3001, uma odisseia no hiperespaço - humor científico - Capítulo X

O toalete de bordo era bastante espaçoso, continha os mais diversos equipamentos sanitários apropriados pras mais diferentes espécies oriundas de todo o Universo, humanas e não-humanas, que normalmente costumavam viajar utilizando os reconhecidos serviços muito profissionais e eficientes do Expresso Hiperespacial no transporte de passageiros para qualquer lugar do Universo.

Por isso a Fofuxa e o Maluco conseguiram reunir um grupo relativamente numeroso de gente e andróides lá dentro. Maluco chegou pelo duto de ventilação, antes do resto do pessoal, pra checar se a barra tava limpa, quando encontrou a Fofuxa. Logo depois, os chefes da tripulação e as comissárias andróides chegaram através de passagens a que somente o pessoal de bordo tinha acesso. E trouxeram consigo alguns tecidos e objetos variados, a pedido de Fofuxa, pra que ela pudesse levar adiante a parte final do plano.

Foi assim que os que se encontravam na cabine de passageiros da nave, de repente, passaram a ver um monte de garotas deslumbrantes saírem, uma a uma, de dentro do toalete onde se supunha que estivessem apenas o Maluco e a Fofuxa.

Os guerrilheiros trêbados ficaram olhando um tanto vesgos e embasbacados pr'aquela verdadeira coleção de beldades, cuja simples aparição, somada aos megalitros de álcool ingeridos pelos rapazes, surtiu o efeito que era de se esperar: a taxa de testosterona dos caras, bem como certas partes móveis de seus corpos, subiu a níveis incrivelmente inimagináveis!

E era exatamente isso que o Maluco e a Fofuxa, bem como os chefes da tripulação, esperavam e queriam que acontecesse.

As garotas que saíram do toalete, na verdade, eram as comissárias-de-bordo andróides re-estilizadas pela Fofuxa, que, com uma tesoura, um pouco de cola, alguma maquiagem e imaginação, as fez ficar muito semelhantes às irresistíveis prostitutas venusianas, famosas em todo o Universo pelo seu alto poder de sedução e luxúria.

As comissárias-de-bordo formavam a comissão de frente. Não eram muitas, talvez apenas umas cinco ou seis delas. Mas eram em número suficiente pra que nenhum bêbado pudesse prestar muita atenção no restante das garotas que vinham logo atrás e que, na realidade, eram os chefes da tripulação e o Maluco igualmente travestidos de prostitutas venusianas, só que não tão convincentes pra quem estivesse sóbrio.

O bando de excitadíssimos e bebadaços guerrilheiros, assim que se refez do assombro, partiu feito uma alcateia de lobos famintos pra cima das meninas, que continuavam a rebolar e menear os corpos de modo provocante e abusado. Mas, tão logo as alcançaram, foram recebidos a golpes marciais e coronhadas e tabefes e bufetes e cascudos e safanões, sendo rapidamente dominados pelas falsas garotas e por alguns dos passageiros mais intrépidos que, encorajados pela superioridade numérica, bem como pelo estado etilicamente vulnerável dos guerrilheiros, resolveram colaborar e participar da pancadaria.

O comandante da nave, apesar da sua circunstancial aparência nada respeitável no momento, retomou o controle da situação e ordenou que imobilizassem os prisioneiros com os raios paralisantes disparados pelas armas tomadas deles próprios. Em seguida, mandou que os colocassem de volta em sua furreca espacial e desacoplassem o túnel de conexão entre as duas naves, tendo antes o cuidado de programar a furrequinha pra ir direto pro Reformatório de Bagunceiros, Guerrilheiros e Alucinados em Geral, que se encontrava numa das luas de Saturno.

Foi aí que, diante da estranha e inexplicável indecisão no acatamento das ordens recebidas, o comandante começou a desconfiar que o ciborg faxineiro era o elemento infiltrado pela guerrilha, que se recusou a colaborar. Depois de reprogramá-lo ligeiramente, conseguiu obter os dados que confirmaram ser ele o sabotador dos sistemas de segurança da nave, já que um faxineiro pode e deve ter acesso a todos os setores e recantos do veículo e ninguém desconfiaria de sua presença, fosse onde fosse ou em que momento fosse. De todo modo, o comandante decidiu neutralizá-lo e oportunamente o levaria pra ser devidamente recondicionado.

Tendo finalmente voltado a normalidade a reinar no Expresso Hiperespacial das Onze -- o Adoniran --, todos os passageiros retomaram seus assentos, a tripulação retornou a seus afazeres de praxe, a nave retomou o rumo para o seu destino, Alpha Centauri, procedeu o salto no hiperespaço e a viagem prosseguiu nos conformes.

Passada cerca de uma hora, abriu-se o biombo de privacidade visual, que estava fechado em torno dos assentos destinados ao Maluco e à Fofuxa. Mas quem saiu de lá de dentro foi o segundo copiloto, ainda envergando os restos do seu disfarce de prostituta venusiana, todo desgrenhado, com manchas de batom por toda parte e com uma expressão muito satisfeita estampada no rosto. E, lá no seu assento, Fofuxa se reclinava extremamente relaxada e contente, enquanto arrematava o fechamento do seu traje espacial ultrafashion e exalava um suspiro feliz.

E o Maluco?

Logo depois de terem conseguido derrotar e dominar os sequestradores, o herói intrépido descobriu que estava com muita sede e, distraidamente, pegou uma certa garrafinha que estava de bobeira num console ao lado da porta do toalete, contendo restos do que parecia ser inocente cerveja arcturiana, e virou o seu conteúdo de uma vez goela abaixo.

Um minuto depois, Maluco começou a ver umas coisas muito doidas no ar à sua volta e, enquanto ria beociamente e babava um pouco, passou a girar um tanto cambaleante em torno de si mesmo, a apontar incertamente pra aqui e ali, e a falar coisas estranhas e sem sentido como "Que dooooidooo, caaaaraaaa!... Mó laaaaaance, meeeu... Isso é muito... muuuito... muuuuuitooo... putz, mó dooooidooo, caaaaraaa!..."

No dia seguinte, já em casa, Maluco estava muito mal-humorado porque, além de estar numa ressaca terrível, não conseguia se lembrar de nadinha do que rolou depois de terem derrotado os sequestradores. E toda vez que tentava saber de Fofuxa o que havia acontecido no resto da viagem e lá em Alpha Centauri, ela caía numa gargalhada incontrolável e não conseguia dizer mais nada.

Ainda não havia sido desta vez que o Maluco teria conseguido se declarar apaixonado por Fofuxa. E, diante da hilaridade da moça, ele chegou a duvidar da legitimidade dos seus sentimentos por ela.

Até porque uma certa comissária-de-bordo andróide, disfarçada como uma deslumbrante prostituta venusiana, não saía mais de sua cabeça...

the end

ou c'est finished

ou, simplesmente, fim.

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 27/05/2010
Reeditado em 06/06/2010
Código do texto: T2282528
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