3001, uma odisseia no hiperespaço - humor científico - Capítulo V

Antes que alguém pudesse obter alguma informação sobre o que causara o solavanco que perturbara o sossego no interior do Expresso Hiperespacial das Onze, mais conhecido como Adoniran, que partira como de praxe rumo a Alpha Centauri, para a estupefação de passageiros e tripulantes, a escotilha principal de embarque se abriu com um estrondo e um bando de guerrilheiros espaciais, armados até o capacete, invadiu a cabine de passageiros em franca atitude belicosa, apontando seus rifles positrônicos de ação mortífera para qualquer um que esboçasse reação ou movimento. Logo em seguida surgiu o seu líder, um sujeitinho já bastante conhecido em todo o Sistema Solar pelos seus atos e desatos de agitação política nos longínquos rincões desclassificados do Universo, em nome do proscrito PTdoB - Patrulheiros Tremendões do Barulho, o braço armado do Sistema Capitalista Selvagem.

O sujeitinho líder, de nome José Acácio Zezé da Silva, tomou a dianteira, um tanto cambaleante, e começou a falar:

-- Cumpanheros e cumpanheras, estamos aqui em nome do PTdoB pra reivindicar esta nave do opressor império democrático socialista para a nossa justa causa, que é a luta até a vitória -- aqui ele levantou o punho direito fechado -- pela libertação dos nossos cumpanheros irmãos, os Capitalistas Selvagens, que hoje se encontram cruelmente oprimidos, historicamente confinados e restringidos ao planeta Marte, passando muita necessidade e privação, sem poder atuar com liberdade em prol do livre exercício da especulação financeira e da exploração do homem pelo homem e, por que não dizer, da mulher pela mulher também...

Durante a pausa no discurso de Zezé da Silva, como ele era mais conhecido, Maluco e Fofuxa se entreolharam e, uma vez que não poderiam mover os lábios para falarem entre si, ainda que protegidos acusticamente pelo dispositivo de privacidade, porque os guerrilheiros perceberiam a conversa e certamente usariam de muita truculência para os fazer calar, resolveram se comunicar através de pequenos e imperceptíveis códigos só por eles conhecidos e que envolviam piscadelas, fungadelas, tossidelas e determinados posicionamentos da ponta da língua em certos recantos dos lábios. Deste modo, consultavam um ao outro pra decidir se deveriam esperar pelo momento mais propício pra agir no sentido de frustrar o sequestro da nave em que se encontravam. Ou o sequestro frustraria o seu programa tão esperado.

No entanto, ambos estavam apreensivos porque não compreendiam como os vários dispositivos de segurança da nave, tanto externos como internos, deixaram de funcionar todos ao mesmo tempo e de forma tão completa. Isso poderia significar que não seria nada fácil combater e dominar um inimigo que aparentava estar muito bem preparado e equipado pro seu ofício facinoroso.

-- Todo o poder para os Capitalistas Selvagens! -- assim Zezé finalizou o seu discurso, novamente erguendo o punho direito fechado.

Fofuxa e Maluco pareciam estar tendo uma espécie de ataque que disparava uma ridícula série de tiques nervosos em seus rostos. Na verdade, estavam conspirando em código. Nada poderiam fazer no momento. Teriam que esperar que os guerrilheiros se sentissem mais confiantes e, assim, começassem a relaxar o estado de alerta total em que se encontravam. Para tanto, Fofuxa e Maluco teriam que aguardar a retomada de velocidade da nave antes que esta partisse rumo a fosse lá onde fosse que aquele bando de pirados terroristas pretendesse levá-los todos, nave, eles próprios, bem como passageiros e tripulantes.

(continua no próximo capítulo)

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 21/05/2010
Reeditado em 06/06/2010
Código do texto: T2270078
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