3001, uma odisseia no hiperespaço - humor científico - Capítulo IX

Fofuxa, que propositalmente deixara a garrafinha de cerveja arcturiana batizada com o patrulheiro guardião da porta, entrou no toalete tapando o nariz e fechou a porta atrás de si.

Uma vez lá dentro, começou a simular barulhos orgânicos suspeitíssimos, além de gemidos dolorosamente pungentes. Estava se divertindo tanto com a molecagem do subterfúgio que quase nem ouviu quando o Maluco a chamou discretamente lá por trás da grade de ventilação.

-- Ei, garota, -- ele falou num sussurro -- por um instante temi que fosse o patrulheiro que estivesse aqui dentro realmente produzindo todos esses barulhos e nojeiras, mas a ausência de cheiro condizente e algo de familiar no timbre dos gemidos me fizeram perceber que você estava só usando de um esperto e divertido subterfúgio pra engambelar o babaquara. -- ele disse, sorridente.

-- Ei, garoto, que bom ver que você tá são e salvo! -- ela disse com sinceridade sussurrante. E ambos ligaram o dispositivo de privacidade sonora pra poderem conversar com tranquilidade.

Maluco desceu do duto de ventilação e, depois de surpreendê-la com o seu visual à guerrilheiro maltrapilho, começou a colocar Fofuxa a par dos acontecimentos na cabine de comando e, em seguida, expôs o seu plano pra derrotar e dominar o resto dos guerrilheiros.

Enquanto isso, o patrulheiro lá fora já havia entornado boa parte do conteúdo da garrafinha batizada, que não demorou quase nada pra surtir o efeito esperado.

Primeiro, começou a olhar com encantado êxtase pro padrão com diminutas figuras geométricas da textura do piso do corredor da cabine de passageiros do Expresso Hiperespacial das Onze, o famoso Adoniran, enquanto sorria frouxamente e babava um pouco. Em seguida, começou a ver coisas que aparentemente flutuavam no ar à sua volta e começou a girar tropegamente, olhando ora pra cá, ora pra lá, apontando incertamente pra aqui e pra ali, rindo feito um beócio babão e falando coisas sem sentido como "ei, caaaaaara, que baraaaatoooo... esse negócio aí é muito... muuuito... muuuuuito... putz, que oooonda, meu... mó lance, saca?... mó laaaance, sacô, meu camaradinha?... olha só que... que... putz, mó lance, caaaaaraaaa..."

A esta altura, Zezé que já estava num grau respeitável de... de... o quê mesmo?, ainda assim estranhou o comportamento do seu patrulheiro cuja missão era vigiar... vigiar... vigiar alguma coisa ou alguém, fosse lá o que fosse, e comentou com um seu camarada, pondo um braço mole sobre o seu ombro cambaleante:

-- Rapá, a gente precisamos ter mais rigor na sssseleção dos nossssos quadros, morô? *hic*... Aquele carinha ali é muito fraquinho pra *hic* água que passssarinho não bebe, pra ssssuco de cevada e *hic* malte, pra tônico capilar que faz nasssssscer cabelo no labirinto, hahahahahahahaha*hic*... Olha lá, ele ficou doidão só com uma tchitchiquinha de garrafffinha de nada daquela ssscervejjjinha fffraquinha de Arcturus, óia lá... *hic*...

Foi neste ponto do monólogo de Zezé que as mais incrivelmente deliciosas garotas saíram, uma a uma, de dentro do toalete.

(continua no próximo capítulo)

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 26/05/2010
Reeditado em 06/06/2010
Código do texto: T2280349
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