3001, uma odisseia no hiperespaço - humor científico - Capítulo I

O conto a seguir foi dividido em capítulos porque, no entusiasmo da escrita, quase acabei fazendo uma novela.

É uma homenagem ao genial Douglas Adams, infelizmente já falecido, autor da série "O Guia do Mochileiro das Galáxias", composta por 5 livros em que se encontra o mais delicioso humor associado à mais escrachada ficção científica.

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Capítulo I

C2.s01.a475.d02.l308B403.f05, mais conhecida entre colegas e amigos como Fofuxa, estava diante do espelho virtual 3D experimentando diversos modelos de trajes espaciais, muito mais leves e fashion que os seus obesos ancestrais, quando o seu amigo e coabitante do apartamento 403 do bloco B da localidade (ex-SQS) 308, do distrito (ex-Asa Sul) 02, da área (ex-Brasília) 475, do setor (ex-Brasil) 01, do Continente (ex-América do Sul) 2, entrou no vestiário e perguntou:

-- Vai trabalhar fora da Terra hoje?

Fofuxa, enquanto experimentava virtualmente mais um modelo ultrafashion, com corte ainda mais anatômico e leve, estampado com cometas fosforescentes que literalmente se moviam em todas as direções, entre estrelas faiscantes de vários tamanhos e volutas de brilhante poeira cósmica, respondeu distraidamente:

-- Não, hoje eu tô de folga... Tô pensando em ir a Alpha Centauri pra assistir o concerto d'As Focas Musicais de Andrômeda que tá em turnê num dos planetas do sistema, ou dançar no Gravidade Zero que tá rolando na órbita d'um outro planeta ali perto, ou passear no Parque-Museu Intergalático que fica por ali também... ou, quem sabe, comer uns acarajés antarianos na Feira Universal da Estação Orbital de Próxima... sei lá, mil coisas.

Seu amigo, C2.s01.a475.d02.l308b403.m02, mais conhecido entre colegas e amigos como Maluco, não tão distraidamente ficou observando aquela trocação de trajes virtuais da Fofuxa, com olhos cheios de intenções, da primeira à última. Principalmente a última. Pra disfarçar, resolveu perguntar alguma coisa.

-- Você vai no Expresso Hiperespacial das onze ou das catorze horas?

-- Por que? Você quer ir também?

-- É, eu tava pensando, por que não? -- ele disse, com a cara mais blasé que pôde arranjar.

-- Mas e a obra lá em Urano, não ia começar hoje?

Ele encolheu os ombros, fez uma expressão meio chateada, tentou enfiar as mãos nos bolsos, mas se lembrou tarde demais que os bolsos-em-que-se-pode-enfiar-as-mãos tinham caído em desuso há pelo menos uns quatro séculos, e respondeu:

-- Pois é, ia... mas os robôs-operários entraram em greve, sabe como é.

Ela parou um instante o que estava fazendo, olhou pra ele cheia de surpresa e perguntou:

-- Robôs em greve?! Por quê?!

-- Por melhores condições de trabalho, eles dizem... 'tão reivindicando novas juntas homocinéticas, óleos lubrificantes mais finos, baterias de melhor qualidade e duração... e períodos de folga coincidentes com os das retroescavadeiras cibernéticas, pra eles poderem levar elas pra passear, levar um lero, trocar umas ideias... sabe?

-- Ah, que fofos! -- ela exclamou ao mesmo tempo que terminou se decidindo por um modelo de traje espacial estampado com supernovas literalmente explodindo e buracos negros que engoliam tudo pra, em seguida, regurgitar -- Então, 'bora comigo pra Alpha Centauri? Dizem que lá tá bombando!

Ele aceitou prontamente. E mal pôde disfarçar o contentamento. Essa poderia ser a oportunidade que ele andava esperando pra dizer pra ela que... Ai, meu Zap, o quê que eu vou dizer pra ela? Ou melhor, como eu vou dizer pra ela que eu... Ai, meu Zip!

O tempo passou, o tempo voou, a tecnologia pro salto no hiperespaço era moleza então... mas a bobeira e a insegurança da maioria dos apaixonados continuavam as mesmas.

(continua no próximo capítulo)

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 17/05/2010
Reeditado em 23/05/2010
Código do texto: T2262463
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