e ele em uma situação no mínimo desesperadora. Estava condenado a permanecer invisível para o mundo. Chorava a morte do pai e ao mesmo tempo buscava uma saída para a situação. Algo lhe dizia que a explosão fora um ato de sabotagem ao projeto. Um calafrio percorreu-lhe a espinha. Haveria cópias do projeto? Onde seu pai as guardaria? Havia certamente gente interessada em que o projeto fracassasse e gente interessada também em por as mãos sobre a fórmula. Resolveu ligar para Denise.
– Oi! Você já soube?
– Do acidente? Sim!
– Escute! Aconteceu algo imprevisto com a experiência de meu pai e eu preciso da sua ajuda. Vou esperá-la na casa dele. Mas, temos um problema. Entre com o carro direto para a garagem e por enquanto não faça perguntas.
– Ok! Estou indo, mas o que houve?
– Não posso dizer nada agora apenas faça o que lhe pedi. – Certo! Mas você está muito misterioso.
– Não se preocupe! Estou aguardando.
Hélio dirigiu-se à casa de seu pai junto à base militar. A distância era pouca e resolveu ir a pé. Percebeu então que havia algo errado com a força de gravidade. Parecia-lhe que tal força sofrera uma redução radical. Com efeito, testou alguns saltos e a sua intuição se confirmou. De alguma forma o invento de seu pai alterava a relação da maça com a gravidade. Sentia-se bem mais leve e podia dar longos saltos sem medo de cair e isso era uma vantagem. Chegou à garagem quase ao mesmo tempo em que Denise abria a porta. Ela estacionou e desceu procurando em volta.
– Onde você está? Perguntou.
– Bem aqui. Respondeu Hélio já bem próximo dela.
– Onde? Perguntou.
– Escute! Você não pode me ver. O experimento de meu pai fez isso. Estou invisível. O problema é que a explosão acabou com tudo e agora não posso voltar porque a máquina de reversão acabou.
– Nossa! Então era nisso que ele estava trabalhando?
– Sim! Ele aproximou-se mais e a abraçou então algo inusitado aconteceu.
– Hélio! Agora eu vejo você.
– Espere! Então junto a mim você se torna invisível também.
– Droga agora para vê-lo só grudando em você.
– Denise! Se não descobrirmos como sair dessa eu estarei condenado a vagar invisível por aí.
– Espere! O General Raupp. Precisamos conversar com ele. Ele encontrará uma solução.
– Claro! Vai querer que eu seja a arma secreta do exercito.
– Você tem outra solução?
– Precisamos encontrar onde meu pai arquivou o projeto. Talvez outro cientista consiga recriar a máquina.
– Ainda acho que seria melhor falar com o Raupp. O serviço de inteligência deve ter uma copia. Você acha que um projeto que já custou milhões de dólares não teria pelo menos uma copia?
– Talvez você tenha razão. Mas deixe passar o cerimonial de sepultamento de meu pai. Já vai ser complicado ter que ficar a distância.
– Ok! Enquanto isso vou conversar com o general. Neste momento o Exército terá que dar você como desaparecido.
CONTINUA