3001, uma odisseia no hiperespaço - humor científico - Capítulo III

Uma bela andróide comissária de bordo dava as instruções de praxe.

-- Senhores passageiros do voo trêss... trêss... cin-co... sé-te..., com destino a Alpha Centauri, queiram por favor observar as instruções para o procedimento de salto no hiperespaço.

Nesta altura, Maluco e Fofuxa deixaram de ouvir as mais-que-sabidas instruções e acionaram uma tecla atrás das respectivas orelhas, que ligava a reprodução, em altíssima fidelidade, da ampla, variada e renovável seleção musical que cada um tinha gravada num microchip implantado dentro dos respectivos ouvidos.

Logo após este corriqueiro procedimento, acionaram a tecla de privacidade, que fazia com que tudo o que falassem fosse ouvido somente por eles dois, de modo a não perturbar o descanso dos outros passageiros. Examinaram o menu que aparecia na tela holográfica que compunha o forro das costas do assento em frente, pra ver a programação dos entretenimentos que estariam disponíveis logo após o salto.

Sem que qualquer passageiro ou tripulante sentisse alguma vibração ou ação da inércia, a nave já havia decolado da superfície lunar e ganhava progressivamente velocidade para que, dentro de alguns minutos, pudesse proceder o salto para o hiperespaço.

Fofuxa e Maluco estavam confortavelmente reclinados em suas poltronas autoajustantes, que acolhiam e envolviam suavemente os seus corpos numa sensação semelhante à que se tem quando se está flutuando numa piscina de geléia, protegidos pelo campo magnético de segurança que os mantinha delicadamente presos aos seus assentos. A perspectiva de um bom par de horas de viagem, entre as operações de decolagem e pouso, já que o salto em si durava apenas alguns segundos, bem como a música tranquilizante e a penumbra relaxante do ambiente, fizeram com que ambos fossem caindo num torpor sonolento.

Maluco bem que teria aproveitado o clima favorável pra se declarar finalmente à Fofuxa, mas temia o fato de que uma reação negativa da moça, logo no começo da viagem, fosse estragar o bom astral -- literalmente -- do programa festivo pro passeio.

Então, a exemplo dela, ele deixou-se escorregar com suavidade pra um bom cochilo relaxante.

Subitamente foram despertados, assim como todos a bordo, por um solavanco absolutamente anormal e inusual, como se a nave tivesse sido abalroada por algum grande meteoro ou por algum outro veículo. Ou por algum monstro alienígena totalmente desconhecido, que tivesse a capacidade de viajar pelo vácuo. Ou por algum cardume de tubarões anaeróbicos espaciais da região de Ursa Menor. Ou por algum inimaginável conjunto de air-bags canopianos gigantes, expandidos do nada no meio do vácuo. Ou por... péra aí! A nave não tem um campo de força protetor anti-impacto ou anticolisão? E por quê que essa droga não está funcionando?

(continua no próximo capítulo)

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 19/05/2010
Código do texto: T2265970
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